26/08/2009 - 7:00
“Atuamos da mesma maneira em todos os setores: importamos o que as empresas precisam”
André Cutait, um dos controladores da M. Cassab
Imagine uma empresa que atue com sucesso há anos em negócios completamente antagônicos. Enquanto vende insumos para a fabricação de ração animal, a mesma companhia formula misturas de vitaminas e minerais para fabricantes de alimentos e bebidas. Importa produtos químicos básicos para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos, ao mesmo tempo que traz para o Brasil os brinquedos Lego. Também é dona de um dos maiores catálogos de utensílios domésticos e conta com lojas próprias para vendê-los, a Spicy.
Pois bem, você acaba de ser apresentado à M. Cassab, uma empresa tão diversificada quanto desconhecida do grande público. Seus controladores, a família Cutait, cultivam a discrição com o mesmo afinco com que promovem o crescimento dessa organização de mil faces. Um peculiar modelo de gestão contraria boa parte das regras estabelecidas nos manuais clássicos de administração. Por exemplo: os familiares estão à frente de todos os negócios.
Mais: a companhia atua nos mais diversos setores da economia, numa diversificação que parece fora de moda. No total, são 12 diferentes divisões, que incluem até uma trading para os clientes e uma área para investimentos imobiliários. Nada impede, porém, que as receitas cresçam 30% anualmente, desde 1998. O faturamento anual da corporação é estimado em cerca de R$ 850 milhões (a empresa não confirma nem desmente o número). São mais de 300 fornecedores no mundo, dos quais são representantes exclusivos no Brasil.
O segredo para controlar tantas rédeas apontadas para lados opostos é focar na venda de novidades. “No fundo, atuamos da mesma maneira em todos os setores: importamos para cá o que é tendência lá fora e o que as indústrias daqui precisam”, explica André Cutait, um dos quatro irmãos da família fundadora da gigante de importação, numa rara exposição de um dirigente da M. Cassab. A história da M. Cassab começa em 1928, quando Mansur Cassab e seu pai deixaram o Líbano para tentar a vida no Brasil.
Adquiriram uma pequena fazenda na região de Bebedouro, no interior paulista, para cultivar e exportar café, açúcar e arroz. As primeiras importações começaram na década de 60, quando a empresa foi assumida por Fábio Cutait, cunhado de Mansur. Hoje na terceira geração, o comando da companhia é dividido entre seus quatro filhos. André dirige a área de utensílios domésticos, brinquedos e as lojas Spicy. Seus irmãos mais velhos, Mario Sergio e Victor, cuidam das divisões de tecnologia animal e química, respectivamente.
A caçula, Angela, ajuda nas lojas de varejo e seu marido, Alexandre Vasto Jr., administra os novos negócios, como a marca própria de cosméticos que a empresa exporta desde 2006, a Nunaat. “Sempre estamos dispostos a agregar aos nossos negócios outro ramo promissor”, comenta André. Por isso, a empresa recebe propostas para atuar nas mais diferentes áreas de negócios.
Cerca de dez projetos por ano chegam às mãos dos Cutait, vindos de técnicos ou investidores de dentro e fora do País. Todos são levados para discussão em família. Dos dez, ao menos um sai do papel por ano. O mais recente deles terá início em agosto de 2010, em uma fazenda no interior paulista. Tratase de uma criação de peixes. “Já oferecemos ração para os peixes e vimos um potencial de vendas imenso no Brasil”, afirma André.
O grupo M. Cassab cresce a taxas de 30% ao ano desde 1998. E pretende manter ritmo semelhante com novos produtos para a Lego e abertura de sete lojas da Spicy neste ano
Neste ano, em que investimentos foram freados pela maioria das empresas, a importadora decidiu ampliar o número de lojas Spicy de 23 para 30 unidades até dezembro. “Não abríamos novos endereços há dois anos e essa era a hora de investir”, diz André. Outra regra da companhia é trazer sempre 300 produtos de utilidade doméstica por ano, independentemente da situação econômica do País. Em épocas de recessão, a única cautela é escolher itens mais baratos.
Com isso, a empresa abastece os estoques de grandes lojas, como FastShop, Camicado, Doural, Americanas. com. e da própria Spicy. Mas o maior desafio para a M. Cassab entrou em pauta nos últimos tempos: a sucessão familiar. A quarta geração do clã possui 11 herdeiros, dos quais o mais velho tem 24 anos. Nos próximos anos, eles assumirão cargos na gestão do grupo. Para evitar as desavenças comuns nesses processos de sucessão, os Cutait criaram o que chamam de Family Office. O principal objetivo é separar os negócios da vida pessoal dos familiares.
A divisão é composta por comitês de diversos assuntos, alguns deles curiosos. O de lazer, por exemplo, tem a missão de selecionar atividades para o tempo livre dos membros da família, como shows, teatro e jantares. Já o comitê de encontros organiza viagens anuais conjuntas, enquanto o comitê filosófico discute a visão e os valores do grupo.
De todos, o mais importante é o que impõe regras para herdeiros. Algumas já estão definidas. Para chegar ao topo, os futuros sócios terão de trabalhar em outras empresas. “É preciso entender o legado para entender a herança. Essa iniciativa dos Cutait é essencial em termos de sucessão familiar”, comenta Renato Bernhoeft, da consultoria societária Höft.