08/10/2003 - 7:00
O Prêmio Nobel, que começou a ser anunciado semana passada em Estocolmo, na Suécia, com a láurea de literatura ao escritor sul-africano J.M. Coetzee, é um magnífico exemplo de gestão de dinheiro. Ao morrer, em 1896, Alfred Nobel deixou uma fortuna estimada, em valores atuais, a US$ 4 milhões. O químico, inventor da dinamite, registrara 350 patentes e inaugurara 20 laboratórios em todo o mundo. Em seu testamento, escrito um ano antes da sua morte, sacramentou: a riqueza deveria ser distribuída na forma de prêmios anuais nos campos da Física, Química, Medicina, Literatura e pela paz mundial. Fez uma única exigência, imposta como regra geral: o montante só deveria ser investido em aplicações de pouco risco. Deu certo. O bolo, 103 anos depois, é de US$ 317 milhões ? cresceu 80 vezes. A edição 2003 distribuirá US$ 1,3 milhão em cada modalidade. É o mesmo valor de 2002, apesar da crise mundial. Para isso, no último ano, a Fundação Nobel, fundada em 1900 e responsável pelo gerenciamento do capital, teve de obter ganhos que superassem as perdas com a inflação no período. Esse é o contínuo desafio dos administradores do pacote legado pelo generoso gênio nórdico.
No texto original do testamento, Nobel usa o termo ?investimentos seguros? para determinar os instrumentos ideais para administração dos bens. No início do século passado, aplicações seguras eram entendidas como empréstimos, hipotecas e imóveis. Assim,
durante muito tempo, foram essas as apostas preferenciais da Fundação Nobel. Mas, depois de duas guerras mundiais, o termo teve de ser interpretado de uma nova maneira. Em 1950, mediante autorização do governo sueco, a Fundação ficou livre para
investir em outros títulos, como as ações listadas em bolsas de valores. Depois da liberação dos recursos e com a ajuda da isenção fiscal obtida em 1946, os zeladores do caixa conseguiram reverter uma tendência: se tivessem errado na construção da carteira financeira, a premiação diminuiria com o passar do tempo. Não foi o que aconteceu.
A divisão do patrimônio é divulgada todos os anos pela internet. Do total, 58% está investido em ações de empresas de países amigos. Os Estados Unidos ficam com 25% da carteira. A Suécia responde por 9% dos papéis. O conjunto de outras nações européias responde por 18%. O Japão, 2%. As ações listadas em bolsa, no entanto, tiveram um péssimo ano. O retorno foi negativo, com perdas de até 33%. A salvação foi o investimento em títulos públicos. Em 2002, eles tiveram um lucro de 8,7%. A saúde financeira da Fundação Nobel acompanha os humores do mundo globalizado, e não há como escapar dessa constatação. Eis um outro mérito no cuidado com o lote milionário: a transparência. Todas as mudanças na composição do board que representa a instituição, composto de sete membros e dois cidadãos noruegueses ou suecos, são levados a público. Nada se esconde. É um belo exemplo para quem deseja administrar cofres polpudos e, ao mesmo tempo, distribuir dinheiro como filantropia.