Na tarde do dia 29 de outubro, um grupo de executivos japoneses do Grupo Sompo Japan Nippon Koa se reuniu na sede da Yasuda Marítima, sua subsidiária no Brasil, localizada em um prédio discreto no Paraíso, bairro da zona sul de São Paulo. Após horas de discussão sobre os rumos da seguradora no próximo ano, os diretores foram surpreendidos com a notícia de que o Banco Central acabara de aumentar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 11,25%. “Tudo o que foi discutido na reunião não valia mais”, diz o paulista Francisco Caiuby Vidigal Filho, presidente da Yasuda Marítima.

Vidigal, porém, manteve a fleugma. “Foi bom isso ter acontecido, pois é um enorme desafio explicar as particularidades do mercado brasileiro aos japoneses”, diz. Esse desafio tem tomado muitas horas do executivo que conduz, desde 2013, a integração das empresas Yasuda e Marítima, controladas desde 2009 pelo Sompo, segundo maior grupo segurador do Japão. Naquele ano, os japoneses, que já eram donos da Yasuda, pagaram à família Vidigal R$ 310 milhões por 50% da Marítima. Em 2013, o Sompo comprou os 50% restantes, por R$ 200 milhões.

No fim de outubro, a empresa foi autorizada a unir marcas e atividades. Com isso, nasceu a quinta maior seguradora independente do País, que faturou R$ 2,6 bilhões, no ano passado, e prevê chegar a R$ 3 bilhões este ano. A Marítima, de acordo com Vidigal, vende seguros de vida, de automóveis e planos de saúde no varejo, ao passo que a Yasuda dedica-se mais à área corporativa, atendendo principalmente empresas japonesas no Brasil. Com a integração, os produtos serão oferecidos sob a marca Yasuda Marítima, os serviços serão unificados e a empresa vai atender a um novo segmento, o de energia.

“Até o início de 2015 vamos fechar nossa primeira apólice para uma empresa de óleo e gás”, diz Vidigal, sem relevar o nome do provável cliente. A Yasuda Marítima só poderá atender a esse nicho em razão da parceria com a resseguradora britânica Canopius, que foi comprada pelo Sompo do grupo inglês Lloyd’s, em dezembro de 2013, por US$ 963 milhões. A perspectiva de apagão dos investimentos do setor não preocupa Vidigal por causa dos vínculos do Sompo com as corporações japonesas que já atuam no Brasil.

O mercado é amplo e crescente. Em 2013, as empresas de óleo e gás contrataram R$ 852,9 milhões em seguros, um crescimento de 67% ante 2012, segundo um levantamento da resseguradora nacional Terra Brasis, realizado especialmente para a DINHEIRO. “Neste ano, o setor faturou R$ 647,3 milhões até setembro, e a projeção até dezembro é de R$ 865,6 milhões”, diz Luiz Alberto Pestana, sócio da Terra Brasis. “Só o pré-sal vai demandar a construção de aproximadamente 25 plataformas, que operarão cerca de 60 poços”, diz Pestana.

GRANDES RISCOS Cobiçado pela Yasuda, o mercado de energia integra a carteira de grandes riscos das seguradoras. Esse segmento vem passando por mudanças significativas, nos últimos meses, com as grandes obras de infraestrutura realizadas no Brasil. Algumas empresas brasileiras têm colocado suas carteiras à venda. A Itaú passou adiante essa área à americana ACE em julho, por R$ 1,52 bilhão. Em outubro, a SulAmérica contratou uma consultoria para avaliar a venda dessa atividade, que rendeu R$ 88 milhões no primeiro semestre, ou 1,4% de suas receitas.

Já a britânica RSA decidiu sair do segmento de forma mais suave, deixando de renovar as apólices. “Chegamos a cogitar a venda. No entanto, vimos que queríamos fazer uma transição tranquila para os clientes”, afirma Thomas Batt, presidente da companhia. A justificativa é a redução das margens do segmento. “É uma carteira que exige muito capital”, diz. “O retorno tem ficado mais difícil e, ao analisarmos a tendência, concluímos que a perda de rentabilidade não compensava.” O nome mais recente a integrar essa lista é o da paulista Nobre Seguradora, que atua desde 1992 nos ramos de vida, planos de previdência privada e aberta, além de ramos elementares.

Os prêmios totais em 2013 somaram R$ 428,9 milhões. Há quem acredite, porém, que as margens compensam e muito. É o caso da Tokio Marine, que participou da disputa pela carteira do Itaú até a última rodada com a ACE. O apetite, no entanto, continua insaciável. “Quando perdemos a concorrência, decidimos crescer de forma orgânica e contratamos mais profissionais”, afirma Felipe Smith, diretor-executivo de produtos pessoa jurídica da seguradora. O executivo confirma que as taxas estão menores por causa do aumento da competição. Mas ele diz que tem conseguido compensar esse aperto na rentabilidade com um crescimento do volume de negócios.

O faturamento da área de grandes obras vem registrando, neste ano, uma expansão de 41% em relação a 2013. Outra que está na disputa por bons negócios no setor é a francesa Fairfax. A matriz possui US$ 1,5 bilhão em caixa, e esse montante pode ser usado para crescimento orgânico ou para aquisições. “Temos olhado todas as oportunidades que aparecem no Brasil”, afirma Bruno Camargo, presidente da Fairfax. “Mas, ao contrário dos otimistas, não estamos vendo um ano fácil em 2015, pois a classificação de risco do País está ameaçada e não há perspectivas de grandes projetos no ano que vem”, diz ele. “Nesse cenário, faz todo o sentido crescer por meio de aquisições.”