30/12/2009 - 8:00
“Governar é abrir estradas.” O mote de campanha do ex-presidente Washington Luís (1926- 1930) continua – mais do que nunca – atual, porém já não é mais suficiente para ganhar uma eleição. Hoje, para garantir a maioria dos votos é preciso investir boa parte do orçamento em publicidade, alavancar os investimentos em construção civil, tapar buracos e, se possível, adotar políticas econômicas menos restritivas.
Em todo período eleitoral há um falso otimismo no ar, causado pelo efeito dominó “investimento-emprego-consumo”. Uma pesquisa recente, realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, revela que 47,8% dos entrevistados vão consumir um pouco mais em 2010, ano de eleições majoritárias. “Não interessa a época ou a origem ideológica do partido: todos os governos aumentam os investimentos em ano de eleição. Faz parte do jogo eleitoral”, afirma Fábio Pina, economista da Fecomercio.
De fato, em ano eleitoral, o jogo é sempre o mesmo: o cidadão vai às urnas, e as empreiteiras, às obras. Operações “tapa-buraco”, por exemplo, costumam se multiplicar pelas cidades. Estudo feito por técnicos da Petrobras constatou que o consumo de asfalto em anos eleitorais costuma aumentar, em média, 20% – em 2010 a produção de asfalto deve bater um recorde histórico, chegando a 2,3 milhões de toneladas.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfalto (Abeda), a demanda pelo produto é tão grande que a Petrobras tem importado asfalto para atender o mercado brasileiro, principalmente em cidades do Nordeste. “A Petrobras tem condições globais de atender o mercado brasileiro, mas algumas refinarias estão no limite de sua produção”, afirma Eder Viana, presidente da Abeda.
O setor gráfico é outro que costuma multiplicar a produção em tempos eleitorais. Sua força é tamanha que nem a nova lei eleitoral, que entrou em vigor em 1997 e proíbe a veiculação de propaganda política de qualquer natureza em bens públicos ou de uso comum, foi capaz de diminuir o faturamento da indústria gráfica – o setor deve crescer entre 10% e 15 % em 2010.
“Não temos do que reclamar. Mesmo com a nova lei eleitoral e o fortalecimento da campanha digital, que diminui o uso de papel, eleição continua sendo sinônimo de lucro para o nosso setor”, afirma Fábio Arruda, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf ).
Além do aquecimento normal da economia, por conta das eleições do ano que vem, há também um ingrediente político importante em 2010, que deve mexer diretamente com o consumo: o governo Lula terá a obrigação de crescer a taxas quase chinesas para sustentar a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência.
Esse raciocínio é parte de uma tese defendida por Geraldo Biasoto Jr., diretor da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap). Quanto mais frágil a candidatura de Dilma, maior a necessidade do governo Lula de garantir um PIB nas alturas – setores do PT já falam em 7% de crescimento do PIB em 2010.
Do outro lado do palanque, José Serra ainda não oficializou sua candidatura à Presidência. O anúncio só será feito depois que ele inaugurar o trecho sul do Rodoanel. A ordem, portanto, é gastar, de olho no eleitor. O ajuste fiscal que fique para 2011.