US$ 7.000.000.000.000,00. Conseguiu ler? Tantos zeros confundem, mas a cifra ? 7 trilhões de dólares ou 20% do PIB de todos os países ? é o resultado de um relatório de 700 páginas apresentado no último dia 30 de outubro por Sir Nicholas Stern, assessor econômico da administração britânica e ex-economista-chefe do Banco Mundial. “Esse será o custo do aquecimento global caso as nações não tomem providências agora para diminuir a poluição mundial”, disse o cientista. Segundo ele, se a emissão na atmosfera de dióxido de carbono (CO2) ? que gera o efeito estufa ? continuar aumentando no ritmo em que está, as temperaturas globais irão subir até 5 graus Celsius em menos de 50 anos, o que irá provocar desastres ambientais por todo o mundo, tais como secas, enchentes, escassez de alimentos e pandemias como a malária. Tais cataclismos, segundo Stern, além de atingirem em cheio as nações mais pobres, gerariam uma megarrecessão global a um custo maior que o da Primeira Guerra, da Segunda Guerra e da Grande Depressão dos anos 30 juntas. Simplificando, os US$ 7 trilhões representariam uma dívida de cerca de US$ 1 mil para cada um dos 6,5 bilhões de habitantes do planeta. ?Esse desastre não está previsto para acontecer num futuro de ficção científica”, disse o primeiro ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, que encomendou o estudo. “Não estamos falando de muitos anos a frente. Isso é algo que irá ocorrer ainda enquanto estivermos vivos”, acrescentou.

 

O Relatório Stern, como vem sendo chamado o estudo, é impactante pois pela primeira vez estima o custo do aquecimento global para a economia mundial. É também um banho de água fria para o presidente dos Estados Unidos, George Bush, que se recusou, em 1997, a assinar o Protocolo de Kyoto (acordo internacional pelo qual os países desenvolvidos se comprometeram a diminuir em média 5,2% de suas emissões de gases entre 2008 e 2012, com base nos índices registrados em 1990). Para Bush, o protocolo é “irrealista”, suas metas são “arbitrárias” e colocar suas recomendações em prática abalariam a economia americana, provocando alta nos preços e desemprego. Ledo engano, segundo os números de Stern. “Não fazer nada para barrar essa catástrofe gerará custos equivalentes a 20% do PIB mundial. Em contraste, os custos para reduzir o efeito estufa não ultrapassariam 1% ao ano”, afirma o economista.

 

Pelas contas do britânico, para estabilizar a concentração de CO2 em valores aceitáveis, as emissões do gás terão de estar, em 2050, 25% abaixo dos patamares atuais, o que exigiria algo como um corte anual global de 80% nessas emissões. Um dos instrumentos para se alcançar essa meta, segundo Stern, é a criação de impostos para taxar as emissões de carbono – proposta que já recebeu críticas de setores da sociedade britânica. O economista também defende o investimento em tecnologias de geração de energia limpa e a adoção de incentivos à eficiência energética.

A realidade, entretanto, está longe disso. Apesar dos esforços internacionais, as emissões carbono cresceram em 2004 e atingiram os maiores índices desde a década de 90. A Europa, continente mais comprometido com o protocolo, diminuiu suas emissões em média apenas 0,6%. Alguns países conseguiram reduzir suas emissões de carbono, como Alemanha (-17,2%), Reino Unido (-14,3%) e Lituânia (-60%). Outros não: na Espanha, o aumento foi de 49% entre 1990 e 2004; em Portugal, de 41%. Nos EUA, que são responsáveis por 25% da emissão mundial de carbono, o aumento foi de 15,8% desde 1990. Lá, nos últimos anos, o orçamento do governo em pesquisa para o desenvolvimento de energias não poluidoras caiu 34% desde 2002, de US$ 694 milhões para US$ 460 milhões. O governo Britânico, que sempre esteve ao lado da Casa Branca, agora quer pressionar Bush. Para isso, Blair, na semana passada, nomeou o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, como consultor. O premier, com ajuda de Gore – que protagoniza o documentário A Verdade Inconveniente, sobre o efeito estufa -, quer atrair a atenção popular para o assunto e usar os contatos do ex-político para convencer estados americanos a reduzirem suas emissões. Argumentos não faltam.

OS DEZ MAIS POLUIDORES
Percentagem da emissão mundial de carbono por país:

Estados Unidos

25%

União Européia

14%*

China

13,5%

Japão

6%

Rússia

5%

Índia

4,5%

Canadá

2,5%

Brasil

2,5%

Inglaterra

2%

Indonésia

1,5%