25/05/2001 - 7:00
Ela já enfrentou narcotraficantes na Bolívia, contornou uma tremenda saia justa na Venezuela e, agora, está sendo escalada para defender os interesses dos Estados Unidos junto ao Brasil ? o grande rival americano na construção da Alca, a futura área de livre comércio das Américas. Donna Hrinak, atual embaixadora na Venezuela, é o único nome na mesa do presidente George W. Bush para ocupar a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. A cadeira está vaga desde fevereiro, quando Anthony Harrigton, amigo pessoal do presidente Bill Clinton, foi afastado do cargo com a posse de Bush. Embora ainda não tenha sido confirmado pela Casa Branca, no Itamaraty e nos gabinetes do Departamento de Estado ? o equivalente ao Ministério das Relações Exteriores ? a vinda de Donna é tida como certa. O convite foi feito por Bush na semana passada, quando ela foi chamada às pressas para Washington. Se isso acontecer, será a primeira mulher a ocupar a cadeira. Em 1985, ela foi eleita pela revista americana Glamour como uma das 10 profissionais mais brilhantes dos Estados Unidos.
A embaixada do Brasil, na verdade, estava em segundo lugar nos planos da embaixadora. Desde que ingressou na carreira diplomática, em 1974, nunca escondeu o desejo de assumir a Subsecretaria de Assuntos Hemisféricos, para o qual foi designado recentemente Otto Reich. Donna, no entanto, não pensa mais na subsecretaria. ?Se for para algum lugar, agora, quero ir para o Brasil?, tem comentado com amigos. A embaixadora, que nasceu numa cidade do interior da Pensilvânia, nunca escondeu sua paixão pelo País onde trabalhou entre 1984 e 1987, no Consulado de São Paulo. Tem uma governanta brasileira que a acompanha por todos os lugares desde que deixou São Paulo e seu único filho, Wyatt, é ?paulistano?. Os dois até hoje costumam exercitar em casa o português e a degustação de comida brasileira. ?Ela adora o Brasil e não cansa de repetir isso o tempo todo. Se for confirmada, certamente será uma ótima escolha?, disse o embaixador do Brasil na Bolívia, Stelio Marcos Amarante. ?Ela é afável, simpática e muito inteligente.? Os dois ficaram amigos quando Donna chefiava a embaixada americana em La Paz. Na época, foi escolhida pelo presidente Bill Clinton para coordenar o plano de erradicação das plantações de coca na Bolívia. O plantio da coca rendia, na época, US$ 600 milhões por ano, quase 10% do PIB do País, e garantia a sobrevivência de milhares de famílias. Apesar de ter feito fortes pressões para que o governo acelerasse a implantação do plano, desfrutava de alto prestígio quando deixou a Bolívia para assumir a embaixada na Venezuela.
Quando desembarcou em Caracas, em agosto do ano passado, o presidente Hugo Chávez já tinha caído em desgraça com o governo americano devido à sua independência e declarada simpatia por Fidel Castro. Donna contornou a situação difícil e, em menos de um ano no País, já desfruta de mesma popularidade que detinha na Bolívia. Os jornais da Venezuela lamentaram sua saída e, na semana que passou, informavam que, para seu lugar, estaria indo Charles Shaphiro, chefe do escritório dos Estados Unidos em Havana. As chances de haver uma reviravolta e seu nome não ser confirmado nos próximos dias são poucas, dizem diplomatas. Isso porque Bush não teria nenhum aliado político talhado para o cargo. Ninguém sabe ao certo quando virá ao Brasil, caso seja confirmada no cargo. Mas tudo indica que será breve, porque Washington já sinalizou que não pretende esperar mais de 18 meses para indicar um sucessor, como aconteceu na saída de Melvyn Levitski, que antecedeu Anthony Harrington. Ao contrário de Donna, ele não deixou nenhuma saudade na diplomacia brasileira.