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RETRATO DA DESTRUIÇÃO: ataques fecharam túneis por onde chegavam comida e combustíveis

 

A OFENSIVA MILITAR ISRAELENSE no território palestino de Gaza, que já matou mais de 700 civis nas duas últimas semanas, surpreendeu o mundo pela intensidade e lançou no ar uma dúvida: Até que ponto a tensão no Oriente Médio irá afetar uma economia global já combalida pela recessão? O primeiro resultado foi a disparada no preço do petróleo, no início da semana passada, quando o Irã aventou a possibilidade de cortar a distribuição a países que apoiam Israel. Isso fez as cotações subirem 12% na segunda-feira 5. ?O petróleo pode servir como um fator poderoso para pressionar os Estados Unidos e os países europeus que apoiam o governo sionista a não interferirem diretamente no conflito?, explica o historiador Peter Demant, professor de relações internacionais da USP. A cotação do barril, que desde dezembro oscilava na casa dos US$ 40, passou dos US$ 50 ? mais por conta da especulação do setor do que pela materialidade da proposta iraniana. A resposta veio do maior produtor da região. ?O petróleo não é uma arma?, atacou o chanceler saudita Saud al- Faisal. ?E ele não servirá para reverter o conflito atual.? Dias depois, a cotação recuou cerca de 10%, quando notícias sobre a fragilidade da economia mundial e o alto volume de estoques de petróleo pesaram mais do que o conflito em si.

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O fato é que uma crise como a de 1973, quando um conflito no Oriente Médio deflagrou o primeiro choque do petróleo, tem pouca probabilidade de se repetir. ?A Palestina não é o Irã?, afirma Walter de Vitto, analista de petróleo da consultoria Tendências. No auge da guerra árabe-israelense, há 36 anos, os países árabes impuseram um embargo nas vendas de petróleo aos que apoiaram Israel, incluindo os Estados Unidos e o Japão. A iniciativa quadruplicou o preço do barril para US$ 12 ? a preços de hoje, mais de US$ 100. A bem da verdade, a maior contribuição para a oscilação no preço do petróleo na semana passada veio de outro conflito geopolítico. Acusando a Ucrânia de desviar os dutos de gás natural que passam por seu território e abastecem 25% da Europa, a Rússia cortou totalmente o fornecimento do combustível na quarta-feira 7. As rusgas vêm desde a guerra travada pelos russos contra a Geórgia, que também fez os preços dispararem em agosto do ano passado, quando o barril ultrapassou os US$ 120. À época, a Ucrânia ficou do lado dos georgianos, contrariando os interesses do Kremlin.

Mas nem o risco de desabastecimento foi suficiente para manter a alta. No mesmo dia em que a Rússia cortou o fornecimento de gás natural pela Ucrânia e israelenses e palestinos começaram a negociar um cessar-fogo, o barril do petróleo recuou para menos de US$ 45. Os dados recentes da economia americana ajudaram: o Departamento de Energia americano informou que os estoques do país aumentaram três vezes mais do que os analistas esperavam, e o desemprego em dezembro chegou a 7%. Para completar, o Federal Reserve indicou que uma melhora moderada na economia só será percebida em 2010.

Os custos da ofensiva militar a Gaza acabam recaindo única e exclusivamente sobre os seus envolvidos. Cálculos iniciais do Ministério das Finanças de Israel indicam que o conflito pode triplicar o déficit nos cofres públicos, chegando a 5% do PIB em 2009. Os custos da guerra em si, se continuar por mais duas semanas, podem superar os US$ 2,8 bilhões, afetando ainda mais o país que vinha crescendo ao menos 5% ao ano. Do lado palestino a situação é mais grave. Com 1,5 milhão de habitantes, 70% vivendo abaixo da linha da pobreza, Gaza vinha driblando o cerco físico instaurado por Israel com a ajuda de túneis na fronteira com o Egito. Por eles chegavam comida, combustível e equipamentos básicos para a sobrevivência. Foram os primeiros alvos dos bombardeios israelenses.