montagem sobre foto de AP Photo/Volker Dziemballa

Ackermann, presidente: garota em Ibiza abordou acionista

Uma fotografia meiga encerrou a apresentação que o presidente do Deutsche Bank Joseph Ackermann fez aos acionistas no final de maio passado. Nela, duas garotinhas, uma negra e outra branca, brincam felizes. Ao fundo, um quadro branco traz a palavra DETEKTIVE em letras garrafais. A foto ilustra a política de responsabilidade social do banco, motivo de orgulho de Ackermann. Menos de dois meses depois, em 22 de julho, ele recebeu um dossiê de 150 páginas com as conclusões de uma investigação sobre a espionagem de executivos, membros do Conselho de Administração e um acionista.

Desta vez, as fotos envergonham o maior banco da Alemanha. Os detetives, contratados pela área de segurança, não estavam brincando. As espionagens começaram em 1998. O dossiê, elaborado a mando de Ackermann pela firma de advocacia Cleary Gottlieb Steen & Hamilton, detectou pelo menos quatro casos a partir de 2001. Num deles, Gerald Hermann, sindicalista que tinha assento no Comitê de Supervisão, foi investigado por supostamente vazar o resultado do terceiro trimestre de 2001 para um jornalista da agência Reuters.

Ambos foram seguidos em Frankfurt e em viagens. Os arapongas grudaram também no acionista Michael Bohndorf, um advogado que vive na ilha espanhola Ibiza e teria ligações com o magnata da imprensa Leo Kirch, que andava às turras com o Deutsche. Bohndorf foi abordado em 2006, num café em Ibiza, por uma jovem “deliciosa” de 23 anos e caiu numa “armadilha amorosa”. Ela era brasileira. A espiã fez perguntas incomuns e o advogado desconfiou.

O objetivo era verificar pontos fracos de quem fazia perguntas incômodas nas assembleias de acionistas. Na terça-feira 28, a direção do Deutsche confirmou em nota o recebimento do dossiê e a demissão de dois envolvidos: o chefe da área de segurança na Alemanha e o comandante da área global de Relações com Investidores. “Lamentamos o que aconteceu. Começamos a tomar medidas internas para evitar que incidentes similares aconteçam no futuro”, dizia a nota. Como o antigo chefe da segurança, Clemens Borsig, preside hoje o Comitê de Supervisão, o embaraço do Deutsche pode continuar.