06/06/2007 - 7:00
US$11,5 bilhões foi o faturamento conjunto de Friboi e Swift em 2006. Juntas, as duas empresas vão abater 47,1 mil bovinos por dia
Foram semanas de suspense para saber quem levaria a Swift, terceira maior empresa de carnes do mundo. Tanto as americanas Tyson como Cargill estavam no páreo, mas no final um azarão levou o prêmio. Na semana passada, a brasileira JBSFriboi, maior empresa de carne da América Latina, comprou a centenária Swift por US$ 1,4 bilhão. À venda desde 2006, a expectativa era de uma solução caseira no desfecho do destino da companhia, imersa em dívidas. A chegada da brasileira surpreendeu. Afinal, juntas, Swift e Friboi criam a maior empresa de carnes do mundo, com capacidade de abate de 47,1 mil bovinos por dia, o que tira o posto da Tyson, cuja capacidade é de 32,6 mil animais por dia. Entraram na operação oito unidades de abate nos Estados Unidos e quatro na Austrália. Com a aquisição, a empresa brasileira amplia 23 unidades entre Brasil e Argentina para 35 plantas de abate. Junto com os ativos físicos, a empresa passa também a ser dona de uma marca mundial no mercado de carnes. “Seremos agora uma companhia global”, diz Joesley Mendonça Batista, presidente da JBS-Friboi.
Ao comprar a Swift, a gigante brasileira da proteína animal, que nasceu como açougue e se transformou na maior exportadora de carnes do País, adquire um símbolo da pecuária americana e uma empresa atolada em dívidas. Hoje, o endividamento do frigorífico americano é de US$ 1,163 bilhão, cinco vezes maior que seu Ebtida (o lucro antes de impostos, amortizações e depreciações). “O problema não é uma dívida alta, mas o faturamento baixo”, diz Joesley. Junto com os irmãos Wesley e José Batista Júnior, ex-presidente do Friboi e agora no conselho da companhia, Joesley deverá implementar o receituário de custos baixos e alta produtividade. Foi assim que a empresa cresceu no Brasil: comprando frigoríficos quebrados e ajustando sua produção.
Apenas em 2004 o grupo comprou nada menos que sete unidades em diversos Estados brasileiros. No ano seguinte, foi dado início ao processo de internacionalização. E, no começo de 2007, o Friboi abriu seu capital e lançou ações na Bovespa. A captação em bolsa deu o fôlego inicial para a compra da Swift, com o pagamento imediato de US$ 400 milhões. “No momento, o grupo não tem condições financeiras para adquirir essa empresa”, revela Joesley. Por isso, a empresa planeja nos próximos 30 dias emitir US$ 600 milhões no mercado americano, operação a ser liderada pelo JP Morgan. “Mas era uma oportunidade imperdível”, diz o executivo goiano de fala mansa. O mercado também achou isso. Nos três pregões seguintes à operação, as ações do Friboi acumularam alta de 10,8%.
Somos agora uma empresa global e vamos imprimir nossa cultura de custos baixos na Swift americana”
Joselet Mendonça Batista: presidente da JBS-Friboi
A compra da Swift também significa escancarar as portas do mercado americano para os produtos brasileiros da Friboi. Os EUA, maiores consumidores de carne bovina no planeta, impõem barreiras sanitárias à carne in natura do Brasil, em função de recentes focos de aftosa no Brasil. Hoje, as empresas nacionais exportam apenas a carne cozida. “A aquisição poderá abrir mercados para a pecuária brasileira, uma vez que o Friboi deve utilizar os canais de distribuição da Swift para vender a carne brasileira”, diz José Vicente, diretor- técnico do Instituto FNP. Quem não gostou da notícia foram os criadores dos EUA. A R-Calf USA, uma das principais associações de pecuaristas americanos, já avisou que vai tomar providências caso o Friboi utilize a plataforma da Swift nos EUA para dar passagem à produção do Brasil. E, dessa forma, deixe de comprar matériaprima americana. “Não vamos decidir localmente. Faremos o que for melhor para o grupo como um todo”, diz Joesley. Os americanos que se preparem para o estilo Friboi de fazer o bife.