DINHEIRO ? A Eldorado começa a operar em um cenário macroeconômico de incertezas, marcado pela desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil, e pela continuidade da recessão na Europa. Qual é a sua expectativa para 2013? 

JOSÉ CARLOS GRUBISICH ? Nossa visão, que também é compartilhada por inúmeros analistas, indica que teremos o ano de 2013, e provavelmente boa parte de 2014, com o mercado de celulose aquecido. Isso porque, desde 2009, não se inaugura uma grande fábrica no mundo. Nesse período, a demanda aumentou e não foi adicionada oferta suficiente para fazer frente a esse crescimento. Acredito que a demanda por celulose deverá crescer, no médio prazo, na faixa entre um milhão e 1,5 milhão de toneladas por ano. Diferentemente do que acontece com boa parte dos setores industriais, que são puxados pelo PIB, a compra de celulose avança baseada em fatores como a migração das pessoas do campo para a cidade e o aumento da renda disponível nos países emergentes.

 

DINHEIRO ? E em quais países o sr. aposta?

GRUBISICH ? A lista inclui o Brasil, a China e a Turquia, além das nações do Sudeste Asiático com grandes contingentes populacionais, como a Indonésia e a Coreia do Sul. Nelas, o grande eixo de crescimento do consumo de celulose é a indústria de papéis para fins sanitários: papel higiênico, lenços e guardanapo. 

 

DINHEIRO ? A empresa nasce com a expectativa de triplicar sua produção até 2020. Parte dos recursos sairá da geração de caixa da companhia?

GRUBISICH ? Sem dúvida. Nossa previsão é fechar o primeiro ano com faturamento de R$ 2 bilhões. Isso permitirá gerar recursos suficientes para amortizar a dívida e viabilizar os investimentos já definidos. Queremos terminar a década como um dos líderes mundiais do setor, com uma capacidade de produção em torno de cinco milhões de toneladas por ano. 

 

DINHEIRO ? Para atingir esse patamar é preciso ter uma carteira garantida de clientes. A Eldorado já tem embarques programados para os próximos meses? 

GRUBISICH ? Antes mesmo de inaugurarmos a fábrica já estamos nos movimentando fortemente. Optamos por um modelo de operação inovador em todos os sentidos. Em vez de nomear representantes, abrimos escritórios comerciais próprios em mercados-chave como Estados Unidos, Europa e Ásia. Além disso, estamos trabalhando diretamente com os clientes finais de celulose para estabelecer contratos de venda de longo prazo. Nosso foco são os grandes fabricantes globais de produtos de consumo que estão em fase de expansão. 

 

DINHEIRO ? O mercado interno não faz parte dos planos da Eldorado?

GRUBISICH ? Já estamos atendendo empresas brasileiras com a celulose produzida durante a fase experimental da fábrica e, até o fim de 2012, deveremos fazer nossa primeira exportação para a Ásia e os Estados Unidos. Nossa meta é vender 50% da produção na Ásia, 35% na Europa e o restante nas Américas, incluindo o Brasil.

 

DINHEIRO ? Outros competidores locais também estão investindo fortemente. O sr. está preparado para enfrentá-los? 

GRUBISICH ? A entrada em operação de novas unidades terá um efeito direto sobre fabricantes de pequeno porte situados na Ásia, especialmente na China, que atuam em pequena escala, com tecnologia ultrapassada e usando matérias-primas menos nobres, como palha de arroz e outras sobras agrícolas. O mesmo vale para empresas europeias modernas, mas cujo custo de operação é elevado. 

 

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Vista noturna da fábrica de celulose da Eldorado, em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul

 

DINHEIRO ? E de quais estratégias a empresa dispõe para vencer as competidoras que estão há mais tempo no mercado?

GRUBISICH ? Contamos com algumas vantagens competitivas como o baixo custo de produção no Brasil. Possuímos a fábrica mais moderna do mundo e com a maior escala de produção, com equipamentos de última geração, o que faz com que nosso custo fixo seja o mais barato do setor, em termos globais. 

 

DINHEIRO ? E como é possível mensurar isso, pelo custo de produção?

GRUBISICH ? Somos autossuficientes em energia. Nossa fábrica é a que mais gera energia no mundo por tonelada de celulose produzida, utilizando-se de biomassa. Serão 220 megawatts por hora, suficientes para abastecer uma cidade como Curitiba. Muitas empresas, inclusive no Brasil, não possuem esse nível de eficiência e de integração energética. 

