10/09/2010 - 6:00
No final de 1996, o americano Reed Hastings, de 50 anos, ficou irado ao descobrir que teria de desembolsar US$ 40 para pagar a multa de atraso na devolução de uma fita de vídeo em Los Gatos, na Califórnia (EUA).
Na época, ele resolveu transformar a raiva em um negócio e criou a Netflix ? empresa que nasceu para concorrer com as locadoras de vídeo tradicionais. Hoje, ela movimenta US$ 2,1 bilhões por ano e é apontada como a responsável por ter jogado a Blockbuster na lona.
A outrora toda-poderosa vive seu pior momento. Está com dificuldades de rolar uma dívida de cerca de US$ 1 bilhão e seus dirigentes já consideram a hipótese de pedir concordata ou até a falência.
E como a Netflix fez isso? Ao contrário das rivais, ela jamais usou a cobrança de multas por atraso, por exemplo, como uma fonte receita. Só para se ter uma idéia, em 2001, essa rubrica garantiu US$ 832 milhões à Blockbuster ou 16% de seu faturamento naquele ano.
Já o modelo de negócio da Netflix sempre privilegiou o ponto de vista do consumidor ? ou recebe o vídeo por correio ou baixa via internet. ?Estamos conquistando mais de um milhão de clientes a cada trimestre, desde o começo de 2009?, contou Reed Hastings, CEO e co-fundador da Netflix, durante recente encontro com analistas de Wall Street.
Mas, a empresa se sente responsável pela derrocada da Blockbuster? Steve Swasey, vice-presidente da Netflix, responde de forma irônica: ?Seria inapropriado falar sobre a Blockbuster. Contudo, nós mudamos o jeito com que os filmes eram oferecidos aos americanos?, diz ele à DINHEIRO.
Hastings, CEO: “Desde 2009, conquistamos mais de 1 milhão de clientes a cada trimestre”
O modo como essa indústria foi revolucionada é baseado na conveniência do cliente. Ou seja, não é preciso sair de casa para buscar o filme. Para desfrutar de séries de TVs produzidas pelas principais emissoras e filmes de estúdios como Disney, Warner e Sony, só para citar alguns, basta pagar uma taxa mensal de US$ 8,99.
Detalhe: o acesso é ilimitado. Desde o final de 2009, o acervo também pode ser visto pela TV, por meio de um aparelho receptor semelhante a um conversor de TV a cabo. Aos 13 anos de idade, a companhia se prepara para atuar globalmente. A primeira parada será no Canadá, onde vai instalar uma filial até o final do ano. Ainda não há previsão para entrar na Europa ou na América Latina.
Por aqui, um serviço como o Netflix poderia ter um impacto ainda mais devastador. A pirataria de DVDs e o avanço da TV a cabo afetaram fortemente as locadoras. ?A transição da fita de vídeo para o DVD fez explodir a pirataria e isso está comprometendo a sobrevivência do setor?, resigna-se Jorge Hein, presidente do Sindicato das Indústrias de Vídeo do Paraná, um dos mais fortes do País.
?Um DVD custa entre R$ 99 e R$ 120 para as locadoras e ele só começa a gerar lucro após a trigésima locação. É um custo muito elevado.? Nos últimos cinco anos, cerca de 60% das empresas do setor fecharam as portas. Uma das que sucumbiram foi a subsidiária da Blockbuster ? vendida em 2007 para as Lojas Americanas por R$ 186,2 milhões.
É verdade que os DVDs continuam sendo ofertados à clientela. No entanto, eles ocupam um lugar cada vez mais modesto na loja, onde pacotes de biscoito, peças de lingerie e brinquedos dominam a cena. Procurada, a direção da matriz da Blockbuster, situada em Dallas (EUA), não quis falar sobre a delicada situação vivida pela companhia.