29/06/2004 - 7:00
O empresário Waldomiro Paulino, dono da Farmaervas, a mais tradicional fabricante de cosméticos feitos com plantas medicinais do País, é do tempo em que homem usava chapéu e suspensório ? e não creminhos para o rosto. Também é do tempo em que os casamentos duravam para sempre e que negócio de família devia ficar com a família, eternamente, sem essa história de profissionalização. Aos 78 anos, porém, ele acha que é hora de ceder. Mas só um pouco. O chapéu e o suspensório continuam sendo obrigatórios, seja no sítio onde ele passa três dias da semana e colhe 30% das matérias-primas utilizadas em seus produtos, seja nas caminhadas vespertinas no Clube Paulistano, em São Paulo. E em casa, o chamego com dona Odete é o mesmo de quando se casaram, 56 anos atrás. Eles se tratam por ?mãezinha? e ?paizinho?. Contudo, o pé atrás em relação aos cremes masculinos e a contratação de executivos deixaram de ser assuntos proibidos. ?O negócio não aceita vaidade. Se você começa a brincar ele vira as costas e vai embora?, diz Paulino, que também comanda uma farmácia de manipulação e uma clínica de homeopatia no centro de São Paulo.
Por isso, sua empresa, que no ano passado tentou lhe dar as costas e insinuou um prejuízo, está mudando. Pela primeira vez, em 64 anos, a Farmaervas vai fabricar cosméticos masculinos. Paulino investiu R$ 600 mil no desenvolvimento de hidratan-
tes, loções pós-barba, xampus e até anti-rugas, que chegarão ao mercado no ano que vem. Tudo feito com ingredientes naturais, como babosa, camomila e outras 600 plantas ? marca registrada da Farmaervas, cujos produtos estão em 2 mil pontos-de-venda no Brasil, em Portugal e na África do Sul. ?A linha masculina deve aumentar em 15% o faturamento no primeiro ano, e representar um terço das vendas em 2008?, diz Walmir Paulino, filho de Waldomiro. Ele não revela a receita total.
Essa guinada em direção aos machões sensíveis tenta reverter um momento delicado. Em 2003, os Paulino investiram pesado em máquinas para mudar todas as embalagens de sua linha de 500 itens. Mas o resultado foi um invólucro frágil, que não resistia a quedas. O consumidor chiou, os supermercados cessaram os pedidos e as vendas caíram 40%. Toca fazer novos investimentos para voltar às embalagens antigas. Nesse vaivém, o balanço apresentou um inesperado zero a zero. ?Mas cresceremos 20% em 2004?, prevê Walmir, com um relatório da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) nas mãos. O documento mostra que nos últimos cinco anos o mercado brasileiro de cosméticos masculinos avançou 142%, atingindo R$ 1 bilhão em 2003. Foi um crescimento superior ao do setor como um todo, que movimentava R$ 5,9 bilhões em 1998 e cravou R$ 11 bilhões no ano passado.
As perspectivas são boas, mas impossível não notar uma certa aflição em Paulino pai enquanto ele caminha entre suas ?plantinhas? no sítio em Bragança Paulista, interior de São Paulo. ?Olha que beleza. Fiz isso para os meus netos, mas nenhum deles vem aqui?, diz, apontando para a imensidão verde com lago, piscina, bosques e playground. Paulino tem 13 netos ? nenhum, ele diz, interessado nos negócios da família. Por isso, foi com dor no coração que ele cedeu mais uma vez e marcou data para se retirar do dia-a-dia da empresa: 2007. Os primeiros dois executivos profissionais já foram contratados, para as áreas financeira e de vendas. ?Eu ficaria feliz se a terceira geração da família assumisse o negócio. Mas tudo bem trazê-la apenas na folha de pagamento?, conforma-se o empresário. ?O importante é resistir ao assédio das multinacionais e lutar para manter a Farmaervas conosco.?