12/01/2015 - 13:40
Quando a crise financeira estourou, em 2008, os protestos contra medidas de austeridade se tornaram frequentes em praticamente toda a Europa. Na Grécia, os efeitos foram tão extremos que se levantou a hipótese de o país deixar a zona do euro. Após o auge da turbulência em Atenas, uma nova frente de incertezas políticas ofusca agora a expectativa em relação à consistência do primeiro crescimento grego em cinco anos e faz ressurgir o risco de exclusão do bloco. De novo, o país volta ao centro das atenções e adiciona um tempero amargo para o Velho Continente, que luta para reverter o fantasma da deflação.
Syriza é o nome das preocupações atuais. O partido radical de esquerda conquistou apoio dos eleitores por lutar contra as medidas impopulares impostas pela Troika, formada por Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia, em troca do socorro de mais de € 300 bilhões. Exigências como o enxugamento da máquina pública aprofundaram a recessão e elevaram o desemprego. O Syriza é favorito no pleito presidencial que acontece no final de janeiro.
Para o grupo que costurou o socorro, liderado pela conservadora chanceler alemã Ângela Merkel, uma vitória do partido colocaria em xeque o cumprimento dos acordos, com o risco de contaminar outras economias em dificuldade, como as da Itália e de Portugal, empurrando-as na mesma direção. Uma reportagem recente da revista Der Spiegel sugeriu que a ideia de uma exclusão da Grécia da UE ganhou força na equipe de Merkel. A tese foi desmentida pelo governo alemão, mas permanece nas mesas de apostas.
“O distanciamento da zona do euro, especialmente dos bancos privados, em relação à dívida grega fará com que a união monetária resista à saída do país sem muito trauma”, afirma Vassilis Monastiriotis, da London School of Economics. Ainda assim, pode ser um movimento arriscado. “Seria um retrocesso da União Europeia”, afirma Elena Lazarou, professora da FGV que está em Atenas. A hipótese da saída da Grécia do bloco europeu foi suficiente para derrubar o euro ao menor patamar em nove anos.
A economia da região até hoje não se recuperou do tombo provocado pela crise, cenário que ficou ainda mais remoto com a divulgação da deflação de 0,2%, registrada em dezembro. O dado reforça a pressão para que o BCE adote uma nova rodada de estímulos. A eventual eleição do esquerdista Syriza não será apenas um presente de grego aos parceiros europeus. Poderá representar um revés também para a frágil economia do país, dependente principalmente do turismo, e que ensaia uma reação – a previsão é de crescimento de 0,6% em 2014 e de 2,9% neste ano.