Se dez anos atrás um amigo lhe convidasse para visitar sua adega particular, você pensaria: ou ele é um fanático por vinho ou um profissional do ramo. Hoje, diante do mesmo convite você pode pensar diferente, pois já existe muita gente que tem adega em casa. Nos últimos anos, o vinho, uma bebida de aura requintada e restrita a poucos conhecedores, se difundiu. Não que esteja se popularizando ? uma única garrafa de um bom exemplar francês, por exemplo, continua custando cerca de US$ 200 e, em leilões raros, pode bater na casa dos US$ 50 mil. O que está mudando é que cada vez mais pessoas estão se iniciando no caminho dos enófilos, os amantes da bebida de Baco. Três anos atrás, por exemplo, a Associação Brasileira dos Sommeliers oferecia três cursos de degustação por ano. Hoje são oito. O consumo da bebida entre os brasileiros cresceu 35% de 1997 para cá, segundo importadoras do setor. O símbolo máximo deste culto, no entanto, está dentro de casa: as adegas caseiras deixaram de ser raridade. Elas estão mais simples, podem ser portáteis, não exigem vinhos raros ou espaço. Por isso tudo, estão virando uma febre.

?As pessoas já se preocupam com o espaço ideal para seus vinhos quando projetam o lugar onde vão morar?, conta o arquiteto Jorge Haddad Bittar, que nos últimos dois anos fez 10 projetos de adegas. Portanto, esqueça aquela idéia de que um bom lugar para guardar seus tintos é embaixo da escada. Isso não chega perto das atuais adegas. Só para se ter uma idéia, quem mora em casa e dispõe de um cômodo para seus vinhos, tem gasto entre R$ 2 mil e R$ 50 mil só para preparar o lugar, dependendo do espaço e da quantidade de garrafas. A adaptação inclui climatização (para manter a temperatura constante), umidificação, garrafeiros, pisos e isolamento térmico. Como cada vez mais pessoas querem ter suas coleções ? mas nem sempre têm espaço ? uma boa saída são as adegas móveis, como geladeiras. Elas têm vários tamanhos, três temperaturas e comportam de 50 a 500 garrafas. Os preços variam de US$ 2 mil a US$ 5 mil. ?Numa adega pequena compensa um móvel como este?, diz o empresário Aguinaldo Zackia Albert, presidente da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho e que guarda suas 200 garrafas dessa maneira.

O consumo de adegas móveis impressiona. O Club du Taste Vin, uma distribuidora de vinhos franceses, por exemplo, vende uma por dia. Outra importadora, a Expand, passou de 50 peças por ano, há 15 anos, para mil unidades. ?Quem quer comprar vinho bom precisa montar uma adega, mesmo que pequena?, diz Otávio Piva de Albuquerque, presidente da Expand. E os brasileiros andam interessados por vinhos de qualidade. Na Expand, por exemplo, em 1997 vendiam-se 2 mil caixas de um único tipo de vinho sofisticado. Em 2000, esse número vai chegar a 150 mil.

Para os enólogos, os estudiosos do assunto, o vinho está em alta não só pelo glamour. ?Mas também porque faz bem à saúde?, diz Arthur de Azevedo, presidente da Associação Brasileira dos Sommeliers de São Paulo. A opinião é compartilhada pelo arquiteto Miguel Juliano. ?Sinto uma grande diferença no meu sono se não bebo.? Apaixonado pela bebida, há 35 anos Juliano começou sua coleção. Hoje ele tem uma adega pequena no escritório e outra, com mais de 4.500 garrafas, em casa. Esta, uma das maiores do Brasil, ao lado das de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Paulo Maluf e Otto Baumgart, dono do Shopping Center Norte, em São Paulo. Juliano inclusive transformou seu hobby em profissão. Há 19 anos ele é sócio da Maison Du Vin, uma das grandes importadoras do País.

Nem só de buquê vive uma adega….
Gilvan Barreto
RANIERI: qualidade dos charutos garantida

As adegas andam tão sofisticadas que não servem apenas para conservar bebidas. Elas já estão adaptadas aos queijos ? na França há um grande mercado para isso ? e para os charutos. ?Quis usar uma de vinhos para charutos quando descobri que havia algo específico para o que queria?, conta o empresário Beto Ranieri, dono de uma tradicional tabacaria em São Paulo, e que tem em seu estabelecimento uma das únicas adegas de charuto do Brasil. Não se trata apenas de sofisticação. Conservar uma caixa de charuto numa adega garante controle de umidade e temperatura estável a 18 graus, dando mais longevidade ao produto. Para uma loja é um excelente negócio. Já para uma pessoa física, é preciso avaliar se o investimento entre US$ 5 mil e US$ 6 mil vale a pena. Até porque o charuto ? diferente do vinho ? não melhora com o envelhecimento. ?Recomendo a quem tem uma grande paixão e gosta de receber muitos amigos em casa para compartilhar?, aconselha Ranieri.