Bia Aydar já fez de tudo na vida. Era a ?Tia Bia? para as crianças das Escola Catavento, em São Paulo. Nos anos 1970 casou-se com um músico de primeira, Mário Manga, com quem dividiu uma das mais engraçadas aventuras musicais daqueles tempos, o grupo paulistano Premeditando o Breque, ou simplesmente Premê. Para quem não liga o nome às canções, cabe lembrar a letra de uma delas, com direito a todos os erros de português intencionais: ?Eu economizei, mizei/Comprei, comprei, comprei/Uma Kombi meia seis, de um japoneis/ Ela é ensinada, só falta asa/Corre à beça e vai sozinha para o Ceasa?. Bia chegou a conduzir a tal Kombi, como faz-tudo da banda. Um pouco mais tarde trabalhou com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e a vida deles era andar por esse País. Ela perdeu a conta das vezes em que, a bordo de aviões monomotores ou ônibus, tinha de um lado Gonzagão e a sanfona e, do outro, um balão de oxigênio destinado a arrefecer o sofrimento do pernambucano de Exú em seus últimos dias. As andanças serviram de aprendizado para uma outra faceta da empresária, transformada em uma das mais competentes organizadoras de eventos do Brasil. Até que, em outra encarnação, a atual, soma de todas as anteriores, Bia Aydar assumiu o comando da MPM, uma lenda da publicidade brasileira. No comando da agência e de um do inacreditável renascimentos de uma marca ícone da propaganda no Brasil, conquistou o prêmio de Empreendedora do Ano nas Comunicações da DINHEIRO.

Ela foi alçada ao controle da MPM em julho de 2003. Um ano depois, o faturamento chegava aos R$ 100 milhões, com crescimento de 200% em relação aos doze meses anteriores. Para 2005, prevê-se negócios de R$ 140 milhões, com expansão de 40%. A agência ocupa atualmente a 44ª posição do ranking estabelecido pela editora Meio & Mensagem. É desempenho amealhado por meio de contas nobres como as do Burguer King, da Kyocera e da Leroy Merlin, além da SulAmérica e da Fox Film, em um total de 15 grandes rótulos. Como a dona do pedaço nunca foi de premeditar o breque, porque freio não é com ela, vem mais por aí. A MPM deixará os dois sobrados onde está instalada, na rua Estados Unidos, na região paulistana dos Jardins, por um prédio de seis andares ainda com andaimes e concreto aparente, não muito longe dali. No tapume, ao lado de uma betoneira, há a seguinte frase: ?Construindo a futura maior agência do Brasil?. Um olhar menos cuidadoso pode levar os incautos a supor presunção. Não é nada disso. Trata-se apenas da confiança, genuína e simpática, desta mulher agitada de 1m57, elegante em terninhos Dolce & Gabbana. ?Sou determinada e obstinada?, resume Bia, para logo em seguida admitir um defeito. ?Não tenho muita paciência, quero logo os resultados?, diz. Como eles têm aparecido, a impaciência é problema que se releva.

A determinação pode ser entendida pelo modo de vida da publicitária. Bia dorme apenas três horas por noite. Tornaram-se históricos, entre os colegas de trabalho, para o lado e para baixo da hierarquia funcional, as mensagens eletrônicas anotadas com horários improváveis como ?3h28?. Ela sai da cama sempre antes das 6h00. Corre no Parque do Ibirapuera com o apoio de um personal trainer e, ao redor de 9h00, bate ponto. Vê-la no cotidiano é rir muito, é acompanhar algumas broncas, mas é também perceber como se trata os funcionários de modo equânime, independentemente do tamanho do salário. Conversa de igual para igual com Fabiane, a moça da recepção, e com Daniel Chalfon, o diretor de criação da casa, nome de reputação cada dia maior. Diante de Bia há sempre cinco telefones celulares ? quatro para decisões administrativas e um exclusivo para os filhos, a cantora Mariana, de 25 anos, e o publicitário Eduardo, de 31, que cuida da empresa de eventos comandada pela mãe, a Face. O núcleo familiar estende-se à neta Manuela, de 10 meses, que a observa a partir de uma fotografia pousada na mesa do escritório. Quando a menina veio ao mundo, Nizan Guanaes, o homem que inventou essa nova fase da vida de Bia, disparou uma de suas máximas. ?Nasceu quem vai mandar em você?, sacramentou, com a certeza que não há, no mundo, alguém capaz de tal façanha. Talvez a irmã e amiga, Fernanda Nigro, que a acompanha desde sempre, desde os tempos do Premê, com quem ela divide a sala, os problemas e as soluções. Fernanda, segundo a mana, é quem sabe das coisas.

Na presidência da MPM, Bia tem responsabilidades imensas, algumas discretamente intangíveis. A marca foi comprada pela holding de Nizan, a Ypy – que inclui, entre outras, a agência África – por espetaculares US$ 1 milhão. Tratava-se de fazer renascer uma lenda do mercado publicitário do País, adormecida havia uma década. A experiência quase adolescente com o mundo artístico e a mais recente convivência com eventos como os casamentos de Angélica e Luciano Huck, Ronaldo e Daniela Cicarelli, além de campanhas políticas com Fernando Henrique Cardoso, não bastavam para levá-la ao pódio de uma atividade repleta de obstáculos. Para se tornar publicitária, teve que reaprender a andar ? o que, para quem nasceu prematura de 6 meses e 2 semanas há 49 anos, e com meros 1kg e 200 gramas, é missão simples. O gênio criador de Nizan ajudou muito. ?Ele é meu irmão, meu melhor amigo?, diz ela.

O conceito da MPM de Bia Aydar é o avesso do habitual. Ela atende o cliente em todas as suas necessidades. Pode ser um lançamento de produto, uma nova campanha, um superevento, pode até ser um pouco de conversa jogada fora. ?Não faço briefings, que não passam de pedaços de papel ultrapassados, frios, distantes das necessidades reais?, afirma. ?Levo todo mundo para as reuniões, e do diálogo é que brotam as soluções?. E lá vai Bia, agitada como personagem de desenho animado. Induzida a comentar sua vida hoje, ela é assertiva. ?Estou muuuuito feliz?, diz, estendendo a letra ?u? para reforçar o que pretende explicar. É felicidade que não produz comodismo, pelo contrário: ?Olha, não sou a Rainha da Inglaterra?.