06/07/2005 - 7:00
A Bic do Brasil tem três divisões de negócios. E três motivos para ficar preocupada com cada uma delas. O primeiro: os chineses continuam minando as vendas de canetas da marca francesa. Responsável por 38% das receitas totais de R$ 225 milhões, a área de ?papelaria? da empresa vem sofrendo com a invasão anual de 200 milhões de esferográficas subfaturadas e contrabandeadas da China. ?Por causa dessa concorrência predatória, nossa capacidade ociosa é de 50%?, garante Aroldo Fontes, diretor financeiro da Bic. Já nos isqueiros (37% de todo o negócio da filial brasileira), a batalha parece ainda mais complicada. E é travada em âmbito mundial: o antitabagismo. Isto é: há cada vez menos fumantes e, conseqüentemente, menos compradores de isqueiros. ?Embora continuemos líderes, as vendas dessa área sequer acompanham o crescimento da economia?, lamenta Fontes. Por fim, a divisão de barbeadores (25% do faturamento), a única em que a Bic não é a primeira do mercado. O mérito pertence à Gillette. Se o combate já era difícil, o que dizer agora que a rival foi adquirida pela Procter&Gamble, uma potência de bilhões de dólares e com grande poder de negociação junto ao varejo?
Passo a passo, divisão por divisão, a virtual solução para cada problema surgiu após a criação de um colegiado interno para discutir riscos e oportunidades de cada negócio. No caso das canetas, a saída encontrada foi apelar às autoridades. No próximo mês, a justiça deve dar um veredicto sobre a acusação de dumping impetrada pela Bic contra as rivais orientais. ?Reunimos provas que atestam que elas entram no Brasil por um centavo de dólar, valor que não paga nem o custo da ponta?, explica o diretor Fontes. Para convencer as autoridades, a empresa pesquisou os preços em outros países, inclusive os praticados no mercado interno chinês. E atestou o subpreço. Tanto que o governo brasileiro, desde abril último, passou a exigir certificado de origem e licença de importação para as esferográficas orientais. O arrocho na fiscalização deu certo. ?Nos últimos quatro anos, a média mensal era de 15 milhões de unidades chinesas. Em abril, caiu para 4 milhões?, diz Fontes. Caso o processo de dumping seja ratificado, o que implicará no aumento da alíquota de importação, a Bic levará vantagem também no segmento corporativo. ?Temos a linha Graphic, criada para o segmento de brindes, do qual os chineses dominam 90% do mercado?, afirma Christiane Vasconi, gerente de marketing.
Já para ?driblar? a irreversível cruzada contra o fumo, a Bic partiu para uma solução criativa. Ela desenvolveu um acendedor para fogões que utiliza, adivinhe, um isqueiro Bic. ?Cerca de 80% dos lares brasileiros possuem fogões sem acendimento automático, isto é, dependentes da velha caixinha de fósforos?, lembra Christiane. O Bic Handy reedita o princípio do Magiclick, que fez grande sucesso no Brasil nos anos 70. ?A vantagem é que o isqueiro transforma-se em refil?, diz Fontes. A expectativa de vendas do Handy é de 140 mil unidades por ano. Nos aparelhos de barbear, a Bic acredita que sua atuação exclusiva no segmento de descartáveis pode até virar uma vantagem frente à Procter&Gamble. ?A concorrente fixou-se nas lâminas substituíveis, mas o mercado tem demonstrado maior potencial de crescimento nos descartáveis?, acredita o diretor financeiro. Com modelos de uma, duas ou três lâminas, além do Soleil, destinado ao público feminino, a Bic torce por uma derrapada da nova concorrente. ?A Procter é um gigante, mas não entende de barbeadores. Quem sabe não comete algum erro??, aposta Fontes. E é com essa ?tripla ação?, que mistura criatividade, combate a pirataria e busca por nichos de mercado, que a empresa francesa pretende expandir seu faturamento para R$ 240 milhões em 2005.