A TRAJETÓRIA DA OLIVEtti se confunde com o processo de industrialização da Itália. Fundada pelo empreendedor Camillo Olivetti, a empresa que virou sinônimo de máquina de escrever celebra o centésimo aniversário em meio a um dilema corporativo: insistir na fabricação de produtos para o usuário final ou mergulhar de vez no mercado corporativo. As evidências indicam que a segunda opção deve ser a escolhida pelos executivos do Grupo Telecom Italia, sua controladora desde 2003. Isso porque, o processo de comoditização do setor de informática atingiu em cheio a linha de equipamentos de consumo da Olivetti: impressoras e multifuncionais. É que apesar do prestígio junto aos europeus, a marca não conseguiu barrar o avanço dos asiáticos. O impacto disso pode ser visto na contabilidade. No acumulado janeiro-setembro, as receitas da Olivetti somaram US$ 317,5 milhões, um rerecuo de 11% em relação a igual período de 2007. Pode-se dizer que assim como a Xerox e a Kodak, a Olivetti se tornou uma vítima do próprio sucesso ao não conseguir acompanhar a evolução dos mercados nos quais atua. “Estamos trabalhando duro para garantir o futuro de uma empresa que tem uma grife respeitada, competência e tecnologia”, disse Gabriele Galateri di Genola, presidente da Telecom Itália, em recente entrevista ao jornal La Stampa.

Uma boa indicação disso foi a manutenção da Olivetti como uma unidade independente, no processo de reestruturação feito no início de 2007. O que garante uma certa autonomia para apostar nas áreas que considera estratégicas: automação comercial e bancária, além de equipamentos para o segmento de loterias e urnas eletrônicas. Quem vai tocar a nova fase da Olivetti é Patrizia Grieco, que assume com a missão de reposicionar a linha de produtos e investir em pacotes corporativos, atuando no varejo apenas em nichos nos quais o nome Olivetti faça a diferença. Uma postura considerada acertada por analistas. “Mais que a compra de produtos, os clientes preferem investir em um pacote que inclua equipamento, software e assistência técnica”, opina Ivair Rodrigues, sócio da consultoria IT Data. Foi exatamente por insistir em um modelo ultrapassado que a Olivetti perdeu mercado no Brasil para a Itautec e para a Bematech.

Mas na avaliação de Rodrigues, nada impede que os italianos dêem a volta por cima. Afinal, durante boa parte de sua trajetória, iniciada em 1908, a Olivetti conseguiu superar desafios e se firmou como uma empresa inovadora. O início foi penoso e Camillo Olivetti levou três anos para produzir a primeira máquina de escrever. Em 1933, com a entrada em cena do filho Adriano, o negócio ganhou uma nova dimensão. Os produtos passaram a ser desenhados por integrantes da escola de Bauhaus e a Olivetti foi reconhecida como uma marca ao mesmo tempo cult e inovadora. Exemplo: foi a primeira da Europa a lançar um computador de grande porte, o Elea 9003, em 1959. A aquisição de concorrentes e as parcerias com gigantes, como AT&T e com a francesa Thomson, reforçaram a trajetória da Olivetti nos setores de informática e robótica. Em 1960, a pequena oficina aberta no norte da Itália havia se tornado uma gigante com quatro mil empregados espalhados pelos Estados Unidos, Espanha, México, Argentina e Brasil.