 

DINHEIRO ? Mas o fato de a empresa não dispor de florestas plantadas em terras próprias, para suprir sua demanda, não pode colocar em risco suas ambições? 

GRUBISICH ? Como entramos nesse segmento depois dos grandes, adotamos um modelo diferenciado de atuação. A começar pelas parcerias com os donos de terras da região de Três Lagoas, em contratos de arrendamento que variam entre 14 anos e 28 anos. Com isso, reduzimos o custo da terra no ciclo do negócio e criamos um vínculo com a comunidade, ao incluir o produtor rural em nossa cadeia de valor. Mas é bom que fique claro que todo o ciclo de produção do eucalipto é gerido pela Eldorado. 

 

DINHEIRO ? A empresa vai operar em uma região na qual duas grandes competidoras, a Fibria e a International Paper, atuam. O sr. pensa em desenvolver projetos conjuntos com eles?

GRUBISICH ? No negócio da biomassa, a diferenciação está no custo de produção. E, para isso, precisamos de tecnologia. Vamos trabalhar no desenvolvimento de mudas melhores em parceria somente com universidades do Brasil e do Exterior. 

 

DINHEIRO ? A Eldorado tem planos para abrir o capital na bolsa?

GRUBISICH ? Estamos na fase de preparar o terreno e avaliamos todas as hipóteses para levantar os recursos necessários para tocar nossos planos de expansão. Só posso dizer que a abertura de capital está em nosso radar. Nossa estrutura de gestão, contabilidade e o fluxo de informações com os controladores está estruturada da mesma forma que o das empresas de capital aberto. Se houver uma oportunidade de mercado, vamos lançar ações. 

 

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Plantação de eucaliptos para produção de celulose

 

DINHEIRO ? A empresa possui como acionistas, além da J&F, os fundos de pensão dos funcionários da Petrobras e da Caixa Econômica Federal. Isso facilita a obtenção de recursos no mercado? 

GRUBISICH ? Trata-se de três acionistas comprometidos com o negócio e com sua estratégia de crescimento. E isso mostra que a Eldorado tem bala na agulha e capacidade para crescer.

 

DINHEIRO ? O seu discurso em relação ao futuro da Eldorado leva em conta a retomada do crescimento no Brasil? 

GRUBISICH ? Sou uma pessoa otimista em relação ao processo de crescimento do País. As medidas tomadas ao longo de 2012, como a redução da taxa de juros e do spread bancário, além dos incentivos tributários e fiscais concedidos a diversos setores industriais, devem começar a mostrar frutos e impactos positivos partir de 2013. 

 

DINHEIRO ? No cenário traçado pelo sr., qual seria a taxa de crescimento do PIB para 2013?

GRUBISICH ? Fecho com aqueles que acreditam que é possível avançar acima de 3%. Todo mundo ficou surpreso com a taxa do terceiro trimestre e os possíveis impactos no trimestre atual, mas entendo que teremos uma retomada na curva ascendente do crescimento em 2013. 

 

DINHEIRO ? E qual o efeito disso sobre o desempenho da empresa?

GRUBISICH ? Começaremos a produzir com capacidade total em uma época na qual a economia americana mostra sinais de reaquecimento. Na China, passados os efeitos da transição política, a expectativa é de retomada de crescimento. O único senão é a Europa, que deverá seguir andando de lado. Uma das vantagens da Eldorado foi ter investido em um período de baixa. Com isso, não tivemos dificuldades para comprar equipamentos e contratar fornecedores por valores competitivos. Agora, entramos em operação em uma fase na qual a cotação da celulose está subindo e o câmbio está mais favorável para os exportadores brasileiros. 

 

DINHEIRO ? E como esse ganho se materializou, na prática?

GRUBISICH ? No geral, posso dizer que a economia na parte industrial foi de R$ 400 milhões em relação ao montante previsto no início do projeto, em 2008.

 

DINHEIRO ? Por que a empresa escolheu o dia 12 de dezembro de 2012 para a inauguração da fábrica? Teve alguma motivação cabalística?

GRUBISICH ? Na verdade, não. A data inicial era o dia 13, mas acabamos tendo de antecipar por conta da agenda de alguns convidados. 

 

DINHEIRO ? O sr. ficou com medo do dia 13, considerado por muitas pessoas como uma data que traz má sorte?

GRUBISICH ? Isso não passou pela nossa cabeça. Até porque minha crença é de que quanto mais trabalharmos mais sorte nós teremos.