O economista e ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga fechou o maior negócio de sua vida na semana passada. Depois de seis meses de negociação, Fraga tornou-se sócio do J.P. Morgan Chase, nome que é um sinônimo de banco e um dos ícones do capitalismo americano. O valor potencial do negócio é de US$ 1 bilhão. Porém, para receber essa montanha de dólares, Fraga e seus sócios terão de ter um pouco de paciência. O que fez as negociações demorarem foi a definição do tempo de permanência de Fraga à frente da Gávea. 

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Armínio Fraga, ex-presidente do BC e controlador da Gávea

 

Quem se dedica a preparar listas de candidatos a ministro ou a presidente do BC levou uma ducha de água fria. Para colocar seu bilhão no bolso, Fraga e seus sócios terão de ficar na gaiola de ouro da Gávea por pelo menos mais cinco anos. O pagamento do restante do dinheiro está vinculado a essa continuidade e ao cumprimento de metas de desempenho para a empresa.

A aquisição de 55% do controle da Gávea rendeu US$ 270 milhões imediatamente a Fraga e a seus sócios. O restante será pago em duas parcelas, uma em 2013 e outra em 2015. A compra foi realizada por meio de uma empresa de gestão de recursos controlada pelo Morgan, a Highbridge Capital Management, que foi adquirida pelo Morgan em 2004 por US$ 1,3 bilhão. 

A estrutura da aquisição da Highbridge foi parecida com a montada para a Gávea: o Morgan comprou 55% do controle e condicionou a compra do restante à permanência dos fundadores. Uma garantia exigida pelos americanos contra a tentação do canto das sereias de Brasília? 

Falando à DINHEIRO, o ex-presidente do BC foi lacônico, mas enfático. “Estamos todos muito motivados e o meu compromisso e o dos sócios é com a Gávea e seus novos controladores”, diz ele. E se surgir um convite? Em 2006, Fraga chegou a ser cogitado por lideranças políticas cariocas para disputar o governo do Rio de Janeiro como uma plataforma para vôos mais altos – e abortou a ideia no nascedouro. O mesmo ocorre agora. 

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“Não existem essas conversas, não sou candidato a nada”, diz. Discreto, Fraga sequer confirma os termos da negociação, mas quem conhece os meandros do mercado financeiro sabe que essas cláusulas de permanência são uma praxe. “Sem elas, há um grande risco de quem foi comprado colocar o dinheiro no bolso e perder o comprometimento com o negócio”, diz um banqueiro de investimentos. E em negócios como o Gávea, o valor está longe relativamente espartano escritório no Leblon, zona Sul do Rio de Janeiro: o que os americanos do J.P. Morgan compraram foram a competência e a rede de contatos de Fraga, cuidadosamente construídas desde sua saída do BC, em 2002.

Quando deixou Brasília, Fraga era considerado um presidente do BC extremamente competente. Seus anos de experiência com o megainvestidor húngaro naturalizado americano George Soros fizeram dele um operador de mercado que soube conduzir a transição de um regime de câmbio fixo para a flutuação de hoje sem cair nas armadilhas da especulação. Depois disso, o caminho natural de Fraga seria administrar seu vasto patrimônio pessoal ou então partir para o bem-remunerado circuito das palestras. No entanto, ele lançou uma bem-sucedida empresa de gestão de recursos em 2003 e, poucos anos depois, iniciou uma atuação agressiva como investidor de fundos de private equity. 

Hoje, a Gávea é uma das maiores administradoras independentes de fundos do Brasil, com um patrimônio total de US$ 6 bilhões sob gestão. Seus fundos de private equity diferenciam-se da concorrência por concordarem em adquirir participações minoritárias, normalmente entre 15% e 30% da empresa. A estratégia é clássica: comprar fatias de empresas fechadas com grandes perspectivas de crescimento para revende-las posteriormente com lucro. A Gávea coleciou alguns grandes sucessos, como a compra de fatias da Cosan, da rede de farmácias Droga Raia e da administradora de shopping centers Aliansce, mas também teve seus tropeços. 

O mais rumoroso foi a injeção de US$ 120 milhões na empresa aérea BRA em 2008. A empresa deixaria de operar poucos meses mais tarde, devido principalmente a problemas com o controlador Walter Folegatti, que recebeu o dinheiro, mas não profissionalizou a gestão. Apesar deles, a associação com o J.P. Morgan deverá permitir que o Gávea amplie sua atuação e passe a prospectar e a fechar negócios com uma abrangência internacional, uma liberdade de atuação que compensa largamente a permanência entre as grades douradas da gaiola.