Shopping Cidade Jardim, Catarina Fashion Outlet, Fazenda Boa Vista, Hotel Fasano. Marcas reconhecidas no Brasil e diretamente relacionadas ao consumidor de alta renda ­ — aquele com patrimônio pessoal superior a R$ 10 milhões. Joias que, além de prestígio, dão ao grupo JHSF suporte para expandir as operações internacionais, iniciadas em 2010, no Uruguai. A estratégia foi retomada nos últimos meses com a inauguração de um hotel e de um restaurante da grife Fasano em Nova York, nos Estados Unidos, onde a companhia trabalha no lançamento de uma novidade. “O negócio já está feito. Agora é só executar”, afirmou à DINHEIRO Thiago Alonso de Oliveira, CEO da JHSF, que registrou faturamento bruto recorde de R$ 2,2 bilhões em 2021.

Com atuação baseada em quatro pilares — desenvolvimento imobiliário, hospitalidade & gastronomia, shopping centers & fashion retail e aeroporto internacional —, a líder no segmento de alto luxo deu início às novas investidas no exterior em 2021 com a abertura do Hotel Fasano Fifth Avenue, no coração de Manhattan. O investimento consumiu entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões. “O hotel tem trabalhado com uma taxa de ocupação bastante alta”, disse o executivo. “E o restaurante Fasano também tem sido muito bem avaliado pelos críticos da cidade.”

PONTO DE PARTIDA O Hotel Fasano Punta del Este, no Uruguai, foi o precursor do movimento internacional da JHSF, em 2010. (Crédito:Divulgação)

O sucesso da iniciativa, aliada à experiência bem-sucedida com a operação uruguaia em Punta del Este — onde a JHSF ergueu também o condomínio Fasano Las Piedras —, foi o ponto de partida para novos projetos nos EUA. A empresa identificou oportunidade para fazer receita em Miami, também com a construção de um hotel e de um restaurante, com previsão de inauguração em 2024. O montante a ser aportado no negócio não foi revelado, mas deve superar os US$ 100 milhões. “Não dá para balizar porque depende do tamanho do restaurante, do tamanho do hotel, se eu serei o dono do hotel, ou não. Qualquer coisa que eu falar a gente vai errar.”

Além da expansão pelos Estados Unidos, o grupo estuda opções de negócios na Europa. “Estamos analisando vários países. Posso falar em Inglaterra, França, Itália e Portugal.” No entanto, não há pressa para a definição de um local. “Não é abrir por abrir”, disse o executivo. Ele afirma que vai implantar onde fizer sentido, encontrar o lugar correto para aí sim ter um comprometimento de data para inaugurar. O grupo pretende atuar na região com hotelaria, gastronomia e incorporação, com a proposta de alcançar uma gama de milionários 50 vezes maior que a do Brasil, calculada aqui em 250 mil pessoas.

CORAÇÃO DE MANHATTAN A companhia abriu caminho no mercado dos Estados Unidos com a inaguração do Hotel Fasano Fifth Avenue, em Nova York, no ano passado. (Crédito:Divulgação)

O economista Ricardo Mello, especialista em gestão de negócio e com experiência no mercado de alto luxo, aprova o processo de internacionalização da JHSF. Segundo ele, os consumidores são similares e a companhia terá a oportunidade de oferecer produtos e serviços para quem já conhece a marca, além de atrair o consumidor que hoje não está no seu mercado endereçado. Mas faz uma ressalva: “O crescimento no segmento de alta renda tem de ser muito controlado e coerente, porque você não pode perder a qualidade”, disse. “Caso contrário, você não consegue crescer muito rapidamente.”

O portfólio da JHSF no segmento de hospitalidade & gastronomia tem nove hotéis em operação, outros quatro em construção, além de 28 restaurantes de bandeiras como Fasano, Baretto, Gero e Parigi. No terceiro trimestre deste ano, a divisão gerou R$ 93,3 milhões (16,7%) da receita bruta da companhia no período, de R$ 559,3 milhões. O total arrecadado foi 31,6% maior do que o de igual intervalo no ano passado e 78,3% superior ao registrado em 2019, na época pré-pandêmica.

IMOBILIÁRIO Apesar da empolgação com os projetos no exterior, é no Brasil — e no segmento de incorporação ­— que se encontram os negócios mais lucrativos do catálogo do grupo. Eles foram responsáveis, entre julho e setembro, por R$ 337,4 milhões (60,3%) do faturamento bruto da empresa. Se levados em conta os projetos já lançados e em desenvolvimento na história da JHSF desde a fundação, em 1972, o Valor Geral de Vendas (VGV) ultrapassa os R$ 44 bilhões, com empreendimentos de sucesso como Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, no interior de São Paulo.

As operações do grupo no segmento seguem a pleno vapor. “Lançamos dois projetos na região da Boa Vista: o Boa Vista Village e o Boa Vista Estates”, disse o CEO. O VGV somou respectivamente R$ 4,5 bilhões e R$ 6 bilhões. “Em São Paulo [capital] a gente lançou o projeto do Fasano Cidade Jardim [R$ 632 milhões de VGV].” Segundo Oliveira, há dois outros projetos em desenvolvimento em áreas próximas ao Cidade Jardim. No setor de shopping centers & fashion retail, a empresa deve concluir até o início de 2023 a expansão do Shopping Cidade Jardim e do Catarina Fashion Outlet. No último caso são investidos R$ 170 milhões para que o espaço na Rodovia Castello Branco, em São Roque (SP), dobre de capacidade e chegue a 300 lojas. Os próximos passos da JHSF no segmento serão um shopping na avenida Faria Lima e outro no Boa Vista Village.

