Olá, pessoal! Tudo bem? Desde o começo da pandemia, eu tenho alertado para os efeitos econômicos do combate ao novo coronavírus. Sem, em nenhum momento, minimizar as vidas perdidas para essa terrível doença, venho salientando que a grave recessão econômica também vai causar uma quantidade enorme de vítimas fatais. A diferença é que as autoridades conseguem, no mundo inteiro, contabilizar as vítimas da covid-19, mas o mesmo trabalho não é efeito nas periferias, onde o sofrimento e o desespero são silenciosos e as mortes, “invisíveis”.

Passados quase três meses de quarentena voluntária, o Brasil evitou milhares de mortes, sim, embora não tenha conseguido achatar a curva com a mesma eficiência observada em outros países. Espanha, Portugal e Argentina são apenas alguns exemplos latinos. O que eles fizeram de diferente? Lockdown, ou seja, uma quarentena obrigatória, com punição (multa e até prisão) para quem não respeitasse. A vantagem do lockdown foi dar um choque rápido na pandemia, possibilitando uma posterior reabertura econômica.

Como não adianta ficar lamentando o que já passou, vamos analisar o que está acontecendo no Brasil. Vários Estados estão reabrindo a economia, mesmo sem um quadro perfeito em termos de combate à pandemia. A explicação é simples: a população, sem renda, não aguenta mais ficar em casa e, portanto, passa a não respeitar a quarentena voluntária. Agora, lamento informar, não dá mais para adotar o lockdown. O momento adequado era no começo da pandemia, quando a renda das pessoas ainda não havia despencado.

Apesar de números ainda preocupantes da doença, não há mais como adiar a reabertura em várias cidades – tudo deve ser feito com rigorosos protocolos, é claro. Isso porque a economia está matando assim como o coronavírus. A economia mata por meio da pobreza, da miséria, da fome e de todas as doenças desencadeadas pela falta de saneamento básico e higiene. O auxílio emergencial de R$ 600 ajuda, mas está longe de resolver todos os problemas sociais. A covid-19 vem se mostrando mais cruel em pacientes que, independentemente da idade, possuem um sistema imunológico mais frágil – seja por doenças preexistentes, obesidade ou desnutrição.

Além disso, as doenças mentais causadas por uma interminável quarentena tendem a explodir. Depressão e suicídio são consequências inexoráveis. Outro efeito dramático é o aumento da violência doméstica. Em casa que falta pão, todo mundo grita e apanha, sem ter a quem pedir socorro (o ditado original é mais suave).

Há ainda um efeito muito perigoso que, sinceramente, eu espero que não ocorra no Brasil. Trata-se do aumento da violência urbana. Historicamente, em países mais pobres, os crimes tendem a crescer em momentos de crise econômica. E se houver uma depressão econômica no Brasil? Meu cenário é de uma retração do Produto Interno Bruto de 6%, mas já há no mercado previsões mais pessimistas, que ultrapassam os 10% de queda.

O problema da depressão econômica é que, além do tombo enorme, ela se caracteriza por uma lenta recuperação. Com isso, a renda da população é esmagada e os efeitos sociais são trágicos. O risco é de que um caos social se transforme em uma onda de violência urbana, com saques, repressão policial e mortes. Não é o meu cenário principal, mas precisamos ficar atentos.

É hora de encerrarmos os debates infrutíferos sobre qual deve ser a prioridade: saúde ou economia. Precisamos cuidar dos dois temas simultaneamente e com muito afinco. No mundo inteiro, o novo coronavírus já matou mais de 400 mil pessoas. Uma tragédia humanitária! Se a economia não sair da UTI, as mortes decorrentes da recessão serão ainda maiores, na casa dos milhões. Não é difícil imaginar que as vítimas estarão principalmente nas periferias dos países mais pobres. Sim, a economia também mata!