24/03/2004 - 7:00
A Sérgio Amado, o presidente da Ogilvy no Brasil, cabe a definição criada pelo publicitário francês Jacques Séguéla para François Miterrand em 1981: ?a força tranqüila?. Ele a exerce a partir de uma sala espartana no andar térreo do edifício sede da agência em São Paulo, um elegante prédio de quatro andares. É uma espécie de aquário modestamente recuado, de portas sempre abertas. ?Não teria sentido me encastelar lá em cima, entre quatro paredes, como fazem tantos dirigentes?, diz. De seu canto ele controla tudo. Levanta-se para conversar com um cliente que
já esperava há longos minutos. Interrompe os passos trôpegos
de um funcionário que aparece com a perna engessada. ?O que
houve aí??, pergunta com o sotaque profundamente baiano.
A resposta: ?Caí do cavalo?.
Do outro lado do saguão paira um imenso painel com a foto de David Ogilvy (1911-1999), o fundador da agência americana. Entre a sala e o retrato, há uma máquina registradora decorativa (peça comum a todas as filiais pelo mundo) e uma célebre frase de Ogilvy numa moldura. ?Nós fazemos propaganda que vende, que faz a caixa registradora tilintar?. Amado, membro do board mundial da empresa desde 2001, segue esse mantra com avidez. Tem dado certo. A Ogilvy do Brasil teve um faturamento em 2003 de R$ 805,8 milhões ? num crescimento de 21,5% em relação ao ano anterior. Ficou atrás apenas da Newcommbates (atual Y&R), com movimento de R$ 1,017 bilhão. ?Ocorre que eles têm a conta das Casas Bahia, o maior anunciante do País?, explica Amado. Para este ano, ele prevê aumento de 20% nos negócios. ?O plano é chegar a R$ 1 bilhão e ao primeiro lugar no ranking?, diz. Não é missão impossível, tendo em vista o retrospecto de sua gestão.
No ano passado, a Ogilvy conquistou 16 novas contas, entre elas a do Banco do Brasil, Arisco e Açúcar da Barra. Autorizado pela matriz a investir, Amado anuncia os futuros passos. Ainda em 2004 ele fechará a compra de uma agência de relações públicas e uma outra de propaganda no Rio de Janeiro além de uma empresa de promoções em São Paulo. ?Somos ambiciosos?, resume. Nesse ritmo, o escritório brasileiro já ocupa o quarto posto entre as maiores receitas da Ogilvy no mundo ? num total de 70 sucursais.
Aos 57 anos, Amado já não cria. É um superexecutivo cobrado por desempenho. Nada que incomode em demasia esse ex-militante do Partido Comunista, preso aos 20 anos no Congresso de Estudantes da UNE, em Ibiúna, ao lado de nomes como José Dirceu e Wladimir Palmeira. Nada que o assuste depois de presenciar, in loco, a entrada dos tanques soviéticos em Praga, no ano de 1968. Dos tempos de militância política na faculdade de Ciências Sociais em Salvador e do aprendizado com o pai, renomado jornalista baiano, ele aprendeu que por trás de toda nova idéia criativa é preciso rigor e atenção ao cliente. ?Eis o nosso segredo?, arrisca. Pouca coisa o irrita. Mas ele não esconde descontentamento com os publicitários que, sem freios, dizem hoje oferecer serviços holísticos, diferenciados e exclusivos,
em todas as etapas de uma campanha. ?Ora, sempre fizemos isso?, diz. Poucos discordam. Os atuais concorrentes o tratam como pai dessa invenção. Atrás de sua mesa há um bilhete de Nizan Guanaes escrito em fevereiro do ano passado. Diz o seguinte: ?Disputar com você é uma honra. Conviver com você é uma delícia. Aprender com você é um privilégio?.
AS DEZ PRIMEIRAS NO PAÍS
FATURAMENTO EM 2003 (EM REAIS)
1 ? Newcommbates (Y&R)
1.017.674, 03
2 ? Ogilvy Brasil 805.823,00
3 ? Publicis Salles Norton 667.364,21
4 ? McCann-Erickson 600.361,81
5 ? J. Walter Thompson 583.003,13
6 ? Lew,Lara 573.442,31
7 ? AlmapBBDO 550.205,65
8 ? DPZ 496.894,37
9 ? DM9DDB 459.656,07
10 ? Giovanni, FCB 441.436,20