QUEM ENTRA NA SALA de reuniões da sede da LG Electronics, em Seul (Coréia do Sul), corre o risco de levar um baita susto. É que o idioma coreano vem sendo progressivamente substituído pelo inglês. Além disso, boa parte dos executivos de olhos puxados deu lugar a tipos ocidentais, recrutados nas hostes de HP, IBM e Pfizer. Essa é a face mais visível da estratégia de globalização que vem sendo posta em marcha por Yong Nam, presidente da LG Electronics, gigante cujas receitas somam US$ 44 bilhões. O dirigente nega que isso coloque em risco a identidade da corporação. “Jamais deixaremos de ser uma empresa sul-coreana. O que queremos é renovar nossa cultura corporativa, fazendo da LG uma companhia cada vez mais orientada para os mercados nos quais ela atua”, disse Yong Nam à DINHEIRO, em entrevista por e-mail. As mudanças têm por objetivo livrá-la de uma espécie de armadilha. Apesar de ser reconhecida em todos os cantos do planeta, a LG carrega o ranço de ser uma empresa coreana, dirigida por coreanos e que enxerga o mundo sob a ótica coreana. Isso, em última análise, ajudou a sedimentar uma visão distorcida de que ela fabrica produtos de baixo preço e com pouca inovação. Para reverter a situação, Nam também mandou reforçar a verba de marketing em US$ 400 milhões. Parte dessa bolada será usada no desenvolvimento da nova identidade visual, feita a partir de uma pesquisa global envolvendo dez mil consumidores.

 

 

 

 

E o Brasil, nesse caso, pode ser uma referência. Por aqui a empresa goza de grande prestígio junto aos consumidores de todas as faixas da pirâmide social. E isso se reflete no balanço financeiro. As receitas cresceram 39% em 2007 e a expectativa é avançar outros 20% neste ano, fechando o período com US$ 3 bilhões. “O Brasil é um mercado com enorme potencial, no qual a LG já se destaca em vários segmentos, como o de tevês”, avalia Nam. Os números confirmam. Os coreanos dominam 45% das vendas dos modelos de plasma e LCD. O desempenho é fruto de tacadas ousadas. Com a fabricação local, em 2005, a LG pôde derrubar à metade o preço dos tevês de plasma. Também foi a primeira a apostar na fatia premium do segmento de linha branca (geladeiras e máquinas de lavar, por exemplo). “Nós introduzimos o conceito de geladeira side-by-side no Brasil”, diz Eduardo Toni, diretor de marketing da LG Electronics da Amazônia.

 

Apesar de sua indiscutível força, a LG ainda enfrenta resistências, especialmente nos EUA e na Europa. InInvestimentos em tecnologia e lançamento de itens sofisticados vêm ajudando a mudar isso. Só que em um ritmo lento para as ambições de Yong Nam. Conhecido pela obsessão por resultados, o executivo pode encurtar o caminho rumo ao Olimpo com a compra da divisão de eletrodomésticos da GE, colocada à venda recentemente. A transação conta com um aliado de peso: Jeffrey Immelt, presidente da GE. Em recente visita a Seul, Immelt encheu a bola da rival: “A LG é uma forte candidata à aquisição”, disse ele à revista Business Week. Se for bem- sucedido, o presidente da LG repetirá a trajetória de outros gigantes asiáticos, como a japonesa Sony, que conseguiu se firmar como uma marca de prestígio global.