Conquistou Brasília, especialmente os gabinetes ministeriais e de campanha do mandatário-candidato Bolsonaro a ideia de que a batalha pela retomada econômica teria sido finalmente vencida. Que os tempos de dificuldades passaram. Que o Brasil estaria voltando ao prumo, prestes a iniciar uma temporada de crescimento exponencial. Como que por um passe de mágica, as agruras teriam cedido lugar à bonança estrutural e irreversível. Ajudaram nessa percepção os mais recentes números divulgados sobre o PIB, que mostraram, sim, uma subida além da inicialmente prevista — mas ainda dentro de uma margem ínfima de variação, que adiciona décimos percentuais no número total. De todo modo, foi o suficiente para uma comemoração que levou o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, em um rompante de otimismo exacerbado, a dizer que o Brasil cresceria até mais do que a China, o dragão de índices cavalares de desempenho ano após ano. No Planalto, o ânimo não é diferente, mas deixa a evidente sensação de oportunismo eleitoreiro no ar, às vésperas das decisões nas urnas. As maquinações recentes, como o despejo de bilhões em reais nas emendas do relator para incrementar artificialmente a atividade, não podem ser descartadas. São o motor de arranque dessa movimentação toda, não há dúvida. Um impulso caro, temporário e que deve trazer consequências pesadas lá adiante. Alguém vai pagar a conta pela gambiarra. Figurativamente falando, imagine um ônibus lotado cujo motor deu pau no meio da viagem e uma oficina de beira de estrada fez um rearranjo (cobrando os tubos) para que o motorista concluísse a jornada. O veículo não ficou em ponto de bala. Muito ao contrário. Provavelmente, outras peças vão sair danificadas do ajuste meia boca. Mas deu para o gasto. O problema é o condutor imaginar que terá vida fácil logo adiante. Nada mais enganoso. Infelizmente parece ser esse o sentimento que predomina nos escritórios do poder em Brasília. Os passageiros que irão pagar o bilhete a crédito ainda não sabem que a conta sairá mais alta. O motorista vai empurrar a despesa no rateio dos que contrataram o transporte. De todo modo, é bom que se diga, existe uma espécie de território neutro de lucidez que prevalece dentre as autoridades que podem resolver o problema. No Banco Central, por exemplo, com uma independência administrativa que retira dele o compromisso atávico de agradar ao chefe de governo, o titular Roberto Campos Neto tem sido uma voz a alertar sobre a longa batalha ainda pela frente. Ele diz que é “inconsistente” qualquer projeção de alívio nesse momento quando os indicadores monetários ainda estão extremamente voláteis — caso do câmbio e da inflação — que reforçam a tendência inevitável de manter os juros altos como antídoto. Para ele, não há nem perspectiva, nem prazo para rever a trajetória adotada até aqui. A questão que foge ao radar de Campos Neto, até porque não é do seu interesse direto — ainda bem! — é o fato de a economia ser o balizador para a vitória ou derrota do candidato da situação. Como sempre, os resultados de crescimento, bem como os de emprego e de investimentos vão pesar bastante no momento em que o eleitor fizer a sua escolha. Bolsonaro e a trupe sabem disso e, mesmo que seja na base do jeitinho, buscarão apresentar estimativas bem mais promissoras que as reais. Precisam chegar ao ponto final do ônibus.

Carlos José Marques
Diretor editorial