02/11/2005 - 8:00
Van Klaveren: renovação do quadro de executivos e investimentos pesados em inovação
Uma antiga campanha publicitária perguntava aos proprietários de carros qual era o fabricante dos pneus de seus automóveis. Poucos sabiam. Se alguém voltar a fazer a pergunta, arrisque Petroflex. Não se trata de uma resposta precisa, mas não está inteiramente errada. A empresa, uma das pioneiras no setor químico brasileira, tornou-se a maior fabricante de borracha para pneus do mundo. Pirelli, Firestone, Michelin e Continental utilizam a matéria-prima da Petroflex ? só a Goodyear produz sua própria borracha no exterior e a traz para o Brasil. A indústria de pneus é a principal cliente da companhia química, pois representa 60% do volume da produção e 45% da receita líquida. A primeira posição no ranking global de ?borracheiros? foi conquistada no ano passado e é um dos principais frutos de uma profunda reviravolta nos negócios da companhia, iniciada em 2002. Na ocasião, seus controladores, Braskem, Suzano e Unipar, desenharam um plano de expansão de cinco anos. As metas eram ambiciosas. Primeira: engordar o portfólio com produtos de tecnologia mais avançada. Segundo: internacionalizar a operação. E, por fim, melhorar a produtividade da operação. ?Queríamos transformá-la em uma companhia classe mundial?, afirma Sérgio Van Klaveren, presidente da Petroflex.
Aos 50 anos, com um carreira construída em multinacionais como Souza Cruz, Coca-cola e Vulcan, Klaveren desembarcou na empresa com a missão de tirar o plano do papel. A partir daí, promoveu uma renovação no topo da pirâmide hierárquica da companhia. Dos 11 gerentes de primeira linha que ele encontrou ao chegar, apenas dois continuam trabalhando por lá. Os três diretores (de finanças, produção e vendas) ocupam seus postos há, no máximo, quatro anos. ?Precisávamos arejar a estrutura?, diz Klaveren. ?Queríamos implantar uma cultura de inovação e ampliar nosso portifólio de produtos de alto valor agregado.? Traduzindo: no mundo empresarial, valor agregado significa menos volume com margem de rentabilidade maior. O desafio era fazer essa migração sem perder a posição em produtos básicos, como a borracha para pneus. ?Não queríamos produzir menos destes para produzir mais daqueles?, afirma Klaveren.
Para isso, uma equipe de profissionais entrou em campo para analisar ponto a ponto do processo industrial. Desperdícios foram eliminados. As três fábricas tomaram um banho de modernização e receberam investimentos em ampliação. Desde 2002, a capacidade de produção saltou de 360 mil para 450 mil toneladas. Desse total, a borracha para pneus corresponde a 50%. O aumento de 90 mil toneladas custou à empresa US$ 64 milhões. Se fosse construir uma fábrica nova com essa capacidade, o desembolso subiria para US$ 100 milhões.
Com o parque industrial renovado, a Petroflex voltou suas atenções para o desenvolvimento de novos produtos. Hoje, a empresa reserva de 1,5% a 2% da receita líquida de R$ 1,3 bilhão para o item pesquisa e desenvolvimento. O número de pesquisadores pulou de 20, em 2002, para 70 atualmente ? 15 deles são doutores e mestres. Esses cientistas trabalham junto aos clientes para desenvolver novas aplicações da borracha produzida pela Petroflex. Hoje, as placas de componentes de produtos eletroeletrônicos são recobertas com borracha da Petroflex para evitar umidade. Antes, o material usado era uma espécie de verniz. Até mesmo em foguetes, a Petroflex está presente. Atualmente, a empresa tem 80 famílias de produtos, contra 22 de anos atrás.
Fábrica da Etroflex: o número de produtos saltou de 20 para 80 em três anos
Estavam dadas as condições para a mais ambicioso das tacadas da Petroflex: a internacionalização. ?Nossa intenção não era apenas exportar excedentes?, diz Klaveren. ?Queríamos ter uma presença física no exterior.? Por isso, desde 2002, a empresa abriu escritórios próprios em três países: Hong Kong, Holanda e Estados Unidos. Na Itália e na Venezuela, foram inaugurados centros de abastecimentos exclusivos da Petroflex. O passo mais importante virá até o final do primeiro semestre do próximo ano, quando a companhia erguerá uma unidade industrial fora do Brasil. ?A decisão já está tomada?, afirma Klaveren. Agora, o executivo está à caça de um parceiro internacional. ?Não queremos pagar o preço do aprendizado?, afirma ele. o local de instalação também está em estudos. As alternativas mais prováveis são os Estados Unidos ou algum país do Leste Europeu.
Um dos objetivos é manter proximidade dos mercados consumidores. Mas os acionistas também pensam em reduzir a dependência do tradicional vaivém da economia brasileira. Neste momento, por exemplo, o que mais preocupa Klaveren & cia é a taxa de câmbio. ?Só a queda do dólar comeu de 20% a 25% de nossa rentabilidade nas exportações?, queixa-se ele. não é pouco. Hoje, metade da produção da Petroflex tem o rumo do mercado externo.