A Espanha é um dos países que mais sofreram as agruras da crise econômica que se instalou na Europa a partir de 2008. Junto com Portugal, Grécia e Itália, amargou os efeitos de uma economia em frangalhos: alto nível de desemprego e endividamento público excessivo, além da necessidade de muitas reformas a serem feitas. O primeiro-ministro Mariano Rajoy afirmou, em setembro, que a Espanha sairia da crise no terceiro trimestre. E os números começaram a conspirar a favor da sua previsão. Nesta quarta-feira 23, o banco da Espanha apontou um crescimento de 0,1% no terceiro trimestre, o que tira o país da recessão. A questão agora a saber é se esse avanço é consistente e se os espanhóis conseguirão manter o ritmo –  ainda que lento – de crescimento para garantir a recuperação.

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DESEMPREGO: 26% da população ativa do país está sem trabalho

 

Para o especialista Mauro Rochlin, do Ibmec, o fato de ter deixado de registrar crescimento negativo já é bom, mas é precipitado falar em recuperação. ?Um trimestre é muito pouco para falar em tendência de melhora?, diz. Para Silvio Campos, economista da Tendências Consultoria, se confirmado o avanço, não deixa de ser um sinal promissor. ?As perspectivas seguem de continuidade da recuperação em ritmo bem modesto?, afirma.

 

No primeiro semestre, a economia espanhola registrou recuo de 0,5%. Ao todo, foram nove trimestres consecutivos de queda no PIB. Os números anunciados na quarta-feira 23 ainda não são capazes de reverter o resultado negativo. Para os especialistas, o quarto trimestre deverá apresentar crescimento tímido. O governo espanhol prevê uma queda do PIB de 1,3% neste ano e um crescimento de 0,7% em 2014.  A recuperação, no entanto, vai depender de como a Espanha resolverá questões importantes como o alto índice de desemprego, que atinge 26% da população ativa. Entre os jovens, esse dado é ainda mais alarmante: 56% das pessoas com menos de 25 anos está sem trabalho. ?Existe dificuldade na criação de emprego e isso demora mais tempo para que seja observado?, avalia Manuel Henriques Garcia, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

 

Para ter um quadro de crescimento sólido no médio e longo prazo, avalia Campos, da Tendências, a Espanha terá de melhorar a competitividade de sua economia e, para isso ?precisa manter firme o foco nas reformas e ajustes estruturais.” Pressionados pela Comissão Europeia, os espanhóis passaram a fazer ajuste fiscal e a adotar reformas para reduzir o déficit. Foi isso, diz Campos, que melhorou o sentimento dos investidores em relação à economia do país, mesmo que lentamente.

 

A retomada das exportações, em todo caso, tem ajudado a Espanha na recuperação. As vendas para o Exterior cresceram 0,4% e as importações recuaram 0,7%.?A Espanha começou a apresentar bens e serviços com grande competitividade e isso ajudou o país a sair da crise?, diz Garcia, da OEB.  Segundo ele, graças ao ganho de produtividade o país exportou mais bens como automóveis e sistemas feroviários e serviços de alta tecnologia. 

 

Falta, ainda, entender de que forma o país fará reformas capaz de reduzir o alto endividamento. O plano orçamentário apresentado pelo governo espanhol à Comissão Europeia, na semana passada, incluía a previsão de que a dívida pública de 94,2% do PIB neste ano, e de 101,09%, em 2015.

 

 

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