27/11/2015 - 0:00
O caos político colocou em segundo plano a agenda econômica. É como se parlamentares e governantes não tivessem mais nada a fazer do que discutir o próprio futuro e seus caraminguás para a próxima eleição. Desempre-go recorde, inflação de dois dígitos, déficit público em escalada, recessão correndo solta, enquanto os senhores de Brasília fazem vista grossa. Perderam o norte! A pauta econômica segue paralisada. Por tempo demasiadamente longo, diga-se de passagem! Medidas de emergência, planejamento orçamentário, ajuste fiscal, reformas? Tudo irrelevante aos olhos das autoridades. Como se fossem poucos os problemas nessas áreas.
O ministro Levy, tal qual um arauto solitário, grita no deserto. Apela pela urgência das decisões. Alerta para o tsunami de consequências em curso. O risco de rebaixamento da nota de investimento ainda paira no ar do Brasil. Mas salvar a própria pele e despender tempo e esforço nos tradicionais conchavos e acertos parece bem mais atraente aos seus interlocutores. Reclama Levy: “Se não tivermos uma estratégia fiscal definida agora, estaremos contratando a recessão no ano que vem”. A mobilização no Congresso nesse sentido está próxima de zero. O teto da dívida nacional já foi estourado.
E mesmo assim o imobilismo da Presidência continua. Espantosa a ausência de um plano federal para responder aos anseios da sociedade. Poderia ao menos tomar por empréstimo sugestões como as encaminhadas recentemente pelo PMDB no seu documento “Uma ponte para o Futuro”. No ninho tucano, os oposicionistas preparam a toque de caixa uma pauta de propostas. Mas, na prática, nada ainda está em andamento. A mandatária Dilma Rousseff conduz a Nação no modo “ponto morto”. Muitos economistas alertam para a chegada da hora da verdade.
Dizem que em três meses, no máximo, o cenário – de esperança ou catástrofe – estará definido. E esse dependerá das opções e rumos que o governo tomará. O que falta para se perceber o tamanho da ameaça? Pulso, liderança, vontade de transformar. Características típicas de um estadista em extinção por aqui. Podres são os poderes daqueles que querem mandar e administrar, única e exclusivamente, em causa própria. Esquecem de prestar contas e logo seus comandados podem se rebelar.
(Nota publicada na Edição 944 da Revista Dinheiro)