Foi-se o tempo em que os investidores internacionais temiam as eleições no Brasil. As fugas de capitais e a disparada do risco-país e do dólar, que marcaram a sucessão presidencial até 2002, ficaram para trás. A duas semanas do pleito que irá decidir entre Dilma Rousseff e José Serra para comandar a Nação pelos próximos quatro anos, os gestores do capital estrangeiro dão de ombros. 

 

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Na quinta-feira 14, o dólar caiu abaixo de R$ 1,66 e o risco Brasil medido pelo JP Morgan chegou a 180 pontos-base, próximo ao recorde de baixa de 167 pontos, de abril passado. Melhor cenário, impossível. Será?

 

Não é bem assim. Uma leitura rápida dessa calmaria sugere que, aos olhos dos estrangeiros que investem e fazem negócios no Brasil, tanto faz se Dilma ou Serra receberem a faixa presidencial de Lula da Silva em janeiro de 2011. 

 

Do ponto de vista macroeconômico, é verdade. “Esta eleição é um não evento”, define Patrice Etlin, diretor do fundo Advent International.  Nenhum dos dois candidatos é visto como uma ameaça aos pilares da estabilidade econômica (câmbio flutuante, regime de metas para a inflação e responsabilidade fiscal). 

 

É tanta confiança que o dólar atingiu o menor nível dos últimos dois anos na semana passada, quando novas pesquisas de intenção de voto mostraram que a vantagem de Dilma sobre Serra diminuiu. 

 

Para os otimistas, isso é um sinal de que o Brasil atingiu um status de País estável, com uma democracia sólida e uma economia pujante. É verdade. Os céticos diriam que a queda do dólar é uma tendência internacional. 

 

Também é verdade, mas isto não anula o lado bom da história: com Dilma ou com Serra, o Brasil continuará atraindo investimentos pesados nos próximos anos, pois tem um mercado consumidor interno em ascensão e é uma das regiões que mais se desenvolvem no mundo. 

 

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Christopher Garman: ”Juros reais mais baixos são necessários para o crescimento”

 

Na visão dos investidores estrangeiros, muitas vezes estreita, o cenário poderia melhorar ainda mais, conforme a gestão das contas públicas. Mas o fato é que a política fiscal anticíclica, colocada em prática durante a crise, foi crucial para manter  o mercado interno aquecido. 

 

O ponto em que todos concordam é a necessidade de acelerar a queda dos juros reais no Brasil, que estão seis pontos acima da inflação. “Juros mais baixos são necessários para garantir o crescimento sustentado”, diz Christopher Garman, diretor da consultoria Eurasia Group, especializada em riscos políticos. 

 

De acordo com ele, uma redução dos gastos públicos diminuiria a necessidade de financiamento oficial no mercado e abriria espaço para a queda dos juros. “O cerne da questão é a política fiscal. 

 

A dúvida é se o próximo governo poderá reduzir a expansão dos gastos, de forma a tirar a pressão da política monetária”, explica Garman. Conter o crescimento dos gastos correntes foi apontado pelo FMI como um dos desafios para o Brasil há duas semanas, em Washington, na reunião anual com o Banco Mundial. 

 

Esse debate interessa aos investidores financeiros, que aproveitam o diferencial de juros – a taxa básica do Banco Central está em 10,75% ao ano, comparada a quase zero nos Estados Unidos e no Japão – para aplicar em papéis brasileiros. Por isso, eles acompanham com atenção as mudanças estruturais que podem ajudar o governo a gastar mais ou menos.

 

Projetos de reforma tributária, limite de crescimento anual das despesas com salários de servidores e reforma da previdência, entre outros (veja quadro), foram enviados pelo governo Lula ao Congresso e devem ser defendidos por Dilma, esperam grandes gestores de recursos. 

 

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“Presumo que Dilma daria continuidade às reformas de Lula”, disse à DINHEIRO Daniel D’Aniello, fundador do poderoso Carlyle Group. E, se Serra virar o jogo, como ficam as reformas? “Não conheço sua plataforma em profundidade para dar uma opinião honesta sobre isso”, responde D’Aniello. 

 

Como participou de evento da BM&FBovespa em Nova York, em maio deste ano, a ex-ministra da Casa Civil conversou com investidores estrangeiros. O candidato do PSDB não aceitou os convites da bolsa e dos empresários. 

 

“Nós o convidamos, mas ele não veio”, lamenta o diretor-executivo da Brazilian American Chamber of Commerce, Roberto David de Azevedo. Mesmo assim, o desfecho das eleições brasileiras não é motivo de grandes preocupações no Exterior – e isso é bom.

Enviado especial a Washington (EUA)