NO MUNDO DO ESPORTE, centésimos de segundo podem significar a diferença entre a glória e o ostracismo. Ninguém se lembra dos que não batem os recordes. No mundo dos negócios, centésimos de segundo podem fazer, igualmente, toda a diferença, a distância entre o sucesso e o fracasso, sobretudo no ramo de roupas esportivas e trajes de competição. A Speedo, fabricante mundial do setor, conquistou esta fração de tempo a seu favor ao lançar o traje LZR Racer, destinado a dar maior velocidade a nadadores, homens e mulheres, nas piscinas olímpicas. O traje, que se assemelha às vestimentas dos super-heróis e foi desenvolvido nos laboratórios de pesquisa da empresa em Londres ? com a colaboração até de técnicos da Nasa ?, surpreendeu o mundo nas últimas semanas. No dia 21 de março, durante o Campeonato Europeu, o francês Alain Bernard quebrou o recorde mundial na mais importante disputa da natação, os 100 m livre. Ele vestia o LZR Racer e completou a prova com 47s60. O recorde anterior de 47s84 pertencia ao holandês Pieter van den Hoogenband, obtido em setembro de 2000, nas semifinais da Olimpíada de Sydney. Dois dias depois, também usando o supertraje, Bernard baixou o próprio recorde para 47s50. A vitória do francês não foi um caso isolado.

 

Ao todo, 14 recordes foram batidos no torneio, e em 13 deles os atletas usavam o LZR Racer. Os feitos asseguram à Speedo prestígio no disputado mercado mundial do setor, onde enfrenta gigantes como Adidas, Nike e Puma. A estréia para valer do traje está marcada para a Olimpíada de Pequim, que vai ocorrer em agosto. Lá, nadadores de todo o mundo vão se enfrentar nas raias olímpicas e a Speedo espera ver a quase totalidade deles usando sua novidade. Fundada na Austrália, a Speedo comemora neste ano o seu octogésimo aniversário. Para seus executivos ao redor do mundo e no Brasil, a festa já começou. ?Os fatos confirmam a credibilidade da Speedo e o seu compromisso com a inovação?, diz Renato Hacker, diretor de marketing da companhia no Brasil. ?Com certeza, teremos um grande momento na Olimpíada.?A delegação brasileira poderá disputar as provas com o LZR Racer, e dois nadadores, Thiago Pereira e Nicholas dos Santos, já experimentaram os trajes. Ao que tudo indica, a Olimpíada vai jogar lenha na guerra tecnológica que é travada entre as empresas do setor. Com sede em Londres, a Speedo está no Brasil há 30 anos. Segundo Hacker, em 2007 as vendas cresceram 40%, graças a um leque mais diversificado de produtos que inclui desde barras de cereais a biquínis fashions. Ao menos um tipo de bermuda, para triatlon, o XLA, foi desenvolvido aqui no Brasil. Naturalmente, as vitórias dos superatletas não se revertem imediatamente em lucros para a Speedo. A marca jamais cogitou viver da venda de seu traje especial, cujo valor não é nenhum absurdo (cerca de US$ 600) e o público é restrito.

A estratégia é associar a marca à vitória, condição capaz de atrair, por todo o mundo, clientes para uma empresa. A exemplo do que fazem as montadoras que disputam a Fórmula 1, a Speedo quer mostrar que é capaz de estar à frente de seu tempo.