Desde a década de 70, quando a primeira geração de anticoncepcionais surgiu no Brasil ? revolucionando o comportamento sexual ?, não se via um momento tão fértil como agora. Somente de janeiro a agosto deste ano, a indústria apresentou sete novidades ao mercado. O segmento voltou a ser a grande vedete do setor. Tem método revolucionário chegando, laboratório brasileiro estreando nesta área e multinacional voltando a produzir depois de décadas sem lançamentos. Em geral, os novos medicamentos são mais caros e prometem causar menos efeitos colaterais ao organismo feminino. A razão para apostar nas pílulas é simples: o Brasil, terceiro maior mercado do mundo, movimenta US$ 220 milhões ao ano com a venda de 56 milhões de caixas do remédio. ?Esse é um dos poucos segmentos que crescem mais de 10% ao ano na indústria farmacêutica nacional. É por isso que tantas empresas resolveram olhar para esse mercado de uma vez só?, avalia Rodrigo San Martin, gerente da linha feminina da Janssen-Cilag, empresa da Johnson & Johnson.

A companhia americana é o melhor exemplo disso. A Janssen-Cilag ficou 20 anos sem trazer nenhuma novidade para o Brasil e agora lança o Evra, o primeiro anticoncepcional em forma de adesivo. O medicamento é colocado na pele e libera hormônios diariamente. A vantagem é que a droga não passa pelo estômago e a mulher só precisa lembrar do remédio três vezes por mês. E o Evra é só o primeiro de uma série. A subsidiária brasileira criou uma unidade de negócios para cuidar da linha feminina e tem planos de fazer um grande lançamento a cada dois anos. O interesse pelo Brasil é tanto que os executivos conseguiram convencer os acionistas a vender o adesivo pela metade do preço cobrado nos EUA. ?Vamos perder margem, mas ganhar em escala?, completa San Martin. Líderes mundiais desse mercado, como Schering e Organon, também apostam suas fichas fabricando tops de linha. O desempenho das vendas até agora mostrou que existe espaço para medicamentos mais caros e inovadores. Em cinco meses, o Nuvaring, anel vaginal da Organon, conquistou 80 mil brasileiras, desempenho superior ao do mercado americano. O anel tem um mecanismo semelhante ao do adesivo e só precisa ser trocado uma vez por mês. A pílula Yasmin da Schering, lançada em fevereiro, já é a mais prescrita pelos médicos, segundo dados do IMS Heath. Todo esse sucesso porque o hormônio sintetizado é o que mais se aproxima do natural. A pesquisa durou 12 anos e custou US$ 500 milhões à Schering.

Nos últimos dez anos, o número de marcas de anticoncepcionais dobrou ? hoje são mais de 60. As empresas nacionais também passaram a fazer parte do jogo. Em vez de inovação, elas brigam por preço. O adesivo da americana Janssen-Cilag é revolucionário, mas custa R$ 45 (caixa com três). O anel da holandesa Organon, R$ 37. A pílula Yasmin, da alemã Schering, chegou às farmácias por R$ 42. Os brasileiros, por sua vez, não custam mais de R$ 20. Isso porque as empresas nacionais não têm de gastar centenas de milhões com pesquisa. Elas licenciam ou lançam produtos similares aos que já existem no mercado. O laboratório Medley puxa essa fila. Fez sua estréia em junho e tem planos de lançar uma nova pílula a cada ano fazendo parcerias com estrangeiros. ?Isso é possível para um laboratório nacional. Gastamos menos de US$ 1 milhão para lançar o Mínima?, diz Valdir Barbosa, diretor de marketing da Medley. A combinação de hormônios presente na pílula da Medley é o tipo mais prescrito no Brasil. São de baixa dosagem, feitas para ser a primeira pílula da mulher. Já existe até uma chamada Adoless. A Farmoquímica, fabricante do produto, quer se especializar nesse público ? tem creme vaginal para virgens e antiinflamatório para cólica menstrual. O número de medicamentos que surgiram a partir de abril de 2002 nessa categoria causa espanto até mesmo aos executivos. Foram dez novas marcas, segundo Mônica Sampaio, gerente de produto da Aché, que engrossa essa lista com o seu Allestra. O laboratório volta a todo vapor depois de quatro anos sem novidade. ?Vamos reforçar nossa vocação nessa área. Pouca gente sabe que somos fortes nesse segmento?, diz Mônica.