André Gerdau Johannpeter, CEO do grupo Gerdau, passou boa parte da quinta-feira 4 apresentando aos analistas de mercado os resultados financeiros do primeiro semestre. No período, a receita líquida do grupo subiu 13% em relação a 2010 atingindo R$ 17,3 bilhões. A nota destoante, porém, foi o recuo de 36% no lucro líquido, para R$ 912 milhões. O descompasso entre a movimentação da receita e o resultado final, mostram que existe algo de errado na estratégia operacional da empresa. O maior grupo siderúrgico das Américas, com cerca de 50 usinas espalhadas do Canadá à Argentina, com capacidade instalada de 25 milhões de toneladas de aço, não conseguiu impor seu preço aos clientes.

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Culpa, segundo sua direção, da combinação do elevado preço das matérias-primas, como minério, carvão e sucata, com o excesso de oferta de aço. “Melhoramos os resultados no segundo trimestre e devemos manter as margens nesses mesmos níveis ao longo do ano”, disse Johannpeter, em teleconferência.  Para tentar virar o jogo, a Gerdau pretende trilhar o caminho das rivais Usiminas e CSN, ingressando no segmento de aços planos, a partir de 2012. Hoje, seu portfólio se restringe aos aços longos, com produtos como vergalhões e arame, entre outros. Para colocar esse plano em ação, a Gerdau pretende investir R$ 10,8 bilhões, até 2015. A prioridade são as oportunidades existentes no mercado local. Na lista de projetos se destacam a melhoria da infraestrutura das cerca de 15 usinas situadas no País e a autossuficiência de matérias-primas.

Desse montante, quase 80% serão gastos no Brasil. Até o final do ano, as quatro  minas que a companhia possui em Minas Gerais deverão atender a 75% das necessidades de ferro  de sua controlada Açominas. Esta será a responsável por colocar a Gerdau nos nichos de chapas de aço. “Com isso, o grupo poderá vender também bobina laminada a quente para a fabricação de eletrodomésticos e ampliar o fornecimento de itens à indústria automotiva”, diz o analista Rafael Weber, especialista em siderurgia, da corretora Geração Futuro. Trata-se de itens cujo consumo deverá permanecer em alta nos próximos anos. No segmento petrolífero, a aposta é nas chapas grossas, usadas na construção de navios. Isso não significa que a Gerdau deu como perdido o ano de 2011. Para melhorar sua margem de lucro, a empresa está agregando valor à cesta atual de produtos voltados à construção civil.  

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Estratégia: Johannpeter, CEO da Gerdau, diversifica o portfólio atual e aposta em aços planos para recuperar a margem de lucro

Um desses movimentos foi a instalação, em maio, da unidade de corte e dobra de vergalhão, em Pernambuco. A fábrica consumiu R$ 32 milhões e pode atender a 300 obras, simultaneamente. Com isso, foi ampliada a oferta de um tipo de insumo pronto para ser usado no canteiro de obras. Outro filão que a Gerdau pretende reforçar é o de aços especiais, como o inoxidável. Isso será feito com aportes adicionais de R$ 183 milhões nas usinas situadas em Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes, cidades do Vale do Paraíba, em São Paulo. Para as unidades já estavam previstos R$ 718 milhões. Após cerca de duas décadas reforçando sua posição na América do Norte e na América Latina, regiões que garantem cerca de 65% de suas receitas, a Gerdau pretende reforçar sua musculatura na Ásia. 

 A porta de entrada será a Índia, onde já possui uma operação em parceria com o Kalyani, um grupo local. Agora, Johannpeter pretende dinamizar os negócios, aplicando R$ 88 milhões em projetos que incluem uma linha de laminação de aço nessa unidade. Com isso, a usina poderá fornecer para o setor de construção e automotivo. Apesar do pequeno valor do desembolso, esse movimento é estratégico. De acordo com a World Steel Association, o consumo de aço na Índia deve crescer 13% neste ano, em relação a 2010, atingindo 69 milhões de toneladas. 

 

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