17/01/2017 - 18:21
No terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, inaugurado há pouco mais de dois anos, às vésperas da Copa do Mundo, uma área envidraçada no setor de embarque chama a atenção pelo ambiente de sofisticação e conforto. É ali que ficam as salas VIPs para viajantes fiéis de companhias aéreas, passageiros de primeira classe ou business, além dos usuários de cartões de crédito voltados à alta renda. Dentre as opções, dois lounges se destacam, tanto pelas dimensões quanto pela decoração requintada.
O primeiro, o da Star Alliance, a maior aliança de empresas áreas do mundo, com 28 companhias e receitas de US$ 173,9 milhões no ano passado. O segundo, o da Latam, a maior companhia aérea da América Latina, resultado da fusão entre a brasileira TAM e a chilena LAN, e que faz parte da aliança rival Oneworld, que faturou US$ 130,9 milhões em 2015 – ambas recebem das companhias aéreas uma parte do preço das passagens mais caras e uma verba anual paga pelos associados.
Nesses cobiçados espaços exclusivos, o viajante tem acesso a áreas de descanso com cadeiras modernas e confortáveis, duchas, comidinhas apetitosas, som ambiente com música clássica e até mesmo um bom vinho francês para relaxar antes da viagem. A Star Alliance dá acesso a 1,1 mil locais como estes, enquanto a Oneworld estampa sua marca em outros 650 lounges. Por trás de tantos mimos, trava-se uma guerra entre as alianças e as suas companhias associadas para fidelizar o consumidor, especialmente aqueles capazes de influenciar na escolha da companhia aérea para as rentáveis viagens corporativas. E, com isso, evidentemente, atrair mais clientes para as suas parceiras.
Prova de que o Brasil está no radar das grandes alianças globais foi a recente visita, quase que sincronizada, de dois grandes executivos do setor no mundo: Rob Gurney, CEO da Oneworld, que combina 14 companhias aéreas – incluindo Latam, American Airlines, British Airways e Japan Airlines –, e Mark Schwab, da Star Alliance. Apesar de compartilharem funções e desafios similares, os CEOs estão vivendo momentos opostos na carreira. O australiano Gurney, ex-Qantas, assumiu em setembro a cadeira de principal executivo da Oneworld.
Já Schwab, americano do Minnesota, marcou para o fim deste ano a sua aposentadoria, depois de liderar por cinco anos a Star Alliance, que congrega United Airlines, Lufthansa, TAP e Avianca. Com isso, completa uma trajetória de quatro décadas no setor, iniciada em 1975, no Rio de Janeiro, na PanAm, depois de ter passado a sua infância no Brasil. Ambos visitaram o País, em dezembro, para anunciar planos de importância estratégica para as suas organizações. A Oneworld iniciou um esforço publicitário inédito no País, estimado em alguns milhões de dólares, que pode ser visto em mídia impressa, tevê fechada, internet e nos aeroportos.
“O Brasil é o primeiro mercado em que investimos com força, nos últimos cinco anos, em uma campanha própria”, diz Gurney. Já Schwab voltou ao Rio de Janeiro para divulgar a abertura do lounge que é apenas o sexto de propriedade da StarAlliance em todo mundo. Instalado no aeroporto internacional Rio-Galeão, foi construído e será administrado pela empresa de Hong Kong especializada em hospitalidade em aeroportos Plaza Premium Lounge. Em 2015, tinha sido a vez do novo terminal do aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, receber um lounge da aliança. Com isso, um terço dos espaços da rede estão no Brasil.
Eles se conectam à rede de lounges exclusivos presentes também em Los Angeles, Paris e Buenos Aires, e a outros administrados e compartilhados por empresas aéreas que fazem parte da rede. “A abertura desses lounges é uma questão de oportunidade, possível só quando há espaço vago ou expansão de aeroporto”, diz. Pode parecer estranho e até improvável que essa movimentação das duas grandes alianças aconteça durante um momento de grave crise econômica no País. “Venho ao Brasil há 60 anos e essa parece ser a crise mais difícil que vi aqui”, diz Schwab. “O mercado aéreo brasileiro tem passado por um momento difícil, mas não tenho dúvidas de que vai voltar a crescer.”
Até por essa expectativa, ninguém quer perder espaço. Afinal, trata-se do quarto maior mercado de voos domésticos do mundo e do 10º em internacionais. E, por trás das estratégias das duas alianças, está um fato que mudou o setor. Como parte da unificação da Latam, a maior empresa aérea brasileira passou, em 2014, da Star Alliance para a Oneworld, que já tinha a LAN em suas fileiras. Com isso, a maior aliança global deixou de ser a maior do mercado brasileiro. Isso justifica o investimento da Oneworld em sua marca. “A Star Alliance é mais conhecida no Brasil”, diz Gurney. Uma realidade que pretende mudar.
Já a Star Alliance, para não ficar muito atrás – já que historicamente possuía a maior aérea local do seu lado, foi assim com a Varig e depois com a TAM – apostou numa estrela ascendente: a Avianca Brasil, que cresce ao ritmo de 15% ao ano. A escolha foi natural, uma vez que a sua empresa irmã, a Avianca International, já fazia parte da Star Alliance. A entrada aconteceu em 2015. “Nos estruturamos o suficiente para entrar numa aliança, e isso vai nos ajudar a nos conectar com o resto do mundo”, diz Frederico Pedreira, CEO da Avianca Brasil. Com isso, a Star Alliance perdeu porte, mas ganha em capacidade de expansão – e os seus lounges em São Paulo e no Rio servem como chamariz para os viajantes. Vale tudo para atrair a atenção.