06/10/2004 - 7:00
Very Important People. A expressão inglesa, que significa um grupo de pessoas muito importantes, é usada para definir uma pequena camada da população: os vips. São personalidades que, além de terem dinheiro, usufruem dos serviços mais exclusivos que existem. Eles são paparicados em hotéis cinco estrelas, mimados em restaurantes e não sabem o que é pegar uma fila. Quer dizer, não sabiam. Ultimamente, essa turma de carteira rechonchuda está aprendendo aguardar a vez. Esperam quatro meses para comprar uma bolsa de R$ 47 mil, um mês e meio para adquirir um par de brincos de R$ 25 mil e até um ano para ter um relógio estimado em US$ 70 mil. É um fenômeno que prova a explosão do consumo de luxo no País. ?Quem está na fila deseja ter um produto que poucas pessoas podem adquirir?, diz Carlos Ferreirinha, diretor da consultoria MCF Fashion.
A espera por um produto exclusivo acontece principalmente porque as grifes fabricam peças em quantidades reduzidas. Trata-se de uma estratégia proposital para mexer com o brio dos clientes que pretendem se diferenciar dos outros. ?Quanto mais caro, mais fila faz?, diz Freddy Rabbat, diretor da Montblanc do Brasil. Na semana passada, a grife alemã trouxe 100 unidades da edição limitada da caneta Kafka. Cada tinteiro, em homenagem ao escritor Franz Kafka, custa R$ 4,6 mil e havia pessoas aguardando a sua chegada desde setembro de 2003. ?Esgotou rapidamente e agora já tem gente esperando chegar outras peças?, diz Rabbat. O mesmo aconteceu com o creme da La Prairie. ?Trouxemos 120 unidades e acabou em apenas 15 dias?, diz Cláudia Fernandes, gerente de marketing da marca. Detalhe: cada frasco custa R$ 2,35 mil.
Os produtos acabam em tão pouco tempo porque o seleto grupo de clientes está sempre antenado com o que se passa no exterior. As peças são, na maioria das vezes, lançadas primeiro nos Estados Unidos e Europa. Chegam no Brasil meses depois. ?Temos clientes que vêm os lançamentos na internet ou em revistas internacionais e já encomendam?, diz Cristiane Salles Mahler, gerente da loja da Louis Vuitton, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. A bolsa da marca, em couro de crocodilo, custa R$ 47 mil e o tempo de espera é de quatro meses. Do outro lado da cidade de São Paulo, no bairro da Lapa, numa pequena loja com bolsas amontoadas na calçada, o vendedor decreta. ?Aqui não há espera?, diz Fabriciano Bezerra da Costa, de 23 anos. ?Por R$ 15 você leva o produto na hora.? Os papéis se inver-
teram. A fila da vez é a fila dos endinheirados.
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