Há 25 anos na Lojas Renner, Fabio Faccio se tornou diretor-presidente da companhia em 2019. Os diversos cargos, departamentos e times pelos quais o executivo passou ao longo de duas décadas moldaram sua liderança, que se destaca pela agenda ESG, a qual é feita acima de tudo por muitas mãos em uma jornada colaborativa.

“Para ser referência em moda responsável, a gente busca movimentar todos os agentes, desde colaboradores e fornecedores até quem investe”, disse à DINHEIRO o CEO da Lojas Renner, maior varejista de moda do Brasil.

Para ele, a sustentabilidade é aquela peça coringa do guarda-roupa e se figura como um dos pilares estratégicos para o crescimento da empresa nos últimos anos, que criou sua primeira estratégia de sustentabilidade institucionalizada em 2016. Só em 2023, a varejista investiu cerca de R$ 900 milhões em tecnologia, inovação e na rede de lojas, fatores guiados pela sustentabilidade.

CEO da Lojas Renner destaca a importância da equipe interna e de parceiros para as estratégias de ESG (Crédito:Jefferson Bernardes)

O resultado pode ser observado nos números da empresa: R$ 11,7 bilhões de receita líquida em 2023, com lucro nos últimos cinco anos, além de 8 em cada 10 peças de roupa da marca serem mais sustentáveis e mais de 40 lojas circulares, ou seja, espaços que incorporam premissas de economia circular e de sustentabilidade. “Isso é possível quando todo ecossistema se movimenta”, ressaltou o executivo.

Montar um look sustentável e da moda não é uma escolha fácil, ainda mais em uma varejista como a Renner.

Hoje, o ecossistema da companhia é formado por cinco marcas de varejo:
• Renner,
• Camicado,
• Youcom,
• Ashua,
• e Repassa.

Essas marcas somam 673 lojas espalhadas pelo Brasil, Argentina e Uruguai, e também a Realize, de soluções financeiras, a logitech Uello e a RX Ventures, de fundo de investimentos.

Por trás disso, estão:
• 24,4 mil colaboradores,
• três centros de distribuição,
• 653 fornecedores de venda,
• 700 sellers,
• e 18,6 milhões de clientes ativos.

Fora todo ecossistema interno, a companhia precisa lidar com os fatores externos para avançar de forma efetiva em ESG. Isso porque a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo e, além disso, no Brasil, o setor de varejo passa por crise financeira e de credibilidade, como o prejuízo e fechamento de lojas de algumas redes. Então, as práticas precisam ser rentáveis.

Hoje, o ecossistema robusto da empresa e o reconhecimento em ESG – neste ano, a Renner ocupou a 22ª posição no ranking com as 500 empresas mais sustentáveis do mundo, divulgado pela Revista Time – são frutos de uma longa trajetória.

Para compreender o momento atual nesse caminho da sustentabilidade, é preciso seguir uma linha do tempo.

• Essa discussão vem pelo menos desde 2005, quando a companhia teve seu capital pulverizado.
• Já em 2008, foi criado um comitê específico sobre sustentabilidade junto com o conselho de administração e, no mesmo ano, fundou o Instituto Lojas Renner, pilar social da companhia.
• Em 2011, nasceu o programa de logística reversa Ecoestilo e, logo depois, em 2013, nasceu a área de sustentabilidade, que contribuiu para o crescimento exponencial nos anos seguintes.
• Como em 2016, com a definição de diretrizes estratégicas de moda responsável, e para os dois ciclos de compromissos públicos de sustentabilidade: o primeiro, de 2018 a 2021, e o segundo, de 2022 a 2030.

Em 2024, serão investidos R$ 880 milhões, especialmente em tecnologia, inovação e na rede de lojas, tendo como base a sustentabilidade.

Jornada de sustentabilidade

Com o primeiro ciclo de compromissos públicos concluído, a Renner superou as metas estabelecidas. Por exemplo, atingiu o número de 81,3% dos produtos de vestuário com menor impacto ambiental (a meta era 80%), reduziu em 35,4% as emissões corporativas de CO2 (compromisso de 20%) e 100% em consumo de energia corporativa de fontes renováveis de baixo impacto e da cadeia nacional e internacional de fornecedores de artigos têxteis com certificação socioambiental (as metas eram 75% e 100% respectivamente). Eduardo Ferlauto, gerente-geral de sustentabilidade da Lojas Renner, disse à DINHEIRO que “as metas orientam uma produção e um consumo cada vez mais consciente”.

