29/10/2003 - 8:00
Os amantes de futebol quarentões certamente se lembrarão deles. Eram rádios do tamanho de um maço de cigarro, apenas com a freqüência AM, que os torcedores grudavam nos ouvidos enquanto viam o jogo se desenrolar no gramado. Baratinhos, vendiam mais do que pãozinho quente. Leves, eram chamados de ?rádio de atirar no juiz? ? e, volta e meia, cruzavam os céus do estádio rumo à cabeça do homem do apito. Sua fabricante, a Evadin, controlada pelo empresário Leo Kryss, se orgulhava de produzir o ?rádio que cabe no bolso?. Os radinhos sucumbiram à concorrência dos walkmen, mas agora a Evadin quer voltar ao bolso e ao ouvido dos consumidores. Em novembro, lançará seu primeiro celular, com tecnologia TDMA. Para isso, utilizará uma de suas marcas, a Aiko. Até o final de 2004, pelo menos outros três modelos chegarão às prateleiras das lojas. O novo negócio da Evadin estava em gestação há um ano. As conversas rolaram com meia dúzia de possíveis parceiros tecnológicos. O acordo final foi assinado com a fabricante coreana, a Telian. Kryss está desembolsando US$ 10 milhões para modernizar sua fábrica de celulares em Manaus e desencadear uma campanha de marketing com a chamada ?Dê um alô no celular Aiko?. Se os resultados forem estimulantes, a companhia tentará um retorno às origens, estampando a marca Aiko em aparelhos de som e televisores. ?Não há nada definido em relação a isso, mas também não descartamos a idéia?, afirma Jairo Wisek, vice-presidente de marketing e um dos mais próximos colaboradores de Kryss.
A aposta nos celulares é uma tentativa da companhia em recuperar o vigor das décadas de 70 e 80, derrubado por três golpes duros. O primeiro deles foi a quebra da Arapuã. Uma antiga amizade entre Kryss e o dono da rede varejista, Simeira Jacob, transformou a Arapuã no principal canal de distribuição dos produtos Evadin. Com a quebra, a amizade acabou e Kryss amargou um prejuízo próximo dos R$ 100 milhões. Depois foi a vez da Mitsubishi romper um acordo com a empresa brasileira. A Evadin produzia televisores com a marca japonesa e foi responsável por um lance de marketing inédito: a garantia dos aparelhos até a próxima Copa do Mundo. Lançado em 1982, o mote transformou a Mitsubishi em uma das grifes mais prestigiadas do setor eletroeletrônico. O acordo fez água, quando a corporação nipônica desistiu dos negócios no Brasil. A Evadin alega que possui direitos sobre a marca e continua a utilizá-la. O caso está na Justiça. Siwek não comenta o assunto. O terceiro golpe veio da Motorola. A Evadin montava celulares e estampava neles a marca americana. Tudo ia bem, até que os americanos inauguraram uma unidade em Jaguariúna (SP) e assumiram a produção.
Menos que poupança. ?A Evadin sofreu um problema comum às empresas sem marca própria?, avalia um especialista. ?Seu destino ficou vinculado à estratégia de terceiros. Em poucos anos, ela se tornou uma empresa sem produtos, sem produção e, pior, sem fontes de receitas.? Em 2001, data dos últimos dados disponíveis, o faturamento da Evadin da Amazônia, braço industrial do grupo, atingiu US$ 92 milhões, 12% menos do que em 2000. A rentabilidade sobre o patrimônio não superou 4%, ou seja, menos que a poupança. Hoje, de suas linhas de montagem saem televisores Diamond Vision, dona de cerca de 2% do mercado, microcomputadores PCI e toca-fitas e CDs com a assinatura Siemens VDO.
Para entrar no mundo dos celulares, Kryss resgatou a marca Aiko. O nome teve prestígio nas décadas de 70 e 80, no embalo das boas vendas de conjuntos de som compactos, e sobreviveu até quatro anos atrás, quando foi retirada do mercado. ?Ela ainda está presente na cabeça do consumidor?, garante Siwek. Ele aposta nos recursos do primeiro modelo Aiko, raros, segundo ele, em aparelhos TDMA. O número de componentes, cerca de 350 contra a média de 450 no mercado, também garante um peso menor. ?Os concorrentes não investiram em aparelhos para TDMA e deixaram um espaço aberto, que pretendemos aproveitar?, diz Siwek. Outro trunfo da Evadin, segundo ele, é a estrutura de distribuição para o varejo. ?As operadoras poderão se livrar desse tipo de trabalho?, diz ele.