04/04/2014 - 21:00
Sucesso na década de 1990, a boneca Docinhos Mágicos, produzida pela Estrela, era uma ideia simples de um doce que virava brinquedo. Com preço atrativo, fabricada em plástico e borracha, a Docinhos Mágicos caiu no gosto das meninas. As dificuldades da marca com a concorrência chinesa, no entanto, levaram sua dona a retirá-la de linha em menos de dez anos. Mas os bons resultados daquela época não foram esquecidos. Depois de 20 anos de seu lançamento, esse mesmo modelo foi repaginado para uma nova geração. No fim de 2012, a Estrela lançou as Cupcake Surpresa, bonecas que vinham dentro dos bolinhos. A fórmula açucarada, mais uma vez, deu certo.
Carlos Tilkian, CEO: “Poderíamos produzir no Brasil, mas a questão
logística, principalmente a infraestrutura portuária, nos atrapalha
e encarece o produto”
Em pouco mais de um ano, a companhia havia vendido um milhão de unidades. E foi esse retorno bem-sucedido de um produto já consagrado por duas gerações que levou a fabricante brasileira de brinquedos a voltar a sonhar com mercados lá fora. Um dos alvos da Estrela são as crianças americanas. Mas agora, em vez de brigar com os chineses, a empresa usará o país oriental como aliado para ter acesso ao mercado da América do Norte. O investimento inicial feito pela companhia para estruturar a operação e montar seu showroom em Hong Kong foi de US$ 100 mil. O CEO da companhia, Carlos Tilkian, já está com as primeiras encomendas na mão.
“Em 90 dias, devemos começar a exportar para os Estados Unidos”, afirma. A ideia é montar na China as bonecas Cupcake Surpresa, que serão embarcadas diretamente para as lojas americanas sem escalas por aqui. “Poderíamos produzir no Brasil, mas a questão logística, principalmente a infraestrutura portuária, nos atrapalha e encarece o produto”, diz. Além dos Estados Unidos, Tilkian quer voltar a exportar para países europeus, a começar pela Rússia. Outra região do globo que interessa à Estrela é o Oriente Médio. Em seus tempos áureos, a fabricante de brinquedos exportava jogos de madeira para diversos países.
“Queremos restaurar o prestígio que nossos produtos já tiveram lá fora”, afirma Tilkian. O resgate de brinquedos antigos da marca tem sido uma das principais estratégias da companhia para voltar a crescer. Além de as bonecas com temas de confeitaria ganharem uma nova roupagem, brinquedos como Ferrorama, Autorama e jogos de ação também estão ajudando a Estrela a superar o prejuízo amargado durante anos de concorrência com os produtos chineses. Em 1994, no início do Plano Real, a empresa faturava R$ 380 milhões, com uma participação de mais de 50% do mercado nacional.
Porquinha cor-de-rosa: produtos inspirados em um desenho animado britânico, que tem
feito sucesso na tevê paga no Brasil, é uma das apostas
Dez anos mais tarde, as vendas haviam caído para R$ 67 milhões. No ano passado, faturou R$ 169 milhões, em um mercado total de R$ 4,3 bilhões. Para voltar a crescer, a Estrela também precisou quebrar preconceitos e mudar sua estratégia. Os que antes eram considerados seus inimigos agora são aliados na produção dos brinquedos, pois 25% de todo seu portfólio leva o selo “Made in China”. “Estamos atualizando os produtos, colocando mais eletrônica neles ”, diz Tilkian. O jogo de tabuleiro Banco Imobiliário, por exemplo, ganhou uma máquina de cartão de crédito.
Outro sucesso em décadas passadas, o Cara a Cara também deve ganhar uma versão com mais tecnologia. Os demais produtos são feitos em três fábricas da empresa, em Ribeirópolis (SE), Itapira (SP) e Três Pontas (MG). Outra aposta de Tilkian para voltar a fazer a Estrela brilhar neste ano são os personagens licenciados. Na Feira Brasileira de Brinquedos, que ocorreu na última semana, o principal lançamento da Estrela foram os produtos da porquinha cor-de-rosa Peppa, um desenho animado britânico para o público infantil que tem feito sucesso na tevê paga no Brasil.
“O produto mal foi lançado e já temos uma demanda acima do que esperávamos”, afirma Tilkian. Entre os principais lançamentos, também estão incluídos itens com a assinatura Disney e ainda produtos licenciados por marcas conhecidas e personalidades famosas. Para Tilkian, embora os 9% de crescimento nas vendas tenham ficado abaixo dos 13% esperados para 2013, a expectativa é de aumentar em até 15% as receitas neste ano, acima dos 12% projetados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). Se depender de seu presidente e do saudosismo dos consumidores, a luz da Estrela voltará a brilhar.