Os pilares de soluções climáticas, circulares e regenerativas, relações humanas e diversas, e o avanço em diversidade dentro da empresa norteiam as 12 novas metas incluídas no ciclo que se encerra em 2030. Com foco no ‘S’ de ESG, os principais objetivos são reduzir de 35,4% para 75% as emissões de CO2 e passar de 81,3% para 100% de roupas mais sustentáveis. Outro fator importante nessa nova etapa da jornada de sustentabilidade e crescimento da marca é a diversidade.

(divulgação)

De acordo com Ferlauto, a meta é chegar a 50% de pessoas negras em posições de liderança e 55% de mulheres em alta liderança, que são hoje respectivamente 30,5% e 45%. Enquanto isso, para o consumidor, a companhia busca ser uma referência de moda responsável.

Desde 2021, a Renner possui loja circular, um modelo que aplica conceitos como reutilização de materiais ao fim da vida útil, diminuição de resíduos, menor consumo de energia e água, entre outros atributos com foco na ecoeficiência de cada uma das 40 unidades nesse formato.

Além disso, o Selo Re – Moda Responsável, criado em 2018, informa os clientes sobre as características de menor impacto das peças. Um levantamento interno da varejista apontou que 32% dos consumidores notam a evolução dos produtos da marca, com sustentabilidade e qualidade.

Parcerias para tecnologia

Para que o cliente vista um look mais responsável, são feitas parcerias com empresas, instituições e universidades. A companhia conta, por exemplo, com iniciativas em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP) para pesquisas, a startup FarFarmm, que atua com estratégias para negócios baseados no potencial natural de produtos agrícolas, e o Sou de Algodão (SDA), um movimento criado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).

Companhia usa tecnologia para precisão de dados, desenvolvimento de lojas e etiquetas indicativas para aumentar sustentabilidade (Crédito:Divulgação)

No ano passado, em parceria com Sou de Algodão, a varejista lançou uma coleção de peças em jeans produzidas com algodão com certificação socioambiental e rastreadas com a tecnologia blockchain. “Começamos o trabalho de rastreabilidade com a Renner e a Reserva. Hoje temos parcerias com mais de 1,5 mil marcas”, afirmou à DINHEIRO Silmara Ferraresi, diretora do Movimento Sou de Algodão.

A varejista também tem realizado investimentos em torno de R$ 1 bilhão por ano nos últimos períodos para ter assertividade com práticas sustentáveis como a produção, o modelo de loja e as etiquetas. De acordo com Faccio, CEO da Lojas Renner, a maior parte desse investimento é destinada à tecnologia. “Capturamos tendências, otimizamos processos e nos conectamos com os fornecedores a partir da tecnologia de dados e inteligência artificial”, disse.

No último ano, a companhia inaugurou o centro de distribuição de Cabreúva (SP), o qual é 100% automatizado com 312 robôs, treinados por inteligência artificial e responsáveis por selecionar e controlar mercadorias. Foram investidos R$ 800 milhões no empreendimento, que visa aumentar a sustentabilidade financeira e ambiental dessa etapa.

45%
de mulheres em cargos de alta liderança.Objetivo é crescer 10% até 2030

Seguindo a média de investimentos, a companhia vai investir R$ 880 milhões neste ano, especialmente em tecnologia, inovação e na rede de lojas. O objetivo é abrir cerca de 30 unidades até o final do ano. Em 2023, foram 35 novas operações. Sem revelar as estimativas de crescimento em receita, Faccio afirmou que a varejista entra em um ciclo de crescimento e rentabilidade mais robusta. “Tivemos ciclos de investimentos maiores nos últimos anos, o que de certa forma pressionou nossos resultados, tanto pelo desenvolvimento, quanto pela evolução”, ponderou. Agora, a companhia veste novas peças para montar um look na moda tanto do lucro quanto de ESG para continuar crescendo.

30,5%
é o número de pessoas negras em posições de liderança. Meta é chegar a 50%