Quando Elizabeth Taylor colocou seus famosos olhos violeta no ator Richard Burton (1925-1984), seu colega de elenco no filme Cleópatra, no início dos anos 60, muito provavelmente ela se encantou por ele. Mas o galanteio falou mais alto e, mesmo sabendo que suas chances eram boas (afinal, era um dos homens mais belos do cinema na época), Burton apelou para um dos aliados infalíveis na conquista de uma mulher: joias. Enquanto a famosa história de amor entre Cleópatra e Marco Antônio era rodada, em Roma, o romance entre os dois atores foi regado a muitos diamantes, esmeraldas e safiras da marca Bulgari, nos bastidores. 

 

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Brilho eterno: (em sentido anti-horário) Sofia Loren, Gina Lollobrigida (com um colar da grife de US$ 2 milhões) e Elizabeth Taylor

fizeram a fama da Bulgari entre as estrelas de Hollywood nas décadas de 60 e 70. A nova geração, representada aqui por

Scarlett Johansson, assume o papel de embaixadora informal da marca

 

A estratégia deu certo e levou a dois casamentos: o primeiro, que durou dez anos, de 1964 a 1974, e o segundo, mais fugaz, de 1975 a 1976. Parte dessa história, que se configurou num dos maiores escândalos de Hollywood – já que Elizabeth era casada com Eddie Fischer (1928-2010) –, é contada numa das salas da exposição 125 anos de magnificência italiana, em exibição no Grand Palais, em Paris, até 12 de janeiro.

 

O endereço suntuoso abriga 600 peças, de joias a objetos de decoração, em oito salas que contam a história da renomada joalheria italiana. Entre elas, algumas que Burton deu a Elizabeth e que ela usou em momentos cruciais de sua vida, como quando conheceu a rainha Elizabeth, e ao posar na piscina da sua casa em 1989 para o renomado fotógrafo Helmut Newton. “Não são peças significativas apenas para a atriz, mas para a história da Bulgari”, diz Amanda Triossi, diretora do acervo histórico da marca e curadora da mostra.   

 

Além de Elizabeth Taylor, outras divas do cinema usaram o brilho das joias da Bulgari para adorná-las em premiações ou em outros momentos especiais de suas vidas, como Sofia Loren, Gina Lollobrigida, Monica Vitti e Grace Kelly (1929-1982). E, provando que seu prestígio atravessou o tapete vermelho das gerações de estrelas, hoje, suas peças embelezam colos, pulsos, rostos e mãos das novas divas da telona, entre elas Nicole Kidman, Scarlett Johansson e Keira Knightley. 

 

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Tapete vermelho: Nicole Kidman escolheu um colar da Bulgari

para apresentar um dos prêmios do Oscar 2004  

 

Para comemorar essa memorável trajetória e a recuperação das vendas, em 2010, a marca resolveu estender a exposição, que ficou em cartaz em Roma, em 2009, a outros mercados. Depois de Paris, vai viajar para Hong Kong, Pequim e Xangai.

 

A exposição conta não só essa glamourosa história, mas também é uma verdadeira homenagem à arte da alta joalheria. As oito partes da mostra revelam a evolução do design das joias desde a primeira butique na Via Condotti, em Roma, inaugurada em 1884 por Sotirio Bulgari, filho de imigrantes gregos. 

 

O percurso começa com uma coleção de objetos de prata em estilo bizantino, criada no final do século XIX, pelo fundador. Também há um espaço para as criações dos anos 1920 e 1930, inspiradas pela art déco, e para o estilo francês dos anos 1940 e 1950. 

Não poderia deixar de ser celebrada a influência da pop art e do seu ícone máximo, Andy Warhol, que esteve presente nas coleções da década de 1970. Os desenhos mais inovadores surgem no ambiente dedicado aos anos 1980 e à década seguinte, quando nasce a joalheria prêt-à-porter. 

 

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Onde tudo começou: Sotirio Bulgari, o fundador da marca, à frente

da primeira Bulgari, em Roma, em 1884

 

Toda essa festa de aniversário e vasta publicidade fazem parte da estratégia que a marca adotou após as perdas durante a recessão econômica de 2008 e 2009. No primeiro ano da crise, o lucro líquido da Bulgari caiu 45%. No ano passado, o prejuízo foi de     47,1 milhões. 

 

Em 2010, a Bulgari conseguiu reverter parte da situação graças não só às novas medidas, mas também ao corte de custos e à procura de novos mercados, como a China. Hoje, a Bulgari faz cerca de  1 bilhão em vendas. 

 

Quase metade dos negócios vem das joias, o resto fica entre os relógios, perfumes, acessórios e dois hotéis, um em Milão e outro num penhasco à beira-mar, em Bali, Indonésia. 

 

“Estamos no caminho certo. Essa mistura de criatividade e disciplina continuará a ter efeitos positivos”, diz Francesco Trapani, CEO e bisneto do fundador. No total, são 52 empresas em 24 países, quatro mil funcionários e uma rede de distribuição de 268 lojas (duas em São Paulo), das quais 167 são próprias. 

 

Apesar dos números, a grife ainda é considerada um marca “pequena”. A líder do segmento, a Cartier, vende cerca de US$ 3 bilhões por ano e a Tiffany, US$ 2,7 bilhões. No entanto, seu potencial de crescimento pode torná-la alvo de aquisição. 

 

Um dos nomes de empresas mais citados nessa corrida é o da Swatch. Mas Trapani não se cansa de negar. Ele tem planos para uma expansão e, como seus confrades da indústria de joias, quer acelerar os negócios na China. 

 

É um dos mercados que mais crescem no planeta e ajudou a elevar as vendas da Bulgari em cerca de 25%, no terceiro trimestre deste ano. A marca já tem 20 lojas no território chinês, mais 15 em Hong Kong, Macau e Taiwan. Mas quer conquistar mais. Lá, afinal, a fábrica de sonhos de Hollywood, com suas divas e diamantes, continua conquistando corações e mentes.