Se você pensa em comprar uma bolsa de alguns milhares de euros somente para ganhar status entre seus amigos, a Bottega Veneta não é a grife certa. Com a filosofia “as suas próprias iniciais são o suficiente”, a marca italiana, famosa por seus acessórios de couro, preza pela elegância discreta, com seu nome gravado por extenso apenas no interior de suas peças. “Nossos consumidores não fazem aquisições para se gabar para outras pessoas”, afirma Marco Bizzarri, CEO da Bottega Veneta, a inimiga número 1 do consumo conspícuo, baseado na ostentação, no mundo do luxo. “Eles procuram qualidade e tradição.” 

 

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Arigatô: do alto de seus quase dois metros de altura,

Marco Bizzarri, CEO da Bottega Veneta,

diz que o Japão é sua mina de ouro:

“Eles formam o mercado mais evoluído

quando se trata de luxo.”

 

Para ter sucesso comercial nesse nicho, conta o italiano, que esteve em São Paulo, em dezembro, é necessário investir em mercados de luxo maduros, onde a maior parte dos super-ricos segue essa linha de consumo, na contramão do gosto duvidoso dos emergentes. “Vivemos o tempo do luxo mais discreto, em busca da experiência e não da ostentação”, diz Silvio Passarelli, diretor de gestão de luxo, da Faap. “Marcas como Prada e Louis Vuitton também deixaram suas logomarcas menos chamativas por esse motivo.” É o caso, por exemplo, do Japão, a grande aposta da grife fundada na cidade de Vicenza, na região do Vêneto, em 1966. Só no país do sol nascente, a grife opera 50 de suas 200 lojas no mundo. 

 

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Dois pés no Brasil: a loja da marca no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, é a segunda no País,

que sedia as duas únicas da América do Sul

 

“Não é à toa que os japoneses são os nossos maiores consumidores”, diz Bizzarri. “Eles formam o mercado mais evoluído quando se trata de luxo.” Com um faturamento anual acima de € 500 milhões, a estratégia de negócio da Bottega Veneta tem dado resultado. Tanto é que a marca, adquirida em 2001 pelo francês PPR Group, obteve em 2012 um crescimento acima dos 30%. Mas e os mercados emergentes? Os novos-ricos não entram na mira da Bottega? Não é bem assim. No Brasil a marca tem duas lojas próprias, em São Paulo – as únicas em toda a América do Sul –, mas não há planos de expansão no horizonte próximo. “Queremos trabalhar bem elas antes de pensar no futuro”, diz Bizzarri, um gigante de quase dois metros de altura, que já comandou a marca da estilista britânica Stella McCartney. 

 

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Marca pessoal: os produtos da maison italiana

são reconhecidos pelo trabalho de entrelaçar as tiras

de couro. Nada de logomarcas ostensivas

 

Diversificar, não só na escolha de onde investir, também faz parte da filosofia da grife italiana. A Bottega Veneta produz não apenas bolsas com o seu tradicional couro trançado – o chamado “intrecciato”, que corresponde a 80% das vendas –, mas também sapatos, óculos, perfumes, joias e até móveis. A estratégia é expandir para outros segmentos o mesmo prestígio construído no mundo da moda. Para Bizzarri, a discrição implantada pelos fundadores, Vittorio e Laura Moltedo, é a chave do sucesso. “Eles pensaram nesse conceito antes de todo mundo. Hoje pode parecer normal, mas nos anos 1960 isso foi uma sacada brilhante”, diz o CEO.