Com um faturamento estimado em R$ 120 milhões para os primeiros 12 meses de operação e 250 funcionários espalhados pelo território nacional, o laboratório Supera já nasceu com um porte considerável no setor. Joint venture entre as empresas nacionais Eurofarma e Cristália, a Supera, no entanto, tem uma peculiaridade em relação às suas rivais. No seu escritório, instalado em uma área de dez mil metros quadrados, em Interlagos, na Zona Sul de São Paulo, não há uma sala ou uma cadeira reservada para o presidente. E isso não deve mudar, pelo menos, no curto prazo, porque, simplesmente, a Supera não tem presidente. A nova companhia, formada em agosto deste ano, é administrada por dois executivos que vieram das empresas-mãe. Um deles é o mineiro Helton Pinheiro de Carvalho, ex-gerente de marketing da Eurofarma. Ele assume o posto de diretor-comercial da nova empresa. O outro é o português, naturalizado brasileiro, Francisco Matias Silvano, ex-superintendente administrativo e financeiro da Cristália, que responde pela área administrativa e financeira. ?O CEO somos nós?, diz Silvano, o mais reservado dos dois. 

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Helton Pinheiro de Carvalho (esq): “Estamos há quase um ano ligados ao projeto”

Francisco Matias Silvano (dir): “O CEO somos nós”

O desafio dos executivos é unir os pontos fortes das duas empresas, que têm algumas afinidades, mas culturas empresariais bem distintas. A Eurofarma, da família Billi, e a Cristália, da família Pacheco, foram fundadas em 1972 no Estado de São Paulo. Quatro décadas depois, ambas figuram  entre os cinco maiores laboratórios farmacêuticos de controle nacional. A Eurofarma faturou R$ 1,3 bilhão em 2010 e a Cristália, R$ 600 milhões. As semelhanças, no entanto, param por aí. A Eurofarma é conhecida pelo comando centralizador do empresário Maurizio Billi, que promove uma cultura de valorização dos recursos humanos e a agressividade da equipe de vendas, recompensada com promoções. Já a Cristália aposta em investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Neste ano, ela anunciou a ampliação do valor destinado a pesquisas, de 7,5% para 11% do seu faturamento anual.  As decisões estratégicas mais importantes ficarão a cargo do conselho de administração, formado por dois representantes de cada empresa. Pela Cristália, respondem Ogari Pacheco, fundador do grupo, e Eduardo Job, vice-presidente. A Eurofarma será representada por Billi, presidente e filho do fundador da empresa, e Júlio César Gagliardi, vice-presidente. 

Isso não significa que os dois eleitos para conduzir o dia a dia da Supera serão meros executores de metas, entres as quais se destaca a de elevar o faturamento a R$ 400 milhões até 2015. O resultado, se alcançado, a colocará entre as 20 maiores empresas farmacêuticas do Brasil. ?Estamos há quase um ano ligados ao projeto?, afirma Carvalho. ?Elaboramos o plano de marketing e o orçamento.? O projeto tem um investimento inicial de R$ 133 milhões para comercializar os 21 produtos cedidos pelas empresas-mãe. Entre eles estão o Helleva, para problemas de disfunção erétil, criado pela Cristália, e o anti-inflamatório Benzetacil, da Eurofarma. Além da ausência de um presidente de fato, o modelo de negócios da empresa guarda outra curiosidade. A Supera não terá uma área própria de pesquisas, pois poderá vender qualquer produto do portfólio de desenvolvimento das duas empresas. ?É uma forma criativa de usar com mais eficiência os recursos destinados a pesquisas?, afirma Nelson Mussolini, vice-presidente do Sindusfarma, entidade que representa os laboratórios de São Paulo. ?Mas sem perder o comando da própria empresa, o que aconteceria no caso de uma fusão ou venda.?

 

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