Pouca gente dá a devida atenção ao pneu do carro. A maioria dos motoristas só percebe sua presença quando ele fura, ou quando está completamente “careca”. Mas o que muita gente não sabe é que o pneu é um dos grandes responsáveis pelo aumento ou a redução do consumo de combustível. Estimativas da indústria de automóvel afirmam que um pneu bem calibrado oferece até 20% de economia na gasolina. Pensando nesse motorista mais despreocupado com a manutenção do carro, a americana Goodyear, uma das maiores fabricantes de pneus do mundo, desenvolveu um modelo que não perde o ar.

Ainda em fase de testes, o produto utiliza uma câmara de ar oculta e um sistema de válvulas para ajustar, automaticamente, a calibragem. Ainda não há data para o lançamento. “Não queremos ver nosso cliente pensando em pneu”, afirma James Euchner, vice-presidente de inovação da Goodyear. “É assim que vamos nos diferenciar da concorrência, em um mercado cada vez mais competitivo.” O pneu que não perde a calibragem é apenas uma das iniciativas inovadoras da empresa americana. A Goodyear vem intensificando seu trabalho na área de pesquisa.

Seu objetivo é criar alternativas mais rentáveis para o mercado de pneus, cujas margens estão cada vez mais pressionadas em virtude da alta competitividade no setor. Euchner, que está há três anos na companhia, explica que a estratégia é criar novos mercados e serviços, diversificando a atuação, mas sem tirar o pneu do centro das atenções. Entre essas novidades está um serviço de venda de pneus por assinatura. O dono do veículo, em vez de comprar um jogo quando precisar, paga uma taxa mensal, ficando a Goodyear responsável por sua manutenção. O serviço está em fase de testes. “Só com inovação é possível ampliar nossa competitividade e melhorar a rentabilidade”, afirma Jean Claude Kihn, presidente da Goodyear no Brasil.

Ainda que o mercado de pneus tenha apresentado um bom desempenho no Brasil em 2013, a preocupação com a rentabilidade se justifica. No ano passado, a produção de pneus no País aumentou 9,7%, alcançando o recorde de 68,8 milhões de unidades, segundo dados da Anip, entidade que representa as principais fabricantes do setor. Esse cenário de alta se inverteu em 2014. Nos primeiros seis meses do ano, a produção brasileira caiu 18%. A indústria sofre com a queda nas vendas de veículos. “Acompanhamos com temor as perspectivas de expansão das vendas da indústria automotiva, nosso principal cliente”, afirma Alberto Mayer, presidente-executivo da Anip.

Ao mesmo tempo, a Goodyear, vice-líder do mercado, com participação de 17%, atrás da italiana Pirelli, com 25%, ganhou um novo concorrente, a Dunlop, do grupo japonês Sumitomo, que inaugurou uma fábrica na região metropolitana de Curitiba, em outubro. O número de fábricas instaladas por aqui chegou a 20. Para compensar essa queda nas vendas, e manter a rentabilidade, a Goodyear também aposta em pneus de alto desempenho. “Os segmentos de alto valor apresentam crescimento melhor”, disse Richard J. Kramer, CEO mundial da companhia, ao divulgar os resultados do ano passado.

“Nossa estratégia é crescer em mercados nos quais nossa marca e nossos diferenciais de qualidade sejam reconhecidos.” O plano parece estar dando certo. Apesar de uma queda de 7% nas vendas em 2013, o lucro líquido da fabricante quase triplicou no período, passando de US$ 237 milhões para US$ 675 milhões. No Brasil, a mais recente novidade da Goodyear é um pneu para carros blindados. O País abriga a maior frota de blindados do mundo, com 120 mil veículos. O novo pneu da fabricante permite que o motorista rode até 80 km, a uma velocidade máxima de 80 km/h, mesmo se ele for dilacerado por um tiro. É uma estratégia, literalmente, à prova de furos.