O dólar à vista iniciou a semana em baixa no mercado doméstico de câmbio, acompanhando a onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, em meio a temores de desaceleração mais forte da economia global. Com oscilação de menos de três centavos entre mínima (R$ 4,7584) e máxima (R$ 4,7848), a divisa encerrou o dia cotada a R$ 4,7667, em baixa de 0,23%, interrompendo uma sequência de dois pregões de leve alta. Em junho, o dólar à vista já acumula perdas de 6,04%.

Segundo operadores, a cautela deu o tom às negociações, com investidores apenas realizando ajustes finos de posições à espera da agenda doméstica carregada desta semana. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para julho apresentou giro fraco, pouco acima de US$ 10 bilhões. O volume negociado deve crescer ao longo dos próximos dias tanto pelos eventos relevantes quanto pela proximidade de rolagem de posições e da disputa técnica pela formação da última Ptax de junho, na sexta-feira, 30.

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É grande a expectativa pela divulgação amanhã, 27, da ata do encontro do Copom na semana passada, quando a taxa Selic foi mantida em 13,75% ao ano em um comunicado considerado duro. Uma ala relevante do mercado espera que o colegiado adote um tom mais ameno na ata, o que pode dar ainda mais força à expectativa de redução da taxa básica em agosto. Nesta terça-feira, sai também o IPCA-15 de junho, que deve mostrar forte desaceleração, de 0,51% para 0,03%, segundo mediana da pesquisa Projeções Broadcast.

“O comportamento do mercado de câmbio hoje foi de cautela. Os investidores estão na expectativa sobre qual vai ser o tom da ata do Copom amanhã e se o BC irá ou não dar alguma sinalização sobre o início do ciclo de queda da Selic”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.

A agenda ainda traz na quinta-feira, 29, o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para definição de metas de inflação. É figurinha fácil entre economistas a avaliação de que a manutenção de uma meta de 3% será benéfica para a ancoragem das expectativas e deixará o Banco Central mais confortável para iniciar o ciclo de afrouxamento monetário em agosto. Isso mesmo que a meta deixe de ser definida para ano-calendário e passe a ser contínua.

Dados da balança comercial divulgados hoje reforçam leitura de analistas de que a entrada de fluxo comercial, sobretudo em razão das exportações do agronegócio, tem contribuído para a apreciação recente do real. Há também expectativa de fluxo financeiro com a emissão pela Petrobras de bonds de 10 anos. Segundo fontes, a empresa captou US$ 1,25 bilhão, de uma demanda superior a US$ 5 bilhões.

De acordo com Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a balança registrou superávit de US$ 1,374 bilhão na quarta semana de junho (dias 19 a 25). No mês, o superávit acumulado é de US$ 8,081 bilhões e no ano, de US$ 43,003 bilhões.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou em leve queda ao longo do dia, entre 102,600 e 102,800 pontos. Houve certa apreensão em razão de crise militar na Rússia, com insurreição de grupo de mercenários contornada por Moscou no fim de semana. A moeda americana caiu em relação à maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Entre moeda latino-americanas, destaque para o peso colombiano e o real.

“O mercado local trabalhou em banho-maria hoje, seguindo o exterior. O fato é que vem ganhando força maior nos últimos dias a preocupação com uma desaceleração mais forte da economia americana, o que enfraquece o dólar e ajuda a sustentar o real”, afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, ressaltando que nesta semana o Banco Central Europeu (BCE) realiza evento que vai contar com a presença do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, cujas declarações podem mexer globalmente com o dólar.