26/03/2008 - 7:00

“AQUELE QUE CONHECE o inimigo e a si mesmo lutará 100 batalhas sem perigo de derrota; o que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, tem metade das chances de vencer; já aquele que não conhece nem o inimigo nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas.? A frase é do mestre chinês da estratégia, Sun Tzu. Seu livro A Arte da Guerra, cujos manuscritos foram feitos aproximadamente em VI a.C., continua nas estantes dos comandantes e generais e, cada vez mais, nas mesas dos executivos. Na atual selva da concorrência, apelar para doutrinas militares pode ser uma saída para manter sua empresa na dianteira e conquistar novos terrenos. Que tal aprender com Alexandre, o Grande e Napoleão as táticas para proteger sua empresa do inimigo?
A aceleração da economia, o aumento do poder de compra do mercado interno e a avalanche de investimentos estrangeiros injetaram bilhões em inúmeras companhias brasileiras. Isso significa que seus concorrentes estão capitalizados e com musculatura para brigar. E nesse labirinto financeiro que engole os perdedores há muito espaço para estratégias de combate. A Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) notou essa demanda por parte dos executivos e criou um curso de pós-graduação ministrado por generais do Exército. Chamado de Estratégia Militar para Empresários, o curso começou em março é a primeira pós do País com esse enfoque. Oferece desde aulas de Sociologia, ministradas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, até lições de proteção contra espionagem. Inclui, ainda, uma viagem à Amazônia. ?Isso despertará nos alunos o espírito aventureiro e o instinto de sobrevivência, essenciais no mundo dos negócios?, explica o general Antônio Burgos, ministro do Supremo Tribunal Militar e coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Faap.
Apesar da experiência inusitada na selva, o objetivo principal é preparar os jovens executivos para comandar empresas globais ou que estejam iniciando seu processo de internacionalização. ?O grande desafio para eles é conhecer bem o território onde irão chegar, os costumes, a cultura, o mercado, para poderem utilizar esses fatores a seu favor?, conta o general, citando o exemplo de Alexandre, o Grande, que respeitava e mantinha a cultura dos povos conquistados. E foi esse enfoque de internacionalização que levou o empresário paulistano Rafael Possik a se inscrever no curso. ?As escolas hoje não ensinam a pensar e a estratégia militar, assim como um jogo de xadrez, consegue isso?, aponta. Para Possik, a maior contribuição que os discípulos de Sun Tzu podem dar está longe da arte da luta.? Na estratégia militar, os problemas não são tratados isoladamente. Aprendemos a detectá-los na matriz, na estrutura?, diz.
Esse tipo de visão estratégica não é o aprendizado mais indicado para profissionais em início de carreira. ?Leva tempo para que uma empresa comece a cobrar de um jovem profissional uma posição de estrategista?, afirma Luiz Wever, sócio da consultoria Ray & Berndtson. No tempo certo, há muitas coisas dentro da estrutura hierárquica militar que podem ser utilizadas na gestão de negócios e no posicionamento de liderança de um gestor. ?Só não vale pular etapas e esquecer de aprimorar a técnica. Pois é justamente ela que faz um profissional chegar ao posto de estrategista?, conclui.
