MILIONÁRIOS DE VÁRIOS países perderam fortunas em dezembro passado, quando o gestor de investimentos Bernard Madoff quebrou e revelou uma fraude de até US$ 50 bilhões. Os bancos que distribuíram os fundos do americano aos clientes exclusivos de private banks não souberam explicar como caíram nessa armadilha. Ninguém sentiu mais o golpe do que o banqueiro Emilio Botín, presidente do Santander. Obcecado pelo foco no cliente e pelo controle de riscos, o espanhol ficou furioso ao descobrir que seus controles falharam e seus investidores mais ricos perderam ? 2,3 bilhões com a picaretagem de Madoff, por meio do fundo Optimal Strategic US Equity Fund. Muitos milionários inconformados com os prejuízos entraram com processos na Justiça americana e espanhola contra o Santander. Botín não se fez de rogado e assumiu logo a responsabilidade. Na terça-feira 27, propôs um acordo de ? 1,38 bilhão aos investidores lesados e abriu um precedente importante: agora, seus concorrentes terão de fazer o mesmo.

A proposta do Santander não abrange os investidores institucionais, apenas as pessoas físicas do private bank. A ideia é oferecer ações preferenciais do banco em troca das cotas do Optimal Strategic US Equity Fund. As ações pagarão dividendos fixos de 2% ao ano e o Santander tem a opção de recomprá-las em dez anos. Na ponta do lápis, o custo estimado da operação para Botín é de ? 500 milhões, já provisionados no balanço de 2008, pois os bons ativos remanescentes do fundo serão vendidos. Quem aceitar a troca deve se comprometer a não processar a instituição. “Achamos que é uma boa proposta”, afirmou em Madri José Antonio Alvarez, diretor financeiro do Santander. A imagem do banco, chamuscada pelo episódio, deve melhorar após a proposta, avaliam especialistas. “Com esse passo, o Santander mostrou que realmente se importa”, disse Bernhard Bauhofer, sócio da consultoria de reputação suíça Sparring Partners.

Os clientes lesados é que darão o veredito final. Se mantiverem a confiança e seus investimentos no Santander, Botín terá virado o jogo a seu favor. Por enquanto, a guerra de forças continua acirrada. O advogado espanhol Javier Cremades, que representa 1.800 investidores individuais e institucionais, quer mais. “Esta é uma vitória inicial, mas não é suficiente”, afirmou. Dinheiro não é problema. O Santander lucrou ? 8,9 bilhões em 2008, 9,4% a mais que em 2007.