Uma reestruturação global iniciada pela matriz, nos Estados Unidos, há um ano, finalmente foi concluída na operação brasileira da Abbott. Como já foi feito em outros países onde atua, a gigante do ramo de saúde segregou o portfólio de produtos em duas empresas também no País. Foram para a AbbVie, criada há um ano, os medicamentos patenteados. Com a Abbott, ficaram as demais áreas de atuação: diagnósticos, farmacêuticos, nutricionais e dispositivos médicos. Agora, o foco da companhia volta a ser o crescimento acelerado no Brasil.

 

Os resultados do País, aliás, são cada vez mais importantes para a companhia. No balanço de 2013, divulgado em 22 de janeiro, o Brasil foi citado explicitamente duas vezes, ao ter sua expansão de dois dígitos destacada nos segmentos de diagnósticos laboratoriais e em farmacêuticos estabelecidos. Embora não detalhe a participação por país, o Brasil integra um grupo de 14 emergentes estratégicos para o crescimento da empresa nos próximos anos.

 

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Gaona, da Abbott Brasil: desafio de fazer a empresa crescer muito mais que a economia local

 

Dos US$ 22 bilhões que a Abbott faturou no ano passado, cerca de 40% vieram de países emergentes. Os Estados Unidos, sua terra-natal, contribuiu com US$ 6,3 bilhões ? uma queda de 0,8% sobre o ano retrasado. Quando anunciou a cisão dos negócios da Abbott e a criação de uma nova companhia, a Abbvie, há um ano, o presidente global da empresa, Miles White, afirmou que os emergentes devem representar metade do faturamento até 2015.

 

Cor local

 

No Brasil, a missão de transformar essa pressão em resultados cabe ao engenheiro colombiano Juan Carlos Gaona, gerente geral da Abbott local. ?O que se espera do Brasil é que a gente acompanhe esse crescimento de dois dígitos dos demais emergentes?, afirmou Gaona à DINHEIRO.

 

A receita prescrita por Gaona para não perder o passo abrange diversos pontos. O primeiro é melhorar o conhecimento das demandas do mercado verde-amarelo. ?Precisamos ser muito mais ágeis para entender o que os brasileiros precisam?, diz.

 

Das quatro áreas em que a Abbott atua, três (farmacêuticos, nutricionais e dispositivos para diagnóstico) têm potencial para aumentar suas vendas em redes de farmácia. Para isso, a companhia quer se tornar mais conhecida do grande público, e uma segunda ação planejada para os próximos meses é uma campanha de marketing institucional. O objetivo é evitar perdas no ponto-de-venda, já que mais da metade dos consumidores decidem o que vão comprar dentro da própria loja, desde que o produto não precise de prescrição médica.

 

As farmácias, aliás, ganharão mais peso nas vendas. Segundo Gaona, os produtos da Abbott, hoje, chegam a cerca de metade das 75.000 farmácias existentes no País. ?A meta é alcançar 75% delas em dois anos?, diz.

 

Regionalização

 

Estar em mais farmácias levará, por tabela, a Abbott a ampliar sua presença fora do eixo Rio-São Paulo. Mas essa expansão faz parte de uma ação mais cuidadosa de regionalização da empresa, que passa também pela oferta de produtos para demandas localizadas e o maior relacionamento com hospitais e serviços públicos de saúde.

 

Ampliar o portfólio de produtos, com lançamentos, é outra medida. No ano passado, por exemplo, a Abbott lançou mundialmente cerca de 70. Apesar do ritmo acelerado, a companhia não pretende expandir sua fábrica de Jacarepaguá, no Rio, onde produz principalmente produtos da linha de farmacêuticos. ?Ainda há espaço para aproveitar a atual capacidade instalada?, diz Gaona.

 

Na época em que a cisão com a Abbvie foi anunciada, a imprensa americana afirmou que a medida seria positiva para a Abbott, já que liberaria caixa para crescer por meio de aquisições. A aquisição mais recente no Brasil foi a da Vistatek, em julho do ano passado. Trata-se de uma distribuidora de produtos oftalmológicos e de tecnologias a laser para tratamento de catarata. Gaona confirma a disposição da empresa em ir às compras, mas assinala que há poucas opções interessantes. ?Se encontrarmos uma boa proposta, vamos analisar o negócio?, afirma. Até porque, para entregar dois dígitos de crescimento em um país cuja economia não tem um PIB chinês, não se pode desperdiçar oportunidades.