26/09/2012 - 21:00
A trama é digna de novela. Às vésperas de completar 50 anos, o dentista carioca Milton Rezende Duarte descobre que o homem que aparecia em sua certidão como pai, morto há 15 anos, não era seu pai biológico. Na verdade, ele e seu irmão Nelson, que sofre de problemas mentais, são filhos de um milionário. A história, apesar dos traços de ficção, é real e envolve o espólio da tradicional H.Stern, dona de um faturamento estimado em R$ 400 milhões. A novela começou pouco depois da morte de Hans Stern, o fundador da companhia, em 2007. Ao saber do falecimento, a mãe de Milton, Adeiza, resolveu contar a verdade para Nelson.
Ele e seu irmão são frutos de um caso que Adeiza teve com o alemão Stern, mais conhecido como senhor Hans por seus funcionários, no começo da década de 1950. Na época, ela era casada com Milton Duarte, que assumiu a paternidade dos meninos acreditando serem seus filhos. Um exame de DNA, feito a pedido de Milton e Nelson, comprovou que Adeiza falara a verdade. Com isso, os dois irmãos esperam a Justiça do Rio de Janeiro reconhecer que eles são filhos do fundador da H.Stern. O imbróglio emperrou a sucessão na empresa. Isso por que o inventário de Stern está parado.
Diante da possibilidade de ter de incluir novos beneficiários, os herdeiros Roberto, Ricardo, Ronaldo e Rafael Stern decidiram não dar continuidade ao processo. Com isso, eles ficam impedidos de realizar qualquer transação com os bens herdados, inclusive vender a joalheria. Milton e Nelson já teriam rejeitado uma proposta de acordo que envolvia um apartamento no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, e uma pensão vitalícia superior a R$ 6 mil. Os irmãos Duarte, no entanto, não devem chegar a um final feliz facilmente. Capitaneados pelo primogênito Roberto, que hoje comanda a H.Stern, os filhos do casamento de Hans e Ruth Stern, uma união iniciada em 1958 e que só terminou com a morte do esposo, tentam impedir que Milton e Nelson sejam reconhecidos como herdeiros.
Eles alegam que nunca houve a formação de um vínculo afetivo entre Hans Stern e os irmãos Duarte. Os argumentos levam em consideração o fato de Milton e Nelson não serem órfãos. Na verdade, eles tiveram um relacionamento normal com o pai de criação. O advogado da família Stern, Sérgio Mannheimer, do escritório Andrade & Fichtner, não quis dar detalhes sobre o processo, que corre em segredo de Justiça. Mas, segundo Mannheimer, para o reconhecimento de um pai, em detrimento daquele que figura na certidão de nascimento, é preciso que tenha havido fraude ou erro. “O caso é emblemático para se discutir o que é um pai”, afirma.
“Um exame de sangue pode se sobrepor ao vínculo afetivo?” Isso não acontece, por exemplo, no caso de Maria Lidia, outra filha de Hans Stern fora do casamento. Ela foi reconhecida pelo empresário em vida, e está incluída no testamento. Os irmãos Duarte, por sua vez, alegam que nunca tiveram a chance de criar os tais vínculos afetivos. No último Carnaval, Milton, que mora na avenida Atlântica, um dos endereços mais caros do Rio de Janeiro, assumiu sua ligação com o clã dos Stern. Ele foi visto desfilando pelas ruas da zona sul da Cidade Maravilhosa fantasiado de Hans.