A resistência é um comportamento que os franceses adoram cultivar. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos lutaram contra a ocupação nazista ? embora os poderosos de plantão tenham sido fracos. Na Guerra do Iraque votaram contra a invasão americana. Há um célebre personagem francês dos quadrinhos que ajuda a entender essa postura: Asterix, o baixinho bigodudo, o gaulês irritadiço que luta contra o avanço de César em 50 a.C. Lentamente, contudo, a resistência francesa perde força. Imaginemos a França de hoje como a Gália de Asterix, Obelix e Idéiafix ? nesta comparação, os romanos seriam americanos e árabes com seu poder econômico. Ao contrário da ficção, os adversários estão vencendo. Há um ataque capitalista contra alguns dos grandes símbolos franceses. O pior é que, apesar dos gauleses tentarem, não há como resistir aos dólares ou petrodólares. Recentemente, o grupo americano Starwood Capital comprou o conglomerado que reúne a lendária champanhe Taittinger, a fabricante de cristais Baccarat e os hotéis Crillon, em Paris, e Martinez, em Cannes, por 2,1 bilhões de euros.

Para os franceses, afeitos à tradição, foi um golpe, como se o céu lhes caísse sob a cabeça. A champanhe, símbolo do savoir vivre, em mãos americanas? O hotel Crillon, pousado na Place de la Concorde, em um prédio construído a mando de Louis XV, sob o comando de um ianque? Essas, ao que parece, não são as únicas frustrações dos franceses no campo dos negócios. O hotel Plaza Athénée, um mito na arte de hospedar fundado em 1913, pertence ao grupo Dorchester. O seu dono? O Sultão de Brunei. Outros árabes pretendem seguir o mesmo caminho. Mal os americanos concluíram a compra do Crillon e do Martinez, as famílias reais da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes já mostraram interesse nos hotéis. Isso, sem falar na avalanche de cidadãos da América comprando imóveis em Paris, como segundo endereço. O tema é tão relevante que o jornal The New York Times dedicou uma reportagem especial apontando o fenômeno. Apesar dos franceses relutarem, será difícil conter a enxurrada de dólares que virá pela frente.