NAS ALTURAS O aeroporto executivo São Paulo Catarina foi inaugurado em 2019 com dois hangares, número que deve chegar a 12 no primeiro trimestre de 2023. (Crédito:Divulgação)

Não é apenas em terra firme que os negócios da JHSF têm decolado. As operações do São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional, também em São Roque, seguem de vento em popa. Inaugurado no final de 2019 com apenas dois hangares, o espaço já quadruplicou de tamanho e a companhia realiza investimentos de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões para uma nova fase de expansão com a construção de outros quatro hangares. “Em três anos a gente vai crescer seis vezes”, disse o CEO.

O potencial do aeroporto aumentou ainda mais a partir da liberação para voos internacionais, em meados de 2021. De lá partem aviões para Nova York, Londres e Paris. Somados os voos nacionais e para o exterior, o São Paulo Catarina tem capacidade anual de 200 mil pousos e decolagens. O terminal dedicado à aviação executiva ganhou maior projeção em maio, quando Elon Musk pousou ali com seu jato. O dono da Tesla, da SpaceX e do Twitter participou de uma reunião de negócios na Fazenda Boa Vista, que fica bem perto do Catarina. “Quando a gente fala de qualidade é ter recebido no mesmo dia o cara mais rico do mundo no nosso aeroporto, no nosso condomínio e no nosso hotel”, disse Oliveira. “Acho que foi um selo. Naquele dia a gente fez, como costuma se dizer no futebol, um hat-trick.”

Para o advogado Ricardo Fenelon, especialista em direito aeronáutico, o aeroporto São Paulo Catarina é um dos projetos mais bem-sucedidos no segmento, além de ter sido realizado pela iniciativa privada. Para o ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o processo de internacionalização do aeroporto foi um marco positivo, pois levou para o local um novo tipo de cliente e de aeronaves com alcance para voos internacionais. “É importante lembrar que o projeto do Catarina não começou hoje. Foram muitos anos de trabalho, estudos e investimentos na última década”, afirmou Fenelon, que vê potencial de crescimento para o mercado no Brasil com novas modalidades de negócio, como, por exemplo, o compartilhamento de aeronaves.

SUCESSO NO INTERIOR O Catarina Outlet, em São Roque, deve ter capacidade duplicada para 300 lojas ao término da fase de expansão, além de se tornar o maior do País. (Crédito:Divulgação)

MERCADO DE LUXO Pesquisa da consultoria Bain em parceria com a Fondazione Altagamma registrou movimento de 288 bilhões de euros do mercado global de luxo em 2021 — aumento de 7% em relação a 2019 —, com projeção de crescimento de até 15% em 2022. O especialista Ricardo Mello aposta em alta também de dois dígitos do Brasil nos próximos anos, além de valorizar o trabalho desempenhado pela JHSF. Para ele, a empresa fez aposta anos atrás, “quando entendeu que existia uma oferta muito mal organizada e limitada para o público de alta renda nos segmentos de hotelaria, restaurantes e até mesmo na parte de imóveis.”

Apesar de destacar o crescimento dos negócios da empresa nas últimas duas décadas, Mello aponta alguns riscos no trajeto. Segundo ele, como a companhia está muito focada em imóveis, trabalha com estoque de performance. “Quando vende um imóvel, a empresa ainda não comprou os materiais para a construção. Se você tem uma mudança abrupta de custo lá na frente, isso pode complicar um pouco as suas margens”, afirmou. Os juros dos financiamentos com a Selic a 13,75% também podem represar negócios. “Mesmo a pessoa de alta renda pode financiar uma parte do valor do imóvel”, afirmou. “Ou não financiar e tirar de outros negócios. Quando o custo do dinheiro fica maior, atrapalha um pouco a venda do imóvel.”

Seja no Brasil, seja no exterior, a JHSF se mostra disposta a desafiar todas as adversidades. Em terra firme ou no ar.

Uma amizade bem lucrativa

“Amigos, amigos, negócios à parte”. O conhecido ditado, que de tão popular virou até título no Brasil de uma comédia dirigida por Billy Wilder, pode ser verdadeiro em muitos casos, mas tem lá suas exceções. E uma delas é sem dúvida a longa amizade das famílias Auriemo e Fasano, que se consagrou na forma de uma sociedade empresarial em 2007, mesmo ano em que a que a JHSF fez sua abertura de capital na bolsa brasileira. Desde então foram inúmeros os negócios envolvendo o grupo liderado por José Auriemo Neto, o Zeco, como é conhecido pelos mais próximos o atual controlador da JHSF, e o conglomerado de restaurantes e hotéis de luxo que ganhou impulso nas mãos de Rogério Fasano, o Gero (ele alterou seu nome oficialmente depois de superar problemas de saúde). Reunindo talentos complementares, eles tornaram a grife Fasano o maior símbolo do luxo brasileiro na alta gastronomia e na hotelaria. Mais que isso, consolidaram uma estratégia de negócios que também depende de expertises complementares. De um lado, a excelência na arte de bem receber, reconhecida por gerações que frequentaram as mesas dos diferentes endereços com a assinatura Fasano ao longo de décadas. De outro, o espírito visionário e a capacidade de empreender como poucos no segmento de alto padrão que se tornou a marca registrada de Zeco Auriemo. Como descrito no livro Fasano Dal 1902, que celebra os 120 anos da família de imigrantes italianos no Brasil, “o caminho de crescimento e sinergia vislumbrados no início da sociedade consolidou-se em um caminho de amizade, trabalho e sucesso”.