30/08/2013 - 21:00
A universidade carioca Estácio, terceira maior instituição de ensino brasileira, tem visto seus principais competidores se envolverem em aquisições de grande porte neste ano. Em abril, a mineira Kroton e a paulista Anhanguera anunciaram um acordo de fusão que criou a maior empresa de ensino do mundo, em número de estudantes. Na semana retrasada, a americana Laureate fechou a compra da FMU por R$ 1 bilhão. Enquanto isso, a Estácio, que tem entre seus sócios o fundo GP Investimentos, segue em ritmo lento, correndo o risco de ser ultrapassada pelas concorrentes no ranking das maiores universidades privadas do País. No entanto, se depender da vontade de seu presidente, Rogério Melzi, essa aparente calmaria vai acabar.
Melzi, O CEO: “Pode-se dizer que somos os chatos
do mercado de educação”
“Estamos prontos para fazer uma grande aquisição”, afirmou Melzi à DINHEIRO. “Temos apetite.” Para isso, o executivo diz contar com mais de R$ 700 milhões em caixa. Segundo ele, a questão agora é apenas esperar por uma nova oportunidade de compra no mercado. O problema é que, nas últimas investidas, a empresa não teve sucesso. O grupo chegou a negociar a compra da FMU, que acabou ficando com a Laureate. A Estácio também foi cotada para se unir à Anhanguera. Os negócios não avançaram por uma questão de cautela da própria companhia. Segundo Melzi, as aquisições feitas pelos concorrentes, necessariamente implicarão perda da qualidade do ensino.
“O negócio precisa caber no nosso modelo financeiro e ainda agregar valor”, afirma. “Pode-se dizer que somos os chatos do setor.” Todo esse cuidado deixou a companhia de fora dos grandes negócios. Ela acabou se contentando com a compra de pequenas faculdades, como a Associação de Ensino de Santa Catarina (Assesc), em Florianópolis, por R$ 5,8 milhões, e a Faculdade de Ciências Sociais e Tecnológicas (Facitec), do Distrito Federal, por R$ 29 milhões. “Melhor investir em novos mercados do que em uma grande aquisição naqueles em que já atuamos”, diz Melzi. Atualmente, a Estácio opera em 21 Estados. Até o momento, o mercado financeiro avaliou positivamente essa estratégia cautelosa da Estácio.
A instituição de ensino chegou a estudar a compra da FMU
e uma fusão com a anhanguera, mas as negociações
não avançaram
Suas ações subiram 25,8% neste ano e 69,3% nos últimos 12 meses. “Quem investe na Estácio sabe que ela tem esse perfil”, diz Sandra Perez, analista da corretora Coinvalores. “O que ela tem feito é melhorar seus resultados, trazendo grande rentabilidade.” No primeiro semestre, o lucro líquido foi de R$ 113,3 milhões, um crescimento de 106% em comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, perder espaço para outras rede de ensino superior pode reverter esse quadro favorável, na avaliação de Carlos Monteiro, presidente da consultoria CM, especializada em gestão de ensino superior. “A tendência não é de pequenas aquisições, como ela tem feito, mas de grandes negócios”, diz Monteiro.
“A Estácio já foi a maior e pode ser ultrapassada por mais duas outras empresas, se continuar nesse ritmo.” No mercado de educação privada, dizem os especialistas, atualmente quem não compra fatalmente acabará sendo comprado. “Temos muitas empresas interessadas em investir”, afirma Monteiro. “Se a Estácio não se movimentar, pode virar um alvo.” Entre os eventuais compradores estão as americanas Whitney e DeVry, que têm investido em escolas no Nordeste nos últimos anos. Outro interessado em entrar nessa disputa é o Apollo, também americano, que planeja retornar ao Brasil – o grupo figurou entre os investidores do grupo Pitágoras, hoje parte da Kroton, entre 2001 e 2005.
O Apollo estaria interessado em comprar uma rede de ensino de grande porte. Além disso, as empresas brasileiras também não querem ficar para trás. A Ser Educacional, de Recife, holding que controla as Universidades Maurício de Nassau e Joaquim Nabuco, que atuam no Norte e no Nordeste, entrou com pedido de registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na quarta-feira 28. A ideia é fazer a oferta de ações em breve e capitalizar-se para ir às compras. No alvo dos investidores estão universidades como as paulistas Uninove e São Judas Tadeu, a curitibana Uninter e a capixaba Universidade de Vila Velha. Resta saber de que lado do balcão a Estácio vai ficar.