23/08/2006 - 7:00
Roger Agnelli, presidente da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), é conhecido pela postura discreta no mundo corporativo e também na vida pessoal. Na terça-feira 15, no entanto, ele deixou aflorar seu lado pop star durante uma cerimônia ocorrida em São Paulo. Reconhecido por acionistas da Vale, que festejavam o bom desempenho das ações da empresa nos últimos anos, Agnelli topou posar para fotos. Aproveitou para fazer uma blague com Lázaro Brandão, presidente do Conselho de Administração do Banco Bradesco, controlador da mineradora. ?Tá vendo ?seu? Brandão, os acionistas estão gostando”, disse Agnelli. O momento de êxtase vivido pelo executivo tem nome e sobrenome: Inco Limited. A canadense é dona da maior reserva de níquel do planeta. Ela tem operações na América do Norte e no sudeste Asiático que lhe garantem receita de US$ 4,5 bilhões. É essa estrela que Agnelli quer colocar na constelação da CVRD. Para isso, está disposto a pagar US$ 17,7 bilhões. Questionado sobre a transação, Agnelli foi lacônico. “É preciso ter paciência, paciência e paciência. Vamos esperar pela decisão dos canadenses”, disse ele à DINHEIRO.
Até agora, Agnelli mostrou que tem paciência e sorte. Na quarta-feira 16, sua arqui-rival Teck Cominco, também de origem canadense, retirou-se do páreo pela Inco. Sobrou apenas a americana Phelps Dodge. Mas, afinal, o que a Vale ganha com a Inco? A resposta é relativamente simples. Apesar de ser uma potência internacional, a CVRD tem seus ativos concentrados no Brasil e uma extrema dependência do minério-de-ferro, que garante 74% de seu faturamento. “Com a Inco, a Vale aumenta seu grau de diversificação e passará a contar com bases produtivas fora do Brasil”, avalia Reginaldo Takara, analista da agência de risco Standard & Poors. É por isso que Agnelli está jogando suas fichas nessa transação. Tanto que, segundo dizem no mercado, poderia adicionar US$ 1 bilhão à oferta inicial.
O presidente da Vale descartou a possibilidade de esse esforço comprometer os investimentos futuros da Vale. Reiterou que sua meta é ampliar a política de diversificação da mineradora, iniciada quando ele assumiu o comando, em 2001. Desde então, o lucro líquido da companhia cresceu de forma exponencial, atingindo R$ 6,09 bilhões no acumulado janeiro-junho de 2006. Para se manter no topo do ranking mundial de minério-de-ferro, Agnelli foi às compras. Primeiro adquiriu a compatriota Caemi. Depois consolidou a posição em cobre (com as minas de Sossego e Salobo). Na seqüência, pôs um pé no segmento de níquel ao desembolsar US$ 750 milhões pela canadense Canico, cujo principal ativo, a mina Onça-Puma, fica no Pará.
Com a Inco, a Vale fortalecerá a sua musculatura, porém ficará mais exposta a riscos. É que ao contrário do minério-de-ferro, cujos preços têm reajuste anual, o níquel é bastante volátil. A cotação varia conforme o humor dos investidores da Bolsa de Metais de Londres. É por isso que a Standard & Poors colocou a mineradora em observação. Dependendo da configuração das dívidas da Vale, após a compra da Inco, ela pode ser rebaixada de BBB+ para BBB-. Ao que tudo indica, Agnelli vai pagar ? e alto ? para ver.