A pequena Juazeiro do Norte está se tornando o principal destino turístico do Ceará graças à fé em Padre Cícero e boa dose de marketing em torno da imagem do ?santo?. Segundo um estudo recente da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a cidade de cerca de 250 mil habitantes, localizada na região do Cariri, já ocupa o primeiro lugar como destino turístico do Estado. Oficialmente, a igreja matriz de Juazeiro do Norte cadastra 2,5 milhões de visitantes por ano. De acordo com a Secretaria Estadual de Turismo do Ceará, Fortaleza, um dos principais centros de lazer do Nordeste, hospedou no ano passado 655 mil. Sem vocação industrial, Juazeiro do Norte ainda sobrevive do turismo religioso e do comércio que abastece as cidades da região. Levando-se em conta um gasto médio de US$ 55,00 por visitante, estima-se que o comércio local movimente R$ 250 milhões ao ano. Mas já há planos para que a cidade deixe de receber apenas romeiros com pouco dinheiro para atrair também classes econômicas mais abastadas. O mais ambicioso é o projeto para a construção de um parque temático, ao custo de US$ 115 milhões. O investimento será feito pelo setor público e pela iniciativa privada. A construtora Queiroz Galvão, da Bahia, foi a primeira grande empresa convidada a participar da obra, mas já há conversas com a Odebrecht e outros grupos, para que participem do empreendimento. A idéia é montar um shopping e uma cidade cenográfica que vai reproduzir a Juazeiro do começo do século, quando Padre Cícero ainda era vivo. Quando o projeto estiver concluído, calcula a Prefeitura, deverá receber 6 milhões de turistas por ano.

 

Juazeiro está mudando. É bem verdade que o trabalho informal responde por quase toda a economia da cidade, conceito que, dizem, era defendido com fervor por Padre Cícero. Para o ?padin?, valia qualquer atividade desde que ninguém ficasse ocioso. É o caso de Alessandro Fernandes, que perpetua na família a tradição dos santeiros, como são conhecidos os fabricantes de imagens religiosas. Trabalha com a mulher e três ajudantes. Ninguém tem registro em carteira e sua produção de 1.500 peças por mês é vendida em todo o Nordeste. Há casos, porém, em que a informalidade está sendo substituída por negócios consolidados, como o de Francisco de Assis Freitas. Em 1994, ele começou a fabricar velas manualmente. Agora, tem a maior produção da cidade: 15 toneladas mensais. Freitas aderiu à produção industrial depois que conseguiu um financiamento de R$ 26 mil no Banco do Nordeste. Hoje, fatura meio milhão de reais por ano.

Quase todo o artesanato produzido em Juazeiro do Norte é feito dentro de casa, com a participação familiar. Ainda assim, há até quem esteja abastecendo o mercado internacional. O item tipo ?exportação? da Associação dos Artistas Padre Cícero é a cesta de palha que serve para embalar a cachaça Nega Fulô, do interior do Rio, vendida para os EUA e para a Europa. A cada trimestre são vendidas 90 mil peças. Na transição entre o velho e o novo em Juazeiro, alguns setores antes distantes da realidade dos romeiros passam a enxergar a cidade de outra forma. Os donos de hotéis, por exemplo, rezam todos os dias para que o parque temático saia do papel e traga hóspedes endinheirados. Atualmente, os poucos hotéis da cidade vivem às moscas. Isto porque os romeiros não têm condições de pagar a diária e preferem os chamados ranchos ? casas com muitos quartos, onde eles penduram as redes. Padre Cícero, agora, está atendendo as preces de todos os setores.