Mês passado, nesta minha coluna, comentava sobre o impacto, no médio e no longo prazo, que as novas interações da Inteligência Artificial podem causar no mundo do trabalho – em especial no ambiente corporativo. Concluía ponderando que tal fenômeno exigirá, inevitavelmente, um reposicionamento sobre as propostas educacionais em todos os âmbitos da sociedade. Dada a importância e urgência dessa temática que, a cada dia, suscita novas e crescentes preocupações, gostaria de dar continuidade à reflexão, focando agora no território da educação em negócios, setor que deve sofrer grandes transformações de forma mais imediata.

Atuando como professor de “Ética e Literatura” numa das mais prestigiadas escolas de negócios do País – parceira de uma instituição internacional ranqueada como uma das top 5 em âmbito mundial –, tenho acompanhado interessantes e profundas discussões que a novidade vem suscitando, levando a sérios questionamentos sobre abordagens metodológicas e estrutura curricular dos programas que tradicionalmente vem sendo oferecidos por esse tipo de instituição.

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Com a participação cada vez mais intensa e eficaz da IA no processo de organização de dados, resolução de problemas e tomada de decisões, o que restará ao elemento humano que não poderia ser melhor executado pelos sistemas eletrônicos? E, como consequência disto, o que então caberia se ensinar numa escola de negócios? Fará sentido ensinar qualquer outra coisa senão a pura operação de aplicativos e procedimentos interativos com programas?

Talvez ainda seja cedo para desenhar qualquer cenário mais concreto. Entretanto, todo esse contexto, em minha visão, catalisa um processo que já estava em andamento e que nas atuais circunstâncias deve se radicalizar. Cada dia fica mais claro que, numa perspectiva pautada pelo ESG, o foco da formação em negócios deve se centrar essencialmente na temática do humano. Ou seja, inevitavelmente, os programas e currículos das escolas de negócio tenderão a valorizar uma abordagem humanística, que privilegiem o conhecimento do humano, em vista da gestão humanizada.

Assumindo uma postura pioneira e vanguardista, o ISE Business School, em parceria com o Centro de Extensão Universitária – instituição em que atuo – acaba de criar um Centro de Estudos de Humanidades e Desenvolvimento Integral (CEHDI), núcleo de pesquisa voltado à investigação do papel das Humanidades enquanto meio de formação humanística em negócios. Tal iniciativa decorre da percepção e compreensão que, cada vez mais, o gestor da área de negócios deve ser, antes de tudo, um especialista em humanidade.

Privilegiando a formação humanística enquanto meio de conhecimento do humano e de promoção do autoconhecimento, o ISE dá um passo importantíssimo, ao abrir novos caminhos na perspectiva educacional, não apenas no âmbito da gestão em negócios, mas para a educação da pessoa humana nos novos tempos; uma aposta no protagonismo da sensibilidade e da inteligência humana numa era onde a inteligência artificial tende a ocupar um espaço cada vez maior.

Felizmente, a iniciativa do ISE Business School não é um caso isolado, ainda que inédito no País. No cenário internacional, já se percebe um movimento extremamente criativo e fecundo, de revitalização das chamadas “liberal arts” em vários setores do universo educacional. Tal como ocorreu nas duas últimas décadas em que a área da saúde, fortemente marcada pelas inovações científicas e tecnológicas, alavancou a discussão sobre a humanização, hoje assistimos à revitalização sobre o papel das Humanidades enquanto elemento essencial da formação dos novos líderes e gestores na área de negócios.

Se, por um lado, a invasão da Inteligência Artificial provoca dúvidas e temores em relação ao futuro, por outro, a revalorização das Humanidades em diversas áreas da educação, se não significa necessariamente uma “salvação”, apresenta-se, pelo menos, como sinal de esperança. Sinal de que não caminhamos para um mundo dominado pela “Matrix”, se assim não quisermos.