Os modelos de negócios de franquias são uma forma de padronização de processos para uma melhor gestão e controle de vários indicadores. Além de utilizar uma marca, um produto e um serviço que já deram certo e que não se precisa construir do zero. Mais do que isso, é também um formato de oportunidade de empreender de uma forma mais segura para quem está começando a trabalhar em algum segmento novo ou ainda está iniciando a carreira de empreendedor.

Em um balanço prévio de janeiro deste ano, a ABF (Associação Brasileira de Franquias) www.abf.com.br aponta um crescimento nominal em 2019 de receita de 6,9% em relação ao ano anterior. O que só reforça o importante movimento de crescimento do setor mesmo em época de saída da recessão econômica. A Associação coloca ainda que o impacto também se dá em relação aos indicadores de empregos diretos no setor, contribuindo com 4,8% de crescimento chegando a cerca de 1,34 milhões de empregados.

E as projeções de crescimento para 2020 são bem otimistas nesta retomada econômica no país. A Associação projeta o aumento de faturamento do setor de franquias em 8% e um crescimento de 6% de geração de empregos, além da internacionalização de marcas brasileiras, abrindo suas lojas, comércios, restaurantes e vendendo seus produtos e serviços no exterior.

Um bom exemplo prático deste crescimento e interesse neste setor é a feira de franquias Franchise4U (www.franchise4u.com.br/) que realiza o encontro entre interessados em abrir franquias – os futuros empreendedores – com empresas franqueadoras que oferecem as parcerias. Só neste começo de ano já realizou duas feiras, sendo que a primeira edição em São Paulo contou com dois dias de evento. Em 2019 encerraram o ano com 16 edições, com um crescimento de 150% em relação ao ano de 2018 e com participação de mais de 600 marcas desde seu início. Nesse período já gerou mais de 35 mil reuniões entre futuros franqueados com franqueadores, proporcionando resultados e oportunidades.

Quem não escutou que, nesta crise, algum amigo ou amiga em dificuldades pegou o dinheiro da rescisão ou vendeu o carro ou um terreno e investiu em uma franquia?  Nestes momentos incertos, nada melhor do que empreender numa marca já consolidada, com modelo financeiro montado e processos bem definidos. Sim, franquia é um modelo de negócio que pode ser muito rentável para franqueado e franqueador, se gerido obviamente com muito cuidado e dedicação. Sem esquecer que sempre, para qualquer negócio, haverá os impactos negativos sociais e ambientais.

Pensando nesses impactos sociais e ambientais, é fundamental utilizar os conceitos de Responsabilidade Socioambiental (RSA). Os dados da ABF exemplificaram esse impacto social positivo de crescimento de vagas para trabalho. Mais gente empregada significa mais famílias sendo sustentadas de maneira digna e legal, mais pessoas ajudando a girar a economia do país. Além dos muitos vários fornecedores destas franquias e franqueadores que também têm um crescimento e, assim, toda a cadeia começa a ser “alimentada” por este motor inicial.

Porém, muitas vezes num crescimento deste, dependendo do modelo de negócio, do fornecedor escolhido ou do processo desenhado, o franqueado estará multiplicando o impacto negativo do negócio. Por exemplo, se uma franquia compra um produto em escala que prejudica as pessoas ou o meio ambiente, isso será distribuído ou indicado para todas as outras unidades. E o impacto negativo será multiplicado pela quantidade de franqueados da marca.

Uma forma bem prática de ilustrar são os canudinhos, os quais algumas franquias da área de alimentação diminuíram o consumo ou substituíram por canudos de algum material que se degradam mais rápido do que o plástico.

Em contrapartida, existem franquias que contratam pessoas de baixa renda ou menores aprendizes, e esse procedimento faz parte do processo do manual da franqueadora. Algumas dessas franquias já nascem com a consciência ambiental e social, que gosto de chamar empresa RSA 4.0. São as que já fazem um impacto positivo, como as de orgânicos, empresas que vendem produtos lixo zero, ou que lavam o carro somente com meio copo de água ou nenhuma água, por exemplo.

Mas sabemos que o pensamento financeiro do lucro a curto prazo e a qualquer preço, sem muito pensar nos impactos sociais e ambientais ainda é o que reina no mercado. Não que vamos parar de pensar desta maneira de uma hora para outra, mas que precisamos agregar e prestar atenção também nos impactos sociais e ambientais em cada processo que temos. Principalmente as franqueadoras que podem, exponencialmente, agredir mais o meio ambiente, a saúde, a qualidade de vida e excluir mais as pessoas da sociedade.

Pensar somente em crescer e multiplicar muitos organismos que afetem os outros e o planeta não é uma ideia muito boa. Vide as várias doenças que tentam ser controladas o tempo todo.

Espero que os líderes, pensadores e influenciadores do mercado de franquia – e aqueles que entraram e queiram entrar – entendam o poderio que possuem de pulverizar processos, negócios, marcas, produtos e serviços. E que usem este grande talento dos seus negócios de propagação para melhorar e minimizar os impactos sociais e ambientais. E, quem sabe, ser um organismo de regeneração. Temos que mudar os paradigmas dos negócios e as franquias são fundamentais para esta promoção de conceitos e atitudes mais sustentáveis e de regeneração.

 

* Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro da Abraps; e palestrante. É autor dos livros “Marketing para Ambientes Disruptivos” e “101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo” (Prêmio Jabuti 2019